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EM DEFESA DO AMOR

COLUNA | SAÚDE MENTALEM DEFESA DO AMOR
A era do “se ame acima de tudo” transformou os relacionamentos em batalhas de egos, no qual cada passo é calculado para maximizar os ganhos pessoais e minimizar perdas 

Observem como tem sido cada vez mais difícil estabelecer vínculos duradouros num mundo onde cada ego é uma estrela que necessita brilhar mais que as outras. As dificuldades brotam das profundezas da individualidade exacerbada, nas quais cada um se imagina precisando ser uma fortaleza impenetrável, cercados por muros de desconfiança e autossuficiência.

O amor, que digamos assim, já foi o cimento que unia os tijolos da sociedade, tornou-se um jogo de poder e interesses egoístas. A era do “eu por mim”, do “se ame acima de tudo”, transformou os relacionamentos em batalhas de egos, em que cada passo é calculado para maximizar os ganhos pessoais e minimizar perdas. O compromisso tornou-se nobre relíquia, substituído pela busca incessante por gratificação instantânea e satisfação individual. E como é lucrativo vender para pessoas infelizes.
Nas redes sociais, onde as máscaras virtuais ocultam a solidão e o desamparo, os relacionamentos florescem vibrantes e desvanecem silenciosamente, como miragens no deserto. O afeto reduzido a likes, em que a validação digital substitui a intimidade genuína. A vulnerabilidade e o medo transformaram o amor em uma transação fria, quase comercial, sobrevivendo para manter as aparências.
A pressão social para o sucesso pessoal a qualquer custo alimenta o caldo tóxico de competitividade o qual o amor é luxo reservado aos resilientes. A busca incessante por cifras e ostentações pessoais deixa pouco espaço para conexões profundas e significativas. O tempo e a atenção, preciosos combustíveis dos relacionamentos sólidos, é agora diluído em rotinas intermináveis de obrigações e compromissos.
A falta de comunicação e empatia transformaram os relacionamentos em campos minados, nos quais cada palavra é uma potencial arma de destruição emocional. O diálogo substituído por monólogos narcísicos, quando cada um busca apenas validar sua própria narrativa. A solidão, paradoxalmente, torna-se o preço a pagar pela liberdade, pois intimidade genuína requer coragem para baixar as defesas e se expor ao outro.
O amor verdadeiro resiste em meio ao caos, como flor rara. Requer paciência, dedicação e ousadia incomum para desafiar convenções sociais e se abrir para a possibilidade de se conectar verdadeiramente com outro ser humano. Para tanto, imprescindível tratarmos nossas falhas, feridas e perdas e resistirmos ao individualismo desenfreado, nos rebelarmos contra a superficialidade da era digital, dedicarmos firme oposição a essa glorificação do eu. Vai viver você com você? Ser feliz jantando só? Natal sem família e o orgulho em pé, até quando? Pular de uma relação a outra, se esconder na bebida, como as pessoas podem imaginar que isso seja menos carente?
Amar e ter gratidão pelo companheiro é algo digno de ser protegido a todo custo. E embora as marés da individualidade possam tentar arrastar a ideia de nos dedicarmos para longe, é a força do amor verdadeiro que nos mantém ancorados e resistentes às inquietações, tempestades e naufrágios da vida.

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