CONHEÇA OS RISCOS DA LEPTOSPIROSE PARA A SAÚDE
A tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, provocada pelas intensas chuvas no final de abril, acendeu um alerta para a leptospirose, uma doença infecciosa transmitida ao ser humano pelo contato direto ou indireto com a urina de animais, especialmente ratos, contaminados pela bactéria Leptospira Interrogans. Essa bactéria penetra o organismo e atinge a corrente sanguínea através de lesões na pele, como cortes ou feridas, pelo contato prolongado da pele íntegra com água contaminada ou pelas mucosas, como os olhos, nariz e boca.
O infectologista Irineu Luiz Maia, do Hospital de Base de Rio Preto, ressalta que a leptospirose é uma doença endêmica que se torna epidêmica em períodos chuvosos, especialmente nas capitais e áreas metropolitanas. “As enchentes associadas à aglomeração populacional de baixa renda, associadas às condições precárias de saneamento e à alta infestação de roedores infectados, sendo o rato o principal hospedeiro das leptospiras, são o cenário propício para o surgimento da doença”.
Conforme explica o infectologista André Neves Alves, na maioria dos casos, a leptospirose é assintomática, enquanto uma pequena parcela apresenta sintomas inespecíficos. Os principais incluem febre, dor de cabeça e muscular (mialgia). Os menos comuns são: diarreia, vômitos e dores articulares. O diagnóstico é feito com base na história epidemiológica, ou seja, na exposição prévia a comportamentos de risco que aumentam a chance de contrair a doença. “Dor atrás da panturrilha é um sintoma bastante característico, frequentemente mencionado pelos pacientes”, destaca o médico.
Segundo Alves, aproximadamente 10% dos casos evoluem para uma forma grave da doença conhecida como síndrome de Weil, caracterizada por icterícia (coloração amarelada ou alaranjada da pele), insuficiência renal e hemorragia alveolar. “É uma hemorragia no pulmão que causa insuficiência respiratória grave, levando o paciente a ser entubado, geralmente também associada à insuficiência renal, necessitando de tratamento com diálise devido à gravidade e à intensidade do quadro clínico”, afirma.
A infectologista Isadora Curti Cicero, da Unimed Rio Preto, explica que o período de incubação, que é o intervalo entre a transmissão da infecção e o início dos sintomas, pode variar de 1 a 30 dias, sendo mais comum ocorrer entre 7 a 14 dias após a exposição a situações de risco. “Conforme recomenda o Ministério da Saúde, o diagnóstico específico é realizado a partir da coleta de sangue para verificar se há a presença de anticorpos (exame indireto) ou a presença de bactérias (exame direto), de acordo com a fase evolutiva da doença que o paciente se encontra”.
Fase precoce
Febre
Falta de apetite
Dor muscular (principalmente nas panturrilhas)
Dor de cabeça
Dor nas articulações
Náuseas
Vômitos
Diarreia
Vermelhidão ou hemorragia conjuntival
Fotofobia
Dor ocular
Tosse
Exantema
Aumento do fígado e/ou baço
Aumento de linfonodos
Sufusão conjuntival
Fase tardia
Síndrome de Weil - icterícia, insuficiência renal e hemorragias
Síndrome de hemorragia pulmonar - tosse seca, dispneia, expectoração hemoptoica
Comprometimento pulmonar - lesão pulmonar aguda e sangramento maciço
Síndrome da angústia respiratória aguda - SARA
Manifestações hemorrágicas - pulmonar, pele, mucosas, órgãos e sistema nervoso central
Fonte: Ministério da Saúde
Fase precoce (primeira semana da doença)
Exame direto
Cultura
Detecção do DNA pela reação em cadeia da polimerase (PCR)
Fase tardia
Cultura
Elisa-IgM
Microaglutinação (MAT)
Fonte: Ministério da Saúde
Hemograma
Bioquímica (ureia, creatinina, bilirrubina total e frações, TGO, TGP, gama-GT, fosfatase alcalina e CPK,
Na+ e K+)Radiografia de tórax
Eletrocardiograma (ECG)
Gasometria arterial
Fonte: Ministério da Saúde
O tratamento da leptospirose varia conforme a gravidade da doença e envolve o uso de antibióticos. Quando iniciado precocemente, ajuda a prevenir complicações graves e reduzem a letalidade, que pode atingir até 40% nos casos mais severos, segundo o Ministério da Saúde. Os medicamentos utilizados podem incluir Doxiciclina, Amoxicilina, Penicilina cristalina, Penicilina G cristalina, Ampicilina, Ceftriaxona ou Cefotaxima, dependendo do estágio da doença. “O tratamento com antibióticos deve ser iniciado assim que houver suspeita clínica da leptospirose, o mais precoce possível, preferencialmente na primeira semana de início dos sintomas, geralmente com internação hospitalar do paciente”, alerta o infectologista Irineu Luiz Maia.
Em casos de exposição conhecida a riscos, como contato com urina de animais contaminados, existe a possibilidade de prevenir a leptospirose. “Nesses casos, antes do aparecimento dos sintomas, é possível administrar antibióticos como doxiciclina ou amoxicilina para reduzir a chance de desenvolver a doença, seja em sua forma grave ou não. É o que chamamos de profilaxia”, esclarece o infectologista André Neves Alves.