Tamanho da fonte

SOLTEIROS E SATISFEITOS

COLUNA | SAÚDE MENTALSOLTEIROS E SATISFEITOS
O grande poeta que me perdoe, mas é possível ser feliz sozinho

O casamento é muito bonito quando é o triunfo do amor. Quando este acontece, ganhamos em todas as esferas: como indivíduos, família e sociedade.
Tenho escrito extensivamente sobre os benefícios da comunhão, do convívio, sacrifício e tolerância, criando um acolchoado emocional de afeto em torno de nossa breve existência. Felizmente, a solteirice ou os divórcios não precisam ser sentenças para uma vida solitária. Neste artigo, compartilho um breve extrato das minhas impressões como psicoterapeuta.
Ser casado é infinitamente enriquecedor quando o matrimônio combina paixão com admiração e respeito, gratidão e companheirismo. Fora desse espectro, pode ser marcado por conflitos constantes, ressentimentos e uma interdependência doentia. Casamentos gravemente neuróticos, sustentados por uma fachada de competência pessoal, são frequentemente permeados por mentiras, traições, desprezo, guerras financeiras e silêncios emocionais que se tornam verdadeiras penitências. Aqueles que finalmente optam pela separação descobrem não haver solidão pior do que a de estar com quem se tornou indiferente. A ameaça do abandono é mais torturante do que lidar com alguns dias solitários. Há luz e vida longe da hipocrisia, da fachada de normalidade que esconde uma enorme tristeza e o pior, o autoabandono, esse suicídio martirioso que nada tem a ver com nosso ideal de felicidade.
Devemos aprender a nos separar dos anos desperdiçados, subexistindo sob a égide de uma família em frangalhos.
Estar sozinho é rejuvenescedor, abre caminho para uma jornada de autoconhecimento e autonomia. Ao abraçar essa fase, podemos revitalizar nossa vida social, estética e sexual. Dispomos de mais tempo para o lazer e o descanso. Contudo, os desafios persistem: a imaturidade pode levar à negligência da família, a superficialidade à solidão mesmo em novos círculos sociais, a futilidade às expectativas irreais para novos relacionamentos. Toda desorganização custará uma má gestão do próprio tempo e das finanças, não nos separamos nunca das responsabilidades. Este é o momento de correção e autocuidado abrangente. Cuidar de todas as saúdes. Nada de abrir a porta para fantasmas e inseguranças, nada de perseguir novos amores com desespero, se culpabilizar demais, se deixar cair em rotinas alienantes, só trabalhar ou se afogar no álcool e na hipersexualizaçâo. Nada de insônias persistentes ou imaginar um futuro sombrio, solitário.
A ajuda terapêutica pode ser muito valiosa nesse momento, refletir junto a um profissional para não nos polarizarmos na tristeza, no desespero ou na soberba – grandes inimigos do caminho rumo à estabilidade e amadurecimento.
Divorciar nos depara com a necessidade de cuidarmos de nós mesmos de forma inadiável e convenhamos, não dá para terceirizarmos a mais relevante de todas as buscas, nesse caminho sempre tortuoso que é a vida. Viver encerrado em um relacionamento ruim ou ficar só pensando obsessivamente em se restabelecer como casal é um grande desperdício de prioridades e novos encantos, sejam mares, culturas, habilidades, artes. Nunca somos, sempre estamos, a vida é fluida e grandiosa e o amor romântico uma de suas belezas, mas não a única.
Se soubermos nos separar sem nunca perder o sentido de cuidar de nossos filhos, de continuarmos a buscar por cuidado e amor, veremos o quanto é bom estarmos abertos e dispostos a novos encontros e conexões mais genuínas.

Sem publicações!

Publicações somente aos domingos

Publicações

Não encontramos resultados para sua busca.
Revista digital