Patrícia Braile vem de uma família de médicos, mas quando chegou o momento de escolher a faculdade, ela criou coragem e falou para o pai, o saudoso cardiologista Domingo Braile, que queria fazer Direito. Para sua surpresa, não houve objeção e ela se tornou a primeira advogada da família.

Formada pela São Francisco, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), ela fez mestrado em Filosofia do Direito na PUC-SP. “Certamente essa formação me trouxe uma visão estratégica e ética para a condução da empresa, sempre baseada em princípios sólidos e colocando a vida em primeiro lugar”, diz.

Nossa missão é salvar vidas através da inovação e da qualidade. No mercado de dispositivos médicos, buscamos não apenas entregar tecnologia de ponta, mas também atuar no fortalecimento do setor de saúde como um todo

Patrícia começou sua trajetória na Braile Biomédica em 1992, colaborando para o fortalecimento de diversas áreas, incluindo governança, compliance, gestão de pessoas, qualidade, certificações nacionais e internacionais e, especialmente, a área jurídica. Em 2008, ao assumir a presidência da empresa, ela direcionou seu trabalho para consolidar que a inovação, a governança e o crescimento sustentável fossem objetivos inegociáveis.

Atualmente, a Braile é líder de mercado no Brasil e na América Latina e exporta para 45 países. “Nos orgulhamos imensamente de ser uma das principais empresas fornecedoras de produtos para cirurgias cardíacas e vasculares realizadas pelo SUS. É claro que o setor da saúde privada e as exportações são fundamentais para nós e nossa empresa, mas atuar no SUS nos faz sentir na pele nosso propósito”, conta.

Nascida em Rio Preto, ela é casada com Luís Antônio Verdi e mãe de dois filhos, Rafael e Luiza, e avó de Clarice. À frente da Braile, sua rotina é intensa, mas ela valoriza os momentos de lazer, dedicando-se ao hábito de ler, escrever contos e crônicas, viajar, assistir a bons filmes e séries, além de observar o céu, as árvores e as flores. Confira a entrevista:

BE - Como a história da sua família influenciou sua decisão de assumir a Braile Biomédica?

Patrícia Braile - Meu pai foi um visionário e pioneiro, e seu compromisso com a medicina e a inovação me inspirou desde cedo. Minha mãe, pedagoga, pesquisadora da Educação e do ser humano. A preocupação deles com as pessoas me influenciou sobremaneira. Fiz Direito por amor às pessoas e por ter desde sempre um aguçado senso de justiça. Trabalhei, desde o segundo ano de faculdade, em excelentes escritórios de Advocacia, mas em 1994 recebi o chamado de meus pais para vir trabalhar na empresa da família. No princípio não foi fácil, mas ao longo dos anos, percebi que poderia contribuir de forma estratégica para o crescimento sustentável da empresa e para o fortalecimento do setor de saúde no Brasil.

BE - Em sua família, havia uma expectativa de seguir a carreira de medicina? Se sim, como você lidou com essa pressão familiar quando decidiu cursar Direito?

Patrícia Braile - Sim, havia essa expectativa, pois meu pai dedicou sua vida à medicina. Meu avô era médico, meus tios e muitos outros membros da família. E eu, como filha mais velha, estava predestinada a seguir a carreira de meus familiares. Não havia nenhum advogado na família até então. No entanto, sempre fui apaixonada por pessoas, História, Português, Psicologia e Filosofia. Meus pais acabaram cedendo, pois viram em mim este amor e potencial. Hoje posso afirmar com toda certeza que minha formação me permitiu ajudar a estruturar a Braile com bases sólidas na área jurídica, na ética e na governança, algo essencial para a profissionalização da empresa e sua expansão para mercados globais.

BE - De que forma essa escolha impactou sua trajetória à frente da Braile Biomédica?

Patrícia Braile - Minha formação em Direito e também em Filosofia trouxeram uma visão diferenciada sobre a gestão empresarial. A Filosofia, a Ética e os princípios que guiam nossa empresa garantem que cada decisão seja tomada com responsabilidade e compromisso com a vida. Além disso, permitiu que fortalecêssemos nossa governança corporativa, compliance e atuação regulatória, garantindo que a Braile crescesse de forma sustentável e respeitável no Brasil e no mundo.

A Braile se diferencia pela inovação contínua, pela produção de qualidade e eficiente, pela rapidez e pela personalização de algumas linhas dos nossos produtos. Somos líderes de mercado no Brasil e na América Latina, e exportamos para 45 países

BE - Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao liderar a empresa e como os superou?

