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DURVAL DE NORONHA GOYOS JR. LANÇA DOIS LIVROS

EntrevistaDURVAL DE NORONHA GOYOS JR. LANÇA DOIS LIVROS

O jurista, e escritor rio-pretense, Durval de Noronha Goyos Jr., lança dois livros em comemoração aos 150 anos da imigração italiana no Brasil, celebrados em 2024. A obra “Breve História da Imigração Meridional Italiana no Estado de São Paulo", que transcorre língua, cultura, literatura, artes plásticas, agricultura, indústria, futebol, ciência, gastronomia, sindicalismo e outros temas dessa história que começou nas décadas finais do século 19 e influenciou os rumos do Brasil desde então, além de “Dicionário de Aforismas, Provérbios e Expressões Idiomáticas da Língua Napolitana”, em quatro idiomas – napolitano, italiano, português e inglês. O evento de lançamento acontece no dia 23, com renda 100% revertida para reforma da Igreja da Redentora e obras assistenciais da Amici d’Italia

Há pouco mais de um ano, Durval brindou os leitores com a autobiografia “O Mundo Segundo Noronha” (maio/2023). Dono de uma mente inquietante, ele é autor de mais de 70 livros, entre títulos jurídicos, econômicos, linguísticos e historiográficos.

Com uma bagagem multicultural, o renomado jurista e escritor rio-pretense é fluente em nove idiomas. Indagado sobre o que gosta de fazer em momentos de lazer, dispara: “ler e escrever".

Com formação básica em escolas públicas de Rio Preto, filho de mãe costureira e pai dentista, distinguiu-se com uma carreira acadêmica notável, que começou com um curso de pós-graduação universitário na então FAFI, quando tinha 15 anos.

Sua formação jurídica abrangeu instituições renomadas como a PUC/SP, a Universidade da Califórnia e a Universidade de Lisboa. Em 1978, fundou a Noronha - Advogados, o primeiro escritório global de advocacia originário de um país em desenvolvimento, com 21 dependências em nove países, incluindo três na China. Durval qualificou-se como advogado no Brasil, Inglaterra e Portugal e foi conselheiro jurídico de grandes empresas e de diversos governos de países em desenvolvimento.

Após consolidar uma notável trajetória jurídica, ele conta que o objetivo atual é impulsionar sua carreira como escritor e historiador. Através dessa empreitada, ambiciona oferecer uma contribuição social e cultural.

Durval tem duas filhas, Anita e Gabriela. Há oito anos, é casado com a produtora cultural Amanda de Noronha Goyos.

Leia a entrevista a seguir:

BE – O senhor já tem mais de 70 livros publicados, entre obras jurídicas, obras historiográficas e a autobiografia. Agora, em comemoração aos 150 anos da imigração italiana no Brasil, o senhor lança os livros “Breve História da Imigração Meridional Italiana no Estado de São Paulo” e “Dicionário de Aforismas Napolitanos”, no dia 23 de julho. Como surgiu essa ideia?

Durval – Minha mãe, Maria Verginia Sabella, e sua família, são originários do Molise, no sul da Itália. Aprendi o napolitano e o italiano em casa e fui sempre afeiçoado às minhas origens e aos seus valores. Com 15 anos, fui admitido na FAFI pelo professor Edoardo Guerin, para um programa de pós-graduação universitária na cadeira de língua e civilização italiana, no qual fui aprovado com a nota oito, após um ano de estudos noturnos. Este é o diploma que mantenho acima dos demais. As duas obras são complementares. A primeira, única em sua perspectiva meridional, serve para registrar a formidável história e extraordinária contribuição da comunidade meridional italiana para a construção do Brasil atual, incluindo a cidade de São Paulo e o interior do Estado, no qual aparece com destaque a região de São José do Rio Preto, que chegou a ter a maioria de sua população de origem peninsular. A segunda traz aforismas e expressões idiomáticas napolitanas, cápsulas de conhecimento, traduzidas por mim do napolitano para o italiano, para o português do Brasil e para o inglês dos EUA. Esta é uma obra pioneira em todo o mundo, cujos direitos internacionais foram vendidos para uma editora italiana, que deverá publicá-la em 2025.

BE – O senhor também escreve obras literárias?

