A EPIDEMIA DE PÍLULAS
Todo avanço científico é memorável e nossa juventude grita pelo alívio de sintomas que levam nosso país a ter um dos mais altos níveis de ansiedade e depressão no mundo. Isso mesmo, mais altos do mundo. É paradoxal para uma cultura festiva e alegre, por isso em muitos lugares as famílias tratam os sintomas e queixas com descrédito. É delicada a questão da crescente medicalização da juventude. O que poderia ser um triunfo da medicina moderna, revelando sua capacidade de aliviar sofrimentos, transforma-se em um alerta perturbador: estamos substituindo o cuidado humano por comprimidos? A narrativa do “desequilíbrio químico” é sedutora. Promete soluções embaladas e rápidas, para problemas muito mais complexos do que um comprimido poderia controlar. Não consegue se concentrar? A ansiedade atrapalha o sono? Tem ficado avoado para o que não é prioridade? Se sente inseguro para abordagens sexuais? Quer controlar o ganho de peso sem fazer restrição de açúcares? O trabalho tem demandado mais do que tem conseguido desempenhar? Muitas vezes, medicar pode camuflar a questão mais importante. A juventude não está sendo ouvida e jovens precisam de acolhimento. Em um mundo que cobra produtividade e felicidade constantes, a escuta genuína tornou-se um artigo de luxo. Depressão, ansiedade e TDAH são termos cada vez mais familiares no vocabulário cotidiano. Poderíamos comemorar, mas, quantos desses diagnósticos vêm acompanhados de uma investigação cuidadosa sobre suas raízes? Quanto se fala da escola que oprime, da família que negligência ou dos traumas que gritam por atenção? Em vez disso, optamos por respostas instantâneas: um remédio para apaziguar o desconforto, um laudo para legitimar a pressa. Não devemos calar as dores e sim tentar compreendê-las. O problema está na banalização, na pressa em rotular e tratar sem entender. Uma juventude que aprende a engolir sua dor em cápsulas perde a oportunidade de aprender a enfrentá-la, de descobrir resiliência, de se conhecer. A ciência tem seu lugar indiscutível, e quando bem diagnosticado, o tratamento medicamentoso é uma bênção. E me desculpem ao afirmar: não é difícil diferenciar um bom profissional de medicina de outdoor: Eles têm nome reconhecido e KARINA YOUNAN Psicoterapeuta, mestre em ciências da saúde pela Famerp,mãe de artista e apaixonada pela vertente fenomenológica existencial @kayounan não vendem milagres. São criteriosos e responsáveis. Insisto: Silenciar não é tratar. Quando confundimos essas duas ações, perdemos de vista o humano por trás do diagnóstico. A escuta ativa, o vínculo afetivo e o olhar contextual são instrumentos valiosos. No entanto, parecem ter sido relegados a segundo plano em uma sociedade impaciente. Escolas pressionam por soluções rápidas, famílias encontram alívio em respostas simplificadas e profissionais, sobrecarregados, seguem protocolos que nem sempre priorizam o sujeito. O sofrimento humano merece mais do que fórmulas prontas; merece presença, escuta, humanidade. A psiquiatria e a psicologia caminham juntas, mas não podem ser confundidas. A primeira oferece ferramentas químicas; a segunda, caminhos de compreensão. Ambas, quando integradas, têm o potencial de transformar vidas. Separadas, deixam lacunas que comprimidos não preenchem.