Exaustão no trabalho
Na minha juventude, as empresas tinham, além do lucro, um foco em melhorar a qualidade de vida dos funcionários. Investiam em benefícios, capacitação e estratégias para garantir a permanência dos melhores profissionais. Hoje, esse cenário mudou completamente: só a produtividade importa.
Vocês acompanham a meta de produtividade/atendimento de médicos plantonistas? O ritmo frenético do trabalho não apenas ultrapassa os limites da saúde mental, mas também desumaniza aqueles que tentam sobreviver a ele. Jornadas de trabalho que ultrapassam 12 horas, iniciadas muitas vezes ainda durante a formação profissional, como nas residências médicas, não são apenas extenuantes — são abusivas.
As condições de salas de aula de professoras em toda a rede pública de ensino médio?
Em profissões voltadas ao cuidado, como na saúde e na educação, essa situação é ainda mais cruel: o peso emocional de lidar com o sofrimento alheio ou o futuro de uma geração se soma às condições precárias de trabalho.
Na rede pública de ensino, o caos é evidente: classes lotadas, falta de recursos e a desvalorização dos professores não só dificultam a educação, mas também corroem a dignidade daqueles que se dedicam a ela.
A sensação de dívida, de nunca ser suficiente, é a arma psicológica que mantém as pessoas presas a esse ciclo de exploração.
Essa cultura de exaustão não é um acidente — vivemos um sistema deliberadamente projetado para extrair o máximo do trabalhador.
O esgotamento deixou de ser um alerta e passou a ser tratado como um troféu: prova de resiliência, comprometimento e “força” - mas a verdade é bem outra: será extraída até a última gota de energia dele, apenas um pouco antes de descartá-lo. Um atestado emitido por outro trabalhador também desgastado será seu único benefício.
Os resultados dessa exploração desenfreada estão à nossa frente, gritantes e inegáveis. O aumento alarmante de casos de burnout, transtornos de ansiedade e depressão expõem o custo real dessa engrenagem cruel.
Além de destruir a saúde mental, também compromete o futuro de uma sociedade que insiste em ignorar os sinais de colapso iminente.
Vivemos debaixo de um modo depressivo crônico, em que a alegria genuína e o bem-estar são sacrificados em nome da produtividade. A preguiça, o lazer, a contemplação e as artes — fontes essenciais de criatividade e humanidade — são sistematicamente menosprezados pela idolatria ao trabalho incessante. Este desprezo não apenas empobrece nossas vidas individuais, mas também aliena a sociedade de sua capacidade de se reconectar com o que realmente importa.
E, mesmo assim, não conseguimos romper esse ciclo. Nossa estrutura social se sustenta a partir de subempregos, oferecem apenas o mínimo necessário para sobreviver. As pessoas estão constantemente na berlinda, equilibrando pratos sob a ameaça constante de descarte.
Essa precariedade não é casual: é um mecanismo que mantém todos dependentes, sem tempo ou energia para lutar contra a própria exploração.
Podemos nomear nosso modo de vida como uma forma de servição moderna, um tipo de escravidão autoimposta pela ilusão de que temos escolhas reais. Na verdade, estamos presos em uma armadilha estrutural, onde a liberdade de escolher é anulada pela necessidade de sobreviver. Aceitamos condições indignas porque o medo do descarte é maior que a esperança de algo melhor. Esse modelo transforma trabalhadores em servos de um sistema que lucra com sua instabilidade, perpetuando a dependência e a submissão. Para escapar dessa dinâmica é preciso reconhecê-la e resistir a ela, individualmente. Buscar por alternativas que fujam do desumano para encontrarmos meios de vida onde dignidade e trabalho não sejam conceitos opostos.