Durval – Sim. Para a literatura, uso o meu aclamado heterônimo, António Paixão, um jornalista luso-brasileiro, permanentemente desempregado por opção própria, amante do verdadeiro ócio, poeta de poucas letras e de muitos copos, quem é autor de um romance, um livro de contos, outro de crônicas e de poemas, crônicas e contos esparsos em diversas publicações. Ele é conhecido como o Bardo do Bixiga, o Vate da Fiel ou o Poeta da Gaviões. Tenho também o meu heterônimo Beppe Molisano, um pedreiro, cozinheiro, peixeiro, cantor, poeta e crítico literário napolitano, quem escreve em italiano e napolitano e é um entusiasta habitante do submundo e amante do bas-fond e de seus desvarios. Por sua vez, o inglês Tony Malvern é uma pena de aluguel, mercenário especializado em poemas amorosos de encomenda por maridos em situações difíceis. Ele escreve em língua inglesa. Iuse Fajin é um professor universitário chinês, em Beijing, observador crítico, acerbo e mesmo desalmado do comportamento humano, quem escreve em mandarim e é traduzido para o português do Brasil por mim.

BE – A autobiografia “O Mundo Segundo Noronha”, foi lançada em maio de 2023. Passados pouco mais de um ano, o senhor lança mais dois livros, como faz para conciliar vida profissional e pessoal?

Durval – Eu sempre dormi pouco, trabalhei muito, mas sem me descuidar das leituras e da atividade de professor, jurista e escritor. Agora, já com 73 anos, me desengajei da maior parte de meu trabalho como advogado e me dedico principalmente a escrever, o que enseja sempre pesquisas e leituras. Organizei minha biblioteca de 17 mil volumes no Instituto Noronha, em Rio Preto, onde desenvolvo hoje grande parte do meu trabalho. O acervo da biblioteca está pela metade do processo de catalogação, parte que se encontra disponibilizada para consulta pública pela Internet pelo Instituto Noronha. Todo o meu acervo cultural pode ser ali encontrado ou nos elos indicados. Ainda passo grande parte do meu tempo em atividades em Nápoles e em Lisboa, onde sou membro da Academia de Letras de Portugal.

BE – Além de escritor, o senhor tem uma bagagem multicultural, quais são seus autores / pensadores preferidos e por quê?

Durval – Eu leio em nove línguas, o que me proporciona um grande leque de opções para satisfazer minha curiosidade intelectual. Infelizmente, ainda não aprendi o grego clássico, o russo e o arábico, mas ainda tenho tempo para tanto. São muitos os meus autores preferidos e é impossível aqui elencar a todos, sem escrever uma história da literatura mundial, o que não seria uma má ideia.

BE – O lançamento da autobiografia e desses dois livros foram em igrejas católicas, em frente à Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida e Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração, respectivamente, sendo os dois últimos com renda 100% destinada para a reforma da igreja e obras assistenciais da Amici d’Italia. O que o motiva a essas atitudes?

Durval – A solidariedade é uma das virtudes propagadas pela Igreja Católica, juntamente com a busca do bem comum e da afirmação dos direitos e responsabilidades de todas as pessoas. Segundo o Bispo Dom Pedro Casaldáliga, a solidariedade é a ternura dos povos. Eu creio que, na posição em que estou, faz parte de minhas responsabilidades a solidariedade social e decidi exercê-la através das ações dentro de minha crença religiosa e humanística. A Basílica é a igreja onde meus pais se casaram e onde meu irmão e eu fomos batizados. A família de minha mãe foi uma das que contribuiu para a sua construção. Ali, o padre Aparecido Torrente tem feito um admirável trabalho, que eu acompanho há muitos anos. Por sua vez, a Igreja da Redentora há décadas tem trazido uma ação social digna de nota, através do Padre Barbas Brandini, também ele de origem italiana, para além de incorporar um tesouro artístico que consiste na via sacra de autoria do grande pintor José Antônio da Silva. Com a queda parcial do telhado, o local sagrado e o seu cabedal cultural encontram-se ameaçados. É fundamental levantar-se recursos para a conclusão das obras. Nos dois casos, a minha contribuição com o valor integral da venda dos livros espero seja complementada pela solidariedade popular a ser prestada diretamente às igrejas.

