CARDIO-ONCOLOGIA
Os tratamentos contra o câncer, como a quimioterapia e a radioterapia, são essenciais para combater a doença. Eles destroem ou impedem o crescimento das células tumorais, prolongando a sobrevida e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. No entanto, ambos podem causar muitos efeitos colaterais cardíacos, como o surgimento de doenças ou a piora de condições preexistentes, como hipertensão, insuficiência cardíaca, infarto, arritmias e outras condições.
Esses danos cardíacos causados pelo tratamento do câncer são chamados de cardiotoxicidade, um problema que tem impulsionado o crescimento da cardio-oncologia, uma subespecialidade nova na cardiologia, focada especialmente em pessoas com câncer e doenças cardíacas, com fatores de risco cardíaco, ou que desenvolvem problemas no coração após o tratamento oncológico.
“As doenças cardiovasculares e o câncer são as principais causas de morte em todo o mundo. E o que temos observado é um aumento nos casos de doenças cardiovasculares em pacientes em tratamento contra o câncer, e até mesmo naqueles que já concluíram o tratamento. O trabalho do cardio-oncologista é ajudar, tratar as complicações cardíacas causadas pelos tratamentos oncológicos e incentivar a prevenção dessas doenças que podem ocorrer nesse percurso”, afirma a cardiologista Patrícia Silva de Marco, especialista em cardio-oncologia.
Felizmente, de acordo com a cardiologista Ana Palmira Lima Neves, cardio-oncologista do HB Onco (Centro de Oncologia do Hospital de Base de Rio Preto) e também responsável pelo ambulatório de cardio-oncologia HB-Famerp e pelo Serviço de cardio-oncologia da Santa Casa, a cardiotoxicidade não ocorre em todas as pessoas que recebem tratamento para o câncer. A maioria dos pacientes oncológicos recebe tratamento sem complicações cardiovasculares.
Pacientes com doenças cardiovasculares prévias ou fatores de risco para doença cardiovascular têm maior chance de desenvolver cardiotoxicidade, ou descompensação da patologia pré-existente durante o tratamento do câncer. “Nesses casos, o cardio-oncologista trabalha em estreita colaboração com o oncologista para formular um plano de acompanhamento e monitorização do paciente com câncer. Este plano pode envolver medicamentos cardíacos que podem ser usados para melhorar a função cardíaca, ou exames de vigilância ao longo do tratamento para detectar sinais precoces de doença cardíaca e permitir a intervenção precoce”, destaca.
É recomendável que os pacientes diagnosticados com câncer comecem a cuidar do coração antes de iniciar qualquer tipo de tratamento oncológico, como quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, cirurgia ou outras modalidades, e mantenham um acompanhamento constante ao longo de todo o processo. Durante o tratamento oncológico, considerado o momento mais crítico para o surgimento de complicações cardíacas, é essencial que os pacientes estejam sob cuidados rigorosos para garantir a saúde do coração.
“Esse acompanhamento cardiológico deve continuar mesmo após o término do tratamento, pois algumas medicações e a radioterapia podem causar sequelas cardíacas mesmo após 10, 20 anos”, alerta a cardiologista Patrícia Silva de Marco.
A cardiologista Ana Palmira Lima Neves destaca que os cardio-oncologistas acompanham sobreviventes de câncer, particularmente aqueles com doenças cardiovasculares ou fatores de risco cardiovascular após completarem seu tratamento contra o câncer para garantir a otimização de sua saúde cardiovascular. “Doenças cardíacas relacionadas à terapia do câncer podem ocorrer anos após a conclusão da terapia. O intuito é garantir a sobrevivência em geral, não apenas a sobrevivência do câncer”, complementa.
Idade do paciente
O tipo e a localização do câncer
Condições ou doenças atuais, ou anteriores
Histórico de doença cardiovascular prévia, como pressão alta, coágulos sanguíneos ou acidente vascular cerebral (AVC)
Fatores de risco cardiovasculares individuais dos pacientes, como tabagismo, diabetes, obesidade ou histórico familiar de problemas cardíacos
Problemas cardiológicos associados ao tratamento oncológico, mesmo na infância:
Maior incidência de trombose e tromboembolismo arterial e venoso
Alteração na circulação coronária – podendo causar infarto ou isquemia miocárdica
Insuficiência cardíaca
Doença da válvula cardíaca
Pressão arterial elevada (hipertensão)
Cardiomiopatia restritiva
Arritmias, como fibrilação atrial, Torsades de Pointes, etc
Fonte: Cardiologista Ana Palmira Lima Neves, cardio-oncologista do HB Onco - Centro de Oncologia do Hospital de Base de Rio Preto, e também responsável pelo ambulatório de Cardio-Oncologia HB-Famerp e pelo Serviço de Cardio-Oncologia da Santa Casa de Rio Preto.