Patrícia Braile - Um dos maiores desafios foi a transição para uma governança profissionalizada, mantendo ao mesmo tempo, os valores e a cultura que fizeram da Braile uma referência. Mudanças culturais são as mais difíceis de serem feitas. Existe uma frase que de Peter Druker que diz: “A cultura come a estratégia no café da manhã.” Isso quer dizer que mudar uma cultura leva tempo, esforço, dedicação e ser resiliente. Não desistir. Outro desafio foi expandir nossa atuação internacional, competindo com grandes multinacionais. Conseguimos superar esses desafios investindo em inovação, fortalecendo nossa presença em associações estratégicas e garantindo excelência em todas as etapas do processo produtivo.

BE - Qual é a missão da Braile Biomédica e como você vê seu papel no mercado de biomédicos?

Patrícia Braile - Nossa missão é salvar vidas através da inovação e da qualidade. No mercado de dispositivos médicos, buscamos não apenas entregar tecnologia de ponta, mas também atuar no fortalecimento do setor de saúde como um todo. Por isso, participamos ativamente de associações estratégicas como: Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos) – que representa e fortalece a indústria nacional de dispositivos médicos; Abraidi (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde) – que fomenta boas práticas e governança no setor; Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) – que promovem o desenvolvimento da indústria no Brasil; Instituto Ética Saúde – que trabalha pela transparência e ética na cadeia de saúde; Instituto Capitalismo Consciente Brasil – que incentiva práticas empresariais mais humanizadas e sustentáveis.

Atuar nesses espaços é essencial para garantir que o setor se fortaleça, que efetivamente exista e se consolide o “Complexo Econômico e Industrial da Saúde no Brasil” e que este siga princípios éticos e inovadores.

BE - Que inovações ou tecnologias recentes a Braile Biomédica tem desenvolvido? E quais os impactos esperados para o setor de saúde?

Patrícia Braile - A Braile tem investido continuamente em inovação, pesquisa e desenvolvimento. Temos um grupo fantástico de engenheiros e pesquisadores e estamos trazendo inovações em biopróteses, dispositivos minimamente invasivos e engenharia de tecidos, o que tem impacto direto na recuperação dos pacientes e na eficiência dos procedimentos médicos. Além disso, nossa atuação no desenvolvimento de produtos acessíveis e sustentáveis contribui para o avanço do setor, possibilitando o tratamento de mais e mais pessoas.

Meu estilo de liderança é baseado na ética, na transparência e no desenvolvimento das pessoas. Acredito que todas as pessoas têm talentos únicos, e cabe à liderança proporcionar oportunidades para que esses talentos floresçam

BE - A sustentabilidade é uma preocupação que vem crescendo cada vez mais em muitas indústrias. Como a Braile Biomédica está se posicionando nesse aspecto?

Patrícia Braile - A sustentabilidade é um dos pilares estratégicos da empresa. Trabalhamos continuamente para reduzir nosso impacto ambiental, implementar práticas de economia circular e garantir que nossos processos industriais sejam cada vez mais eficientes. Trabalhamos muito para gerar impacto positivo na área social. Fazemos um trabalho sensacional neste setor, com inúmeros projetos e temos o maior orgulho disso! Nossos esforços têm sido reconhecidos: somos uma das empresas mais humanizadas do Brasil, de acordo com pesquisas da Melhores para o Brasil, e fomos premiados por nossas iniciativas sustentáveis. Acreditamos que inovação, responsabilidade ambiental e social devem caminhar juntas para garantir um futuro melhor para as próximas gerações.

BE - Como você vê a concorrência no mercado nacional e internacional? O que diferencia a Braile dos demais?

Patrícia Braile - A concorrência é forte, especialmente no mercado internacional. No entanto, a Braile se diferencia pela inovação contínua, pela produção de qualidade e eficiente, pela rapidez e pela personalização de algumas linhas dos nossos produtos. Somos líderes de mercado no Brasil e na América Latina, e exportamos para 45 países. Além disso, estamos expandindo nossa atuação na Europa e na Ásia com certificações internacionais, garantindo que nossas soluções alcancem ainda mais pessoas.

BE -Como você descreveria seu estilo de liderança e que valores você busca promover dentro da sua equipe?

Patrícia Braile - Meu estilo de liderança é baseado na ética, na transparência e no desenvolvimento das pessoas. Acredito que todas as pessoas têm talentos únicos, e cabe à liderança proporcionar oportunidades para que esses talentos floresçam. Valorizo a colaboração, a inovação e a responsabilidade social como pilares fundamentais para o sucesso da empresa.

10. Qual legado você espera deixar na empresa e no setor biomédico como um todo?

Patrícia Braile - Quero deixar um legado de inovação, ética e compromisso com a vida. A empresa é um instrumento poderoso de transformação social. Se cada empresa se conscientizar do impacto positivo que pode causar, mudaremos o mundo. Façamos a nossa parte, até onde nosso braço alcançar. (Colaborou Eduarda Prieto).