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CASAMENTO E FAMÍLIA

COLUNA | SAÚDE MENTALCASAMENTO E FAMÍLIA
Casar é para ter estrutura e apoio, mas também depende de darmos estrutura e apoio

Quando escrevi sobre os benefícios de estar sozinho, não imaginei que precisaria reforçar os de tentarmos viver juntos. Correndo o risco de estar me repetindo, o casamento não é uma composição feita para ser boa para um, e sim, boa para todos. Dar laços às pessoas, relacionar-se profundamente com outro e formar uma família faz parte do sonho de uma vida romântica, mas é mais do que isso. Quem consegue superar a queda da ilusão e desenvolver habilidades para a convivência ganha muito. Objetivos em comum, dividir espaço, supervisionar a educação dos filhos, aliar os desejos às diferenças, treinar na difícil arte de ceder.

A modernidade vive anunciando o fim dos casamentos, mas acredito que, enquanto pensarmos no plural e não no individual, e enquanto houver romance, haverá o desejo de união com o ser amado. Se o projeto individual de felicidade abrir espaço para abnegação, construiremos uma sociedade mais sólida. Falta aos mais jovens o entendimento de que não estarão felizes a maior parte do tempo. O projeto em comum precisa de forças para enfrentar as diferenças, manias, expectativas, ritmos, falta de grana, falta de jeito, falta de ânimo, falta de tesão. A família do outro deve ser respeitada, e a intimidade não dá direito a tudo. A rotina vai bater. Casar é para ter estrutura e apoio, mas também depende de darmos estrutura e apoio.

Não é para os que precisam de entusiasmo e excitação constantes, para os que exaltam variedades. Casamento é rotina e carinho, porque é uma vida feita de sutilezas. Sobrevive de pequenas gentilezas, cuidadas lembranças a dois. Não é um tratado sobre como fazer um homem feliz ou como ser uma mulher competente... é ter união suficiente, abdicar de si o suficiente, em prol de uma família. Por mais difícil que seja, e vai ser. Ceder e, quando achar que é demais, voltar a ceder. Por isso, precisa de um sentido maior. Insisto que só vale a pena se pudermos pausar nossas necessidades e desejos e valorizar o sacrifício do outro e aquilo que ele deixa de lado todos os dias para também estar ali trabalhando no projeto de convivência. E sim, é fundamental fechar a janela de distrações. Os vizinhos terão sempre uma grama maior, uma fachada mais vistosa, ou uma mentirinha melhor.

Apoio mútuo é mesmo uma grande instituição, e não colecionar ressentimentos fará brotar em nós uma pessoa melhor. Família é sempre difícil, mas é um conforto muito importante para as dificuldades da vida, e quando observo ou leio que as próximas gerações não terão irmãos, tios e primos, penso que o cenário deles será ainda mais difícil que o nosso. Afinal, ninguém constrói nada sozinho e seria um engodo imaginar que bens materiais, dinheiro ou liberdade geográfica nos trará o conforto do afeto.

Ranzinzas, narcisistas ou sistemáticos, somos carentes. Eu, tu, ele, nós, vós, eles. Mimadas, depressivas ou brutas, precisamos de carinho. Cada um no seu quadrado e seremos tristes, sem fé. Que possamos, então, cultivar os vínculos que sustentam o amor e a vida em conjunto.

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