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O Benzeno E O Risco De Leucemia

Milton Artur RuizO Benzeno E O Risco De Leucemia
O benzeno é um hidrocarboneto aromático presente em produtos como colas e solventes, sendo um risco para várias atividades profissionais em que o contato é frequente.

A lista é extensa e engloba, no contexto ocupacional brasileiro, químicos; assistentes de laboratório; frentistas; tapeceiros/ estofadores e afins; cortadores de couro para calçados; soladores de sapatos; sapateiros e afins (exceto as categorias já citadas); trabalhadores da indústria de calçados; operadores de máquinas e mecânicos; pintores, aplicadores de pisos e afins; operadores de impressoras; trabalhadores da impressão gráfica; trabalhadores de instalações de processos químicos; controladores de instalação de processamento de produtos químicos; trabalhadores de refinaria e da indústria química; funcionários na produção de borracha; e operadores de máquinas de lavar, tingir e passar.

O benzeno é absorvido pelo organismo através da aspiração e tem capacidade de se fixar a tecidos que possuem gordura, como a medula óssea, onde se fabricam os elementos do sangue, passando a interferir na produção dos glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas, os quais podem ficar reduzidos dependendo do grau de exposição dos pacientes ao hidrocarboneto. Isso foi demonstrado em um estudo realizado na Unicamp em 1989, sendo um trabalho pioneiro que investigou o que ocorria com os trabalhadores expostos ao benzeno na indústria siderúrgica de Cubatão, São Paulo.

O primeiro dado que chamou a atenção foi a redução dos glóbulos brancos, ou seja, leucopenia, no hemograma dos trabalhadores. Deste trabalho resultou uma maior vigilância nos exames ocupacionais dos potencialmente expostos e mudanças na legislação, estabelecendo limites de permissão em partes por milhão de benzeno no ar aos quais os trabalhadores poderiam estar expostos. O fato de o benzeno ser um potencial causador de câncer, especialmente de leucemia, é conhecido há muito tempo, sendo reconhecido como cancerígeno desde 1982 pela International Agency for Research on Cancer (IARC) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, mais de 7 milhões de trabalhadores estão potencialmente expostos ao benzeno. Um recente trabalho epidemiológico conduzido na Bahia por Moura-Corrêa MJ e publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health trouxe mais informações sobre o tema, que sempre suscitou polêmicas, disputas médicas e trabalhistas.

A mortalidade por leucemia no Brasil no estudo foi 1,7 vezes maior entre os trabalhadores expostos ao benzeno, o que representa um risco 73% maior de morte por esse tipo de câncer do que para o restante da população trabalhadora do país.

A pesquisa revelou que, no período analisado de cinco anos, houve 21.049 mortes por leucemia no Brasil. Desse total, 1.917 óbitos ocorreram entre trabalhadores dos grupos ocupacionais potencialmente expostos ao benzeno, o que corresponde a uma taxa de mortalidade anual de 4,5/100.000 habitantes. Já entre os trabalhadores não expostos ao benzeno, a mortalidade anual foi menor, sendo de 2,6/100.000. No estudo, vários outros detalhes foram comprovados em relação a atividades e ocupações específicas dos expostos ao benzeno.

Décadas após a constatação, a autora alerta que a falta de implementação de normas de proteção para reduzir a exposição ao agente ainda contribui para muitos óbitos e que instituições responsáveis pela fiscalização e vigilância dos ambientes de trabalho foram muito precarizadas nos últimos anos.

“O Brasil precisa reduzir os números de [casos de] câncer, entre eles os de leucemia relacionada a exposições químicas como o benzeno”.

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