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CARTA AOS PAIS DA GERAÇÃO Z

COLUNA | SAÚDE MENTALCARTA AOS PAIS DA GERAÇÃO Z

Os jovens estão muito angustiados e quanto mais eu trabalho e analiso, mais dou razão a eles. Foram crianças muito amadas, mas os pais só conseguem ver o que deram aos filhos, não enxergam o que lhes falta.

Falam de todo sacrifício que fizeram por eles na sala de consulta sem imaginar que é nessa fala, repetida e exaltada, que fala de amor, facilidades e possibilidades (que obviamente tem custos) que lhes gera culpa e um peso enorme, fruto da insegurança e da incerteza do que essa conta significa.

A violência vem de dentro. O nome? Ansiedade.

Como ela se manifesta? Falta de energia, raiva, vazio existencial, medo do futuro, compulsão, paralisação, impossibilidade de interpretação da própria situação, hiperbolismo dos sentimentos, super valorização dos relacionamentos afetivos, desespero.

Os jovens estão com medo. Sabem que a sociedade os tem julgado pelos critérios mais cruéis do capitalismo chinês