O ‘macho alfa’ está de volta
O “macho alfa” não é apenas uma nostalgia inocente; é uma fuga das tensões modernas. Sua figura ressurge como uma promessa em tempos de incerteza, quando muitos enxergam uma sociedade caótica e sem direção moral. Ele se apresenta como o protetor, o líder que restaurará a ordem e os valores perdidos. Para homens e mulheres igualmente desorientados, essa imagem exerce um fascínio compreensível. Afinal, quem não deseja segurança nos dias atuais?
Para uma sociedade exausta de incertezas, é uma narrativa sedutora. Mas há um indisfarçável cheiro de naftalina no ar, em que a bússola moral que aponta para o passado foi muito romantizada, exaltando um saudosismo que ignora as complexidades do presente. Os que defendem esse arquétipo não clamam pela volta de tiranias ou pela supressão de direitos conquistados. Trata-se mais de um apelo por equilíbrio, algo que imaginam perdido em meio às mudanças rápidas e desconfortáveis.
No entanto, o que essa figura promete — e não entrega — é a cura para um mal-estar mais profundo: uma desconexão que transcende os papéis tradicionais. Ele simboliza um esforço coletivo para mascarar nosso desconforto com soluções simplistas, vendidas como antídotos mágicos. Os que tentam vestir essa armadura descobrem que ela pesa mais do que protege. O papel exige força emocional, autoridade e liderança genuínas e capacidade financeira bastante privilegiada.
Movimentos como o Red Pill ou os Legendários alimentam a fantasia sobre masculinidade inabalável, mas ignoram o custo que a sociedade pagou pela exaltação de força estéril. Essa visão, mascarada de tradição, é uma tentativa de retroceder diante de avanços que desafiaram papéis rígidos, mas resultaram em altos índices de violência doméstica e abandono parental. A masculinidade propagandeada não é apenas tóxica — é insustentável. Ela foi repetidamente testada e falhou em todas as sociedades; basta olhar para a história.
Homens não precisam ser muralhas inabaláveis, nem as mulheres devem se contentar em orbitá-los. Não precisamos de heróis caricatos, mas de indivíduos capazes de abraçar a imperfeição, colaborar genuinamente e construir relações menos opressivas. Não se trata de escolher entre força e fragilidade, mas de reconhecer que a força bruta é insuficiente diante da complexidade da vida moderna.
A verdadeira segurança está em algo mais amplo — seja espiritual, seja moral — muito além de figuras heroicas. Devemos tentar o equilíbrio entre poder e empatia, liderança e colaboração. Podemos e devemos construir algo mais realista que vai além dos gêneros: relações baseadas em humildade, respeito e apoio mútuo.
O “macho alfa” é um sintoma — do medo, das nossas inseguranças e nostalgias. Mas boas soluções nunca residem no passado e o ser humano é capaz de criar um futuro onde força e vulnerabilidade coexistam, oferecendo segurança e propósito sem sacrificar liberdade e dignidade.