Como profissional de saúde, nutróloga e cardiologista, já tratei de muitos casos de vários de transtornos alimentares. Esses transtornos são condições psiquiátricas graves que atingem milhões de pessoas no mundo todo, independentemente de idade, gênero ou origem socioeconômica e incluem, entre outros, a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.

A anorexia nervosa é caracterizada por uma restrição extrema da ingestão de alimentos, levando a uma perda de peso significativa e uma distorção da imagem corporal. Pessoas com anorexia veem frequentemente a si mesmas como acima do peso, mesmo quando estão muito magras. A bulimia nervosa, por outro lado, envolve episódios de compulsão alimentar seguidos por comportamentos compensatórios inadequados, como vômitos autoinduzidos, uso excessivo de laxantes e diuréticos ou exercícios físicos exagerados, na tentativa de evitar o ganho de peso.

Ambos os transtornos têm consequências físicas e psicológicas graves. A desnutrição severa resultante da anorexia pode levar a uma série de complicações médicas, incluindo anemia, fraqueza muscular, perda de densidade óssea e problemas gastrointestinais. A bulimia, devido aos episódios de vômito frequente, pode causar desequilíbrios eletrolíticos, danos ao esôfago, cáries dentárias e inchaço das glândulas salivares.

No entanto, uma das complicações mais graves associadas a esses transtornos é o impacto no coração. A desnutrição e os desequilíbrios eletrolíticos podem resultar em insuficiência cardíaca, uma condição na qual o coração é incapaz de bombear sangue de maneira eficiente. Na anorexia nervosa, a perda severa de peso e a falta de nutrientes essenciais levam a insuficiência do músculo cardíaco, aumentando o risco de arritmias (batimentos cardíacos irregulares) e bradicardia (diminuição da frequência cardíaca), que podem ser fatais.

A bulimia, com seus ciclos de compulsão e purgação, também coloca o coração em risco. A prática de vômito autoinduzido pode causar hipocalemia, uma condição caracterizada por baixos níveis de potássio no sangue. O potássio é crucial para a função normal do coração, e sua deficiência pode levar a arritmias graves e até parada cardíaca. Além disso, o uso abusivo de laxantes e diuréticos pode agravar esses desequilíbrios eletrolíticos, colocando ainda mais risco sobre o sistema cardiovascular.

Estudos mostram que pessoas com anorexia nervosa têm uma taxa de mortalidade significativamente mais alta em comparação com a população geral, muitas vezes devido a complicações cardíacas. A bradicardia extrema e as arritmias podem levar a uma morte súbita cardíaca. De forma semelhante, indivíduos com bulimia enfrentam riscos aumentados de complicações cardíacas que podem ser fatais se não tratadas.

O tratamento dos transtornos alimentares é complexo e requer uma abordagem multidisciplinar que inclui médicos, nutricionistas, psicólogos e psiquiatras. A reintrodução gradual de uma dieta balanceada é essencial para restaurar a saúde física. Ao mesmo tempo, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é frequentemente utilizada para tratar as distorções da imagem corporal e os comportamentos alimentares disfuncionais. Em casos graves, a hospitalização pode ser necessária para monitorar e tratar complicações médicas.

É muito importante aumentar a conscientização sobre os transtornos alimentares e suas consequências devastadoras. A prevenção e o tratamento precoce são fundamentais para reduzir a morbidade e mortalidade associadas a essas condições. A educação sobre hábitos alimentares saudáveis, a promoção de uma imagem corporal positiva e o acesso a cuidados de saúde mental são passos importantes para combater esses transtornos. Anorexia e bulimia são mais do que simples distúrbios alimentares: são doenças graves que afetam todos os sistemas do corpo, especialmente o coração.