BE – Em 1978, o senhor inaugurou o primeiro escritório global de advocacia originário de um país em desenvolvimento e o único de origem brasileira, presente em nove países diversos. Ao que o senhor credita a sua trajetória profissional?

Durval – De fato, fundei nesse ano a sociedade Noronha Advogados e a expandi com 21 escritórios em 9 países, 3 dos quais na China, 2 nos EUA, 1 na África do Sul, 1 na Índia, 1 na Suíça, 1 em Portugal e 1 no Reino Unido. No Brasil, estivemos presentes de Manaus a Porto Alegre, com nossa sede mundial situada em São Paulo. Em todos estes países, tivemos milhares de colaboradores. Esta história vem contada em detalhes na minha autobiografia O MUNDO SEGUNDO NORONHA, com mais de 1.000 páginas, que continua à venda em prol das obras sociais da Basílica Menor de Nossa Senhora da Aparecida.

BE – O senhor acredita que alcançou seu objetivo profissional?

Durval – Com muita modéstia, devo dizer que, com a ajuda de meus sócios e colaboradores, fomos além das expectativas com o projeto de Noronha Advogados, com feitos empresariais jamais alcançados, para além de fazer um trabalho social pro bono publico que deixou a sua marca nas relações internacionais, na Academia, no mercado jurídico mundo afora e nos locais onde atuamos.

BE – Ainda tem sonhos / objetivos que gostaria de conquistar?

Durval – Agora que estou encerrando o capítulo Noronha Advogados e no crepúsculo de minha vida, o meu objetivo é desenvolver a minha carreira de escritor e historiador e, através dela, trazer ainda uma contribuição social e cultural ao povo de minha terra natal e do País, onde mais minhas ações possam trazer benefícios. O meu legado é o Instituto Noronha, com sua singular biblioteca de extraordinária importância, e com ações culturais e editoriais que já impactam a vida intelectual do País. Convido as leitoras a visitar a sua mídia social (@institutonoronha), através a qual estou, por exemplo, a escrever em tempo presente o meu novo livro, “Crônicas de Caaporanga”, que reproduz os textos que quinzenalmente escrevo nas ricas páginas do Diário da Região, e que tem tido uma boa acolhida mundial.

Após o lançamento de minhas obras napolitanas darei seguimento ao meu projeto de livro “A História da China Moderna”, o qual será o meu nono sobre aquele fascinante país, que conheço muito bem. Será um trabalho de fôlego, mas já tenho o plano feito e me cabe apenas desenvolvê-lo. Através das notícias publicadas pelo Instituto Noronha, o leitor poderá acompanhar as minhas atividades.

BE – O senhor é um cidadão do mundo. Nasceu no interior do Estado mas hoje tem uma bagagem de conhecimento enorme e se abriu a novas culturas. Qual o segredo? Qual seria o primeiro passo para se lançar a essa vastidão?

Durval – Eu estudei toda minha vida em escolas públicas, nas quais tive uma formação de excelência. Por isso, dedico o meu sucesso a tais entidades e aos mestres que incansavelmente se dedicam ao mister da formação intelectual no País, um dos quais é o meu amado irmão, o professor doutor Celso Goyos, da UFSCAR. A escola pública forma o cidadão, que faz a base da democracia e da sociedade responsável. Ela não se pauta pelo lucro, mas por sua missão excelsa de construção de um futuro melhor e mais justo para a Nação.

Por outro lado, eu sempre tive sede do saber e me tornei um devorador de livros. Nisso, fui incentivado por meu pai, que me levava, quando criança, todas as noites para leituras na biblioteca municipal, que era uma extensão de meu lar, para além de me ensinar o francês, a história do Brasil e a de Portugal. Minha mãe, Maria Verginia Sabella, e meus avós maternos me ensinaram as línguas napolitana e italiana, os valores humanísticos e a dignidade que vem do trabalho. Como costureira, ela financiou algumas de minhas atividades culturais e me apoiou na busca de minha primeira bolsa de estudos no exterior. Por sua vez, o meu amigo, Dom Paulo Evaristo Arns, quem me protegeu em tempos difíceis, ensinou-me que a construção do Bem pode ser feita de mil maneiras.

BE – Qual conselho de vida e / ou profissional o senhor daria para nossos leitores?

Durval – O humanismo deve ser sempre o nosso Norte.

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