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UMA EPIDEMIA CHAMADA CINISMO

COLUNA | SAÚDE MENTALUMA EPIDEMIA CHAMADA CINISMO
O que o mal mais quer é que todos pensem que todos são maus

Em termos gerais, consideramos cínica uma pessoa dada à falsidade, fria e mentirosa, ou que se utiliza de artimanhas ao falar. No entanto, de forma mais precisa, o cinismo é uma atitude marcada pela descrença na sinceridade ou bondade dos outros, frequentemente acompanhada de uma visão pessimista sobre as motivações humanas e a sociedade em geral. Esta postura cética pode se manifestar de diversas maneiras, desde uma atitude sarcástica até uma completa desconfiança em relação às instituições e intenções alheias.

Indivíduos que enfrentam desilusões repetidas ou traições frequentemente adotam uma visão cínica como mecanismo de defesa. O abuso sistemático ou a convivência com figuras de apoio cínicas também propagam essa visão distorcida. A exposição a falhas institucionais, corrupção e injustiças sociais forma um contexto que acaba por fomentar o cinismo, pois, quando as pessoas percebem que sistemas e instituições que deveriam protegê-las estão falhando, a descrença pode se tornar uma resposta natural. Esse processo, muitas vezes inconsciente, visa proteger o indivíduo de futuras decepções.

O cinismo tem se intensificado a tal ponto que, em nosso país, podemos dizer que vivemos uma verdadeira epidemia. Como observa Luiz Felipe Pondé: "O cínico é aquele que descobriu que quase tudo no mundo é vendável, mas perdeu de vista que, apesar disso, existem outros valores circulando no mundo que movem as pessoas", como a responsabilidade, a compaixão e o sofrimento, que carregam em si aspectos humanos mais nobres.

As consequências do cinismo são profundas e abrangentes, tanto para o indivíduo, porque pode significar isolamento social, problemas de saúde mental, dificuldades profissionais e uma qualidade de vida reduzida, quanto para o ambiente ao seu redor: negatividade, deterioração das relações, cultura organizacional tóxica e o potencial de propagação do próprio cinismo. A visão negativa e a desconfiança constante podem contribuir para um estado mental insalubre, tanto para o indivíduo quanto para aqueles que convivem com ele. O cínico justifica o mal que faz, acreditando apenas na maldade alheia, ataca quando pensa que responde, e sua revolta interna o impede de se dar conta de que, no íntimo, se sente um injustiçado. Essa postura promove, para si e para os outros, isolamento e depressão, problemas que, como sociedade, precisamos urgentemente combater.

Compreender suas causas é essencial para abordar e mitigar seus efeitos. Promover ambientes de apoio, incentivar a comunicação aberta e buscar ajuda profissional são passos importantes para superar o cinismo e construir uma visão de mundo mais equilibrada e positiva. Considero vital e urgente lembrarmos dos valores humanos que ainda movem as pessoas e alimentam a esperança de um futuro melhor, combatendo esse marketing que deprecia o que temos de melhor e mais puro, que quer divulgar que o ser humano não tem valores, precificando tudo. Afinal, o que a maldade mais quer é que todos pensem que todos são maus.

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