CONECTADOS E VAZIOS
Tenho a percepção de que passamos por uma crise nas relações românticas, as conexões interpessoais se tornaram superficiais e descartáveis, criando um ciclo de relacionamentos curtos e efêmeros que dificultam a criação de laços profundos e duradouros.
Deixamos de valorizar as pessoas ao nosso redor, as que não oferecem ganho, seja status, seja material.
A ênfase em realizações individuais e o ritmo acelerado da vida, acabaram empurrando as relações para um segundo plano. Além disso, as redes sociais e os aplicativos de relacionamentos prometem facilidade de conexão e intensificam a sensação de que as pessoas são facilmente substituíveis. O acesso fácil a novos contatos pode reforçar a ideia de que não é necessário investir tempo e esforço em uma única pessoa, já que sempre há outra disponível.
Só que essa realidade nos faz ainda mais vulneráveis emocionalmente e a autopercepção de valor diminui ainda mais. Esse sentimento impacta diretamente a autoestima e a capacidade de estabelecer e manter relações saudáveis. Com medo de se machucar, muitas pessoas se retraem e constroem barreiras emocionais, criando um ciclo de desconexão que torna ainda mais difícil o desenvolvimento de vínculos autênticos que requer escuta ativa, empatia e uma disposição real para entender e apoiar.
A falta de profundidade nas relações leva a sentimentos de insatisfação e isolamento, reforçando a ideia de que as conexões são efêmeras. Esse ciclo é autossustentável: as pessoas sentem-se descartáveis, retraem-se emocionalmente, e isso as leva a manter relações cada vez mais superficiais, que, por sua vez, aumentam o sentimento de solidão e angústia.
As pessoas ressaltam o simbólico de um casamento e se esquecem do real, de todas as implicações e responsabilidades. Casar não é uma festa, uma aliança ou um post impactante, pelo menos não deveria ser. É se responsabilizar pelos bens, pela saúde, pela vida social e familiar do outro.
Os homens me parecem viver um momento retroativo conservador, tentando recuperar a retórica do “homem de valor”, mas caindo no contraditório, onde se permitem desassistir os próprios filhos ou tampouco querendo voltar a ser os grandes provedores de uma família, e então repetem para si que não querem mais relacionamentos.
E as mulheres então? Atribuíram tanto valor à beleza física que pensam que tudo lhes é devido. É o declínio dos acordos e propósitos de vida, num jogo de recompensas imediatas. Todos envolvidos em futilidades que não envolvem a rotina e a calmaria de uma vida realmente abastada. É um momento social infantilizado, não existe mais autoridade, nosso grande opressor é o trabalho, dinheiro é a grande religião. Só juventude e corpo são capitais na sociedade do uso e desuso. As consequências estão anunciadas. Ansiedade, alienação, drogadição, hipersexualização, depressão, suicídios.
É preciso ressaltar o valor dos vínculos, com seu potencial de gerar um crescimento mútuo e significativo. A superação dessa crise envolve um movimento intencional de valorizar o outro, de exercitar a paciência e a empatia, e de desenvolver conexões genuínas e profundas, onde cada pessoa se sinta vista e apreciada. A reconstrução do interesse genuíno nas pessoas é essencial para podermos combater essa sensação de descartabilidade e fortalecer nossos laços humanos.