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CONGELAMENTO DE ÓVULOS

SaúdeCONGELAMENTO DE ÓVULOS
Procedimento ajuda a preservar a fertilidade da mulher, aumentando as chances de ter filhos biológicos no futuro, especialmente se realizado antes dos 35 anos

Sobre o autor

Nas últimas décadas, um número crescente de mulheres tem adiado a maternidade, seja por ainda não terem encontrado o parceiro ideal, pela necessidade de priorizar a carreira, por voltarem a atenção a outros objetivos pessoais antes de se tornarem mães, ou por enfrentarem tratamentos médicos que podem afetar a fertilidade. No entanto, o relógio biológico feminino continua a avançar, independentemente dessas circunstâncias. Diante disso, o congelamento de óvulos surge como uma solução eficaz para ajudar a preservar a fertilidade, garantindo a chance de engravidar no futuro.

“O congelamento de óvulos é uma estratégia que permite planejar a maternidade para um momento mais tardio. O procedimento dura, em média, 12 dias, e envolve o uso de hormônios, com monitoramento por ultrassom. É um processo com um cronograma fácil e uma recuperação rápida”, destaca a ginecologista Thais Vitti, especialista em infertilidade e reprodução humana.

No Brasil, entre 2020 e 2023, o número de óvulos congelados quase dobrou, saltando de 56.710 para 111.413, registrando um aumento de 96,4%, conforme dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio do Sistema Nacional de Cadastro de Embriões (SisEmbrio). Entre as famosas que optaram pelo procedimento estão as atrizes Paolla Oliveira, Grazi Massafera, Mariana Ximenes e Carla Diaz, as cantoras Anitta e Paula Fernandes, além da ex-BBB Juliette.

Apesar de ser uma alternativa cada vez mais procurada para a preservação da fertilidade, a técnica continua sendo um investimento de alto custo. O valor do procedimento varia conforme a localização, clínica escolhida, número de óvulos que serão congelados e a quantidade de medicação necessária, que depende da idade, peso e outras condições de saúde da mulher.

Para ter uma noção de valores, um ciclo completo do tratamento, incluindo estimulação ovariana, coleta e congelamento, custa, em média, entre R$ 15 mil e R$ 25 mil. Além disso, há uma taxa anual para a manutenção dos óvulos, que gira em torno de R$ 1.500. Caso seja necessário utilizar os óvulos congelados e realizar a fertilização in vitro (FIV), esse procedimento pode adicionar aproximadamente R$ 20 mil ao custo total.

RELÓGIO BIOLÓGICO


Para muitas mulheres, o fator que mais pesa na decisão pelo congelamento de óvulos é o “relógio biológico”, ou seja, a idade. Isso porque tanto a qualidade quanto a quantidade dessas células diminuem com o envelhecimento. Conforme explica o médico Edilberto de Araújo Filho, especialista em reprodução humana assistida, diretor do Centro de Reprodução Humana (CRH) de Rio Preto e vice-presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), embora o procedimento possa ser feito em mulheres de qualquer idade reprodutiva, ele é geralmente mais eficaz quando realizado antes dos 35 anos.

“À medida que a mulher envelhece, a reserva ovariana (número de óvulos disponíveis) diminui. Isso pode resultar na coleta de menos óvulos durante o procedimento de estimulação ovariana, reduzindo as chances de sucesso. Simultaneamente, a qualidade dos óvulos também diminui com a idade, o que aumenta significativamente o risco de aneuploidia (número anormal de cromossomos) em óvulos de mulheres mais velhas. Isso pode levar a taxas mais baixas de fertilização, desenvolvimento embrionário e implantação bem-sucedida. Além disso, a incidência de anomalias cromossômicas nos óvulos aumenta com a idade. Congelar óvulos em uma idade mais jovem reduz o risco de problemas genéticos nos futuros embriões”, explica.

A taxa de sucesso do descongelamento e da fertilização in vitro está fortemente relacionada ao número de óvulos congelados e à idade em que foram congelados. “Cada caso é único, mas a idade ideal para realizar o procedimento é até os 35 anos. Quanto mais jovem o óvulo, maior o potencial de sucesso para uma gestação futura, mesmo que a gravidez ocorra em idade avançada”, reforça a ginecologista Thais Vitti, especialista em infertilidade e reprodução humana. 

COMO FUNCIONA A TÉCNICA

Durante a consulta inicial, o especialista em reprodução humana assistida realiza a anamnese da paciente e solicita exames de sangue para avaliar a função ovariana e outros parâmetros de saúde geral, como FSH, LH, estradiol e AMH. Além disso, é feito um ultrassom para avaliar os ovários e contar os folículos antrais, com o objetivo de estimar a reserva ovariana.

