BRAIN ROT E ANSIEDADE
Temos uma geração de jovens pouco ocupados e muito preocupados. Os jovens brasileiros enfrentam níveis estratosféricos de ansiedade e angústia em relação ao futuro, uma preocupação legítima diante das crises econômicas, sociais e morais, além da enorme violência, que moldam o mundo atual.
Ao mesmo tempo, mergulham em um mar de informações irrelevantes e conteúdos escapistas, uma prática que vem sendo chamada de "brain rot". Consomem, assim como na alimentação, muita informação "trash" - aparentemente atraentes, porém pouco nutritivas.
Essa perigosa alienação envolve-os num mar de superficialidades, esgotando uma preciosa energia que poderia e deveria ser usada em ações objetivas e construtivas para o futuro.
O brain rot, traduzido literalmente como “cérebro apodrecido”, descreve a obsessão por consumir conteúdos superficiais ou ficcionais que ocupam a mente. A enorme quantidade de séries, jogos e personagens fictícios, que se tornam o centro do interesse desse jovem, enquanto questões como carreira, saúde mental, convivência, realização pessoal e desafios coletivos, ficam em segundo plano. Apesar de parecer inofensivo, esse fenômeno anuncia graves consequências, num mundo onde tudo é incerto e os empregos estão cada vez mais precários, as relações instáveis e as famílias diluídas. As promessas de estabilidade parecem cada vez mais distantes.
As somas ou o desempenho que precisam alcançar e que garantiriam um lugar de destaque e apreciação, são exorbitantes, as cifras estratosféricas.
Eles não podem errar e não poder errar paralisa. Diante deste pessimismo opressor, a reação interna também os atinge com violência: ansiedade, estagnação, procrastinação, hiperbolia de sentimentos, alienação. Os jovens buscam conforto em universos paralelos, no individualismo e no materialismo, onde tudo é mais simples e controlável. As frustrações, porém, só aumentam. As redes sociais, o consumo constante de séries e até mesmo os jogos online oferecem perigos a saúde mental. Quanto mais adiamos os problemas, mais eles crescem e nos atormentam. Em vez de enfrentar as questões que geram ansiedade – como ações para melhoria das relações interpessoais, experiências práticas de novas habilidades, aprendizados para o trabalho, escolhas de carreira – muitos se perdem em bolhas de distração que não oferecem soluções reais para seus problemas.
É mais confortável mergulhar em fanfics e teorias fictícias do que refletir sobre o impacto das nossas escolhas no mundo.
Muitos jovens já se sentem incapazes de planejar suas vidas, dominados pela procrastinação e pelo medo do fracasso. Essa inércia é um terreno fértil para crises existenciais, problemas de saúde mental e uma sensação crescente de que estão apenas “sobrevivendo”, e não vivendo.
O entretenimento pode ser um alívio, mas jamais seria uma boa resposta. A longo prazo, a recusa em encarar e planejar o futuro cobrará seu preço. O primeiro passo é simples: questionar o que estamos consumindo e como isso nos afeta. Entender que nada será construído nas distrações, mas por escolhas conscientes e ações concretas. Precisamos, mais do que nunca, estreitar os laços e a comunicação com nossos filhos e apoiá-los cientes de que é no estímulo ao progresso e não a cobrança pura e simples, que poderemos ajudá-los em seu próprio desenvolvimento pessoal.
Mudanças não são fáceis, mas são necessárias. Os jovens carregam o peso de um futuro incerto, mas também o poder de transformá-lo. No entanto, essa transformação só será possível quando estivermos dispostos a tirarmos todos, nossos olhares das telas e encararmos o mundo – com toda a sua complexidade e desafio – de frente.