AMIZADES NA INFÂNCIA PARA O BEM-ESTAR ADULTO
As amizades, o convívio e os laços afetivos formados na infância e, especialmente, na adolescência são primordiais para o bem-estar da fase adulta. Segundo psicólogos ouvidos pela Bem-Estar, esses períodos são cruciais para o desenvolvimento emocional do indivíduo adulto. Além disso, é importante destacar que experiências negativas, como bullying e exclusões sociais durante a adolescência, podem ter um impacto significativo e prejudicial na vida adulta.
A psicóloga cognitiva comportamental Alana Lin explica que a relação entre as amizades nas fases iniciais da vida e o bem-estar adulto está associada à saúde física e mental do indivíduo. “Aumentando os níveis de bem-estar, engajamento e desenvolvimento das habilidades sociais, além de oferecer um ambiente seguro para compartilhar sentimentos e emoções”, afirmou.
Na adolescência, segundo a psicóloga, os vínculos de amizades se tornam ainda mais significativos para o futuro ao fortalecer o sentimento de pertencimento a um grupo, aumentar a autoconfiança, a autoestima, a autoaceitação e fortalecer os sentimentos de lealdade e cumplicidade, “além de contribuir para melhor assimilação e assentimento das frustrações e conflitos”, ressaltou a terapeuta.
Nesta etapa, segundo Alana, também é o momento do desenvolvimento e consolidação de sentimentos e emoções. “A identificação da visão de mundo, a visão do outro e, principalmente, de si, promove um impacto direto na criação de bases, diminuição do estresse e amadurecimento que são elementos fundamentais na produção de adultos estáveis, cognitivo, comportamental e emocionalmente”, explicou a psicóloga.
Vínculos formados por meio da experiência em partilhar sentimentos, conflitos e interesses que influenciam também na construção da empatia e do altruísmo. “Estabelecem o desenvolvimento do afeto, cumplicidade, confiança e respeito às diferenças e permitem o compartilhamento das experiências em um convívio saudável”, afirmou Alana.
A comissária de bordo Daniele Duarte, 39 anos, contou que como filha única, o convívio e as amizades da infância e da adolescência sempre foram suas companhias e também suas referências para a adulta que ela se tornou. “Tive amigas muito agradáveis e outras nem tanto. A Jaqueline é uma das amigas de infância que sempre foi muito agradável e é minha amiga até hoje”, contou. “Experiências que me trouxeram a base para eu entender a pessoa que eu quero ser e a pessoa que eu não quero ser”, complementou.
Com experiências também fora do País e em uma rotina de trabalho que exige boa relação interpessoal, Daniele ressalta que os ensinamentos da família e as referências dos pais também foram fundamentais para sua formação adulta. “Foram todas essas pessoas que passaram pela minha vida que me ensinaram e me ajudaram a tornar essa Daniele de hoje”, afirmou.
E como podemos proteger as crianças e adolescentes para formação de adultos saudáveis? Oferecer uma rede de apoio, promover o diálogo, estabelecer limites, regras, deveres domésticos para cada idade, garantir tempo de qualidade, sentimento de pertencimento e falar abertamente sobre conflitos e emoções são caminhos para proteção e prevenção de problemas futuros.
A psicóloga Alana Lin também orienta a tratar de assuntos como ansiedade, sexualidade, bullying com o devido cuidado, abertamente, sem tabus e preconceitos. “Evitar comparações de qualquer natureza, atentar-se às mudanças comportamentais, buscar ajuda psicológica e/ou psiquiátrica”, complementou a terapeuta.
No que cabe a família, a psicóloga clínica Ana Flávia da Silva Ferreira Zaura acrescenta que toda criança e adolescente carecem de respeito, acolhimento e atenção plena. “O distanciamento, falta de atenção, um olhar limitado e falta de diálogo pode causar grandes danos”, alertou.
Assim como a permissão da inversão de papéis, pela qual a criança ocupa o papel do adulto e o adulto ocupa o papel da criança, segundo a terapeuta. “A conduta dos responsáveis desde os primórdios vão determinar esse indivíduo nas relações afetivas e sócias”, complementou.
O papel da escola é primordial na promoção do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, essenciais para o bem-estar ao longo da vida adulta. A psicóloga Ana Flávia ressalta que essas competências são cruciais, ao capacitarem o indivíduo a gerenciar suas emoções e a interagir de maneira empática com as emoções alheias, promovendo uma convivência mais harmoniosa e saudável. “Desenvolvendo a comunicação de forma positiva, assim como a habilidade em trabalhar em equipe, empatia e tomada de decisão”.
Segundo a psicóloga, é na escola também que se deve ficar atento aos sinais de bullying, violências cometidas que realmente impactam diretamente na vida do indivíduo na vida adulta. “Não negligenciar os próprios funcionários que podem estar em esgotamento devido à demanda de atenção que as crianças requerem”, afirmou.
Para isso, segundo Bianca, o ideal é que as instituições educacionais implementem um acompanhamento sistemático da saúde mental, de professores e de alunos, por meio de palestras e a colaboração de profissionais da psicologia.
Da mesma forma que os vínculos saudáveis trazem inúmeros benefícios para a vida adulta, a prática de bullying e de exclusões também interferem, mas negativamente, na vida adulta. Na lista das consequências elencadas por profissionais da saúde mental, estão problemas na saúde física e mental, no desempenho escolar, profissional e nas relações afetivas e interpessoais.
O bullying também está frequentemente associado aos transtornos de ansiedade, depressão, pânico, pensamentos autodestrutivos, baixa autoestima, aumento do risco de transtornos por uso de substâncias, isolamento social, transtorno de estresse pós-traumático, doenças psicossomáticas, autoagressão e até suicídio.
E o maior impacto, segundo a psicóloga Alana Lin pode vir da fase da adolescência. “Neste período, a magnitude das emoções está aumentada, os sentimentos de pertencimento e aceitação são urgentes e não há um filtro a respeito do controle das emoções”, explicou.