Com os resultados em mãos, o médico esclarece à paciente todas as etapas do tratamento, as chances de sucesso e elabora um protocolo individualizado para cada caso.

Após a paciente decidir dar continuidade ao tratamento, inicia-se a administração de hormônios para estimular os ovários a produzir múltiplos folículos, sendo o progresso monitorado por meio de ultrassom e exames de sangue.

Quando os folículos estiverem maduros, a coleta de óvulos é agendada. O procedimento é realizado sob sedação leve e envolve a inserção de uma agulha fina através da parede vaginal até os ovários, guiada por ultrassom, para aspirar os óvulos dos folículos.

Os óvulos coletados são avaliados pelos embriologistas, que verificam a qualidade e maturidade dos mesmos.

Os óvulos maduros são congelados por meio de um processo chamado vitrificação, o qual é um método rápido de congelamento que minimiza a formação de cristais de gelo e aumenta as chances de sobrevivência dos óvulos após o descongelamento.

O armazenamento é feito em tanques de nitrogênio líquido a temperaturas extremamente baixas (-196°C), onde podem permanecer por tempo indeterminado até que a paciente decida utilizá-los.

Quando a paciente opta por usar os óvulos congelados, eles são descongelados, fertilizados com espermatozoides por meio da fertilização in vitro (FIV) e os embriões resultantes são transferidos para o útero para tentar uma gravidez.

Fonte: Edilberto de Araújo Filho, especialista em reprodução humana assistida

AJUSTES METABÓLICOS

A médica Lígia Previato, embriologista clínica e especialista em avaliação metabólica e nutricional do Centro de Reprodução Humana (CRH) de Rio Preto, ressalta a importância de ajustar o metabolismo da paciente para garantir a qualidade dos óvulos congelados e, assim, aumentar as chances de sucesso nas futuras tentativas de gestação. “A preparação para a preservação da fertilidade começa antes mesmo do procedimento de estimulação dos ovários e tem um impacto significativo no sucesso futuro de uma gestação saudável e na saúde do bebê que será gerado por esse lote de óvulos congelados.”

Lígia explica que as células germinativas precisam de energia adequada para assegurar a divisão cromossômica correta durante a estimulação ovariana e a maturação oocitária, além de suportar o processo de congelamento e descongelamento futuro. De acordo com a especialista, os fatores a serem considerados para ter óvulos de qualidade incluem:

- Reduzir inflamação excessiva: adotar uma alimentação natural e integral, rica em cereais integrais, frutas, verduras, legumes e leguminosas, e reduzir ou excluir alimentos ricos em gorduras saturadas, como queijos, manteiga, óleo de coco, palma, dendê, carnes vermelhas e ultraprocessados.

- Ajuste de nutrientes específicos: garantir a ingestão adequada de ferro, ácido fólico, vitamina B12, cálcio, magnésio e vitamina D.

- Aumentar a sensibilidade à insulina: ajuda a regular a glicemia e a prevenir problemas que afetam a qualidade dos óvulos, como a retenção de sódio e líquido.

- Ajuste dos níveis hormonais: fatores como estresse, sono inadequado e estilo de vida podem provocar desequilíbrios hormonais e comprometer o desenvolvimento e a qualidade dos óvulos, assim como a gordura saturada, sobrepeso e sedentarismo.

- Estilo de vida saudável: uma alimentação balanceada e um estilo de vida saudável são fundamentais para a qualidade dos óvulos e o sucesso futuro da gestação. Consultar um profissional pode ajudar a adaptar as necessidades específicas de cada paciente.

MUDANÇA DE PLANOS

Após acompanhar um nódulo na mama direita durante vários meses, em junho deste ano, a médica Gabriela Dezan Monção, de 32 anos, recebeu o diagnóstico de carcinoma invasivo de tipo não especial, com subtipagem luminal B. Diante da necessidade de iniciar um tratamento que incluía quimioterapia e apresentava um alto risco de infertilidade, ela decidiu considerar o congelamento de óvulos, pois ainda não tem filhos. 

Gabriela conta que, apesar de ser médica, tinha pouco conhecimento sobre o procedimento de congelamento de óvulos. “Surgiram muitas dúvidas e preocupações sobre como e quando iniciar. Busquei várias opiniões médicas, e as informações começaram a clarear. Encontrei o Centro de Reprodução Humana de São José do Rio Preto, onde o Dr. Edilberto realizou o tratamento de criopreservação de óvulos, um procedimento rápido e indolor. Após isso, me senti pronta para iniciar a quimioterapia, sem receio de que meu desejo de ser mãe fosse frustrado”, pontua Gabriela.

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