Hiperatividade ou Indisciplina?
A criança que não para um minuto, fala sem cessar e parece estar sempre no limite da energia é muitas vezes o terror dos pais, professores e quem mais cruzar seu caminho. Mas a pergunta que ecoa na cabeça de todos é: é hiperativa ou simplesmente indisciplinada? Antes de empunhar o rótulo, talvez valha a pena mergulhar um pouco mais fundo no emaranhado comportamento infantil.
A hiperatividade faz parte do TDAH (Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade) uma condição neurodesenvolvimental que afeta crianças e adultos. Ele é caracterizado por três principais sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Crianças com TDAH não são simplesmente agitadas; elas têm uma verdadeira batalha interna para controlar impulsos, manter o foco e, muitas vezes, conseguir existir em um mundo que parece não estar preparado para elas.
É um equívoco achar que ser hiperativo é apenas uma questão de energia extra. “Não é só sobre correr e gritar; é sobre não conseguir parar de correr e gritar mesmo quando se quer.” E isso afeta tudo: escola, amizades, família. A condição é um transtorno para a pessoa que o detém, não só para os adultos ao seu redor.
Já a indisciplina é outra história. Aquela criança que faz um escândalo porque quer comer chocolate no café da manhã provavelmente não está sofrendo de um transtorno. Ela está testando limites — ou talvez percebendo que os limites já nem existem. Isso não tem nada a ver com uma condição neurológica e tudo a ver com como os adultos ao seu redor estão lidando com ela.
A criança indisciplinada é como um pequeno cientista social, testando hipóteses: “O que acontece se eu jogar meu prato no chão?” ou “E se eu gritar no supermercado?” Indisciplina geralmente responde bem à consistência, rotina e, aos “nãos” ditos com convicção.
A sociedade tem tido pressa em encontrar respostas para comportamentos desafiadores. Uma boa pista seria observar os comportamentos da criança em diferentes contextos. Se ela vira um anjo na casa da avó, mas um furacão em casa, talvez a questão não seja hiperatividade. Agora, se ela é um furacão em todo lugar, pode ser hora de considerar uma avaliação mais séria.
Outro indicativo é a frequência e intensidade. Crianças hiperativas não têm um “botão de pausa”; não é uma questão de escolha. Já as indisciplinadas sabem muito bem quando podem se safar. São quase admiráveis, quase.
Portanto, antes de sair por aí proclamando que seu filho é hiperativo ou que a criança do vizinho é simplesmente malcriada, talvez seja melhor consultar um especialista. Pediatras, psicólogos e psiquiatras têm as ferramentas e o conhecimento para separar os diagnósticos. Afinal, a linha que diferencia uma criança com muita energia e uma com TDAH é tênue — e o contexto social e familiar nem sempre é levado em conta.
Ao patologizar precipitadamente a infância, corremos o risco de sufocar a singularidade e a criatividade de muitas crianças que apenas precisam de mais espaço para explorar o mundo à sua maneira.
Uma avaliação precisa, evita os riscos de deixarmos as pessoas perdidas entre o julgamento e a omissão. No final das contas, entender a diferença entre hiperatividade e indisciplina é mais do que apenas um exercício de diagnóstico; é uma chance de fazermos melhor por nossas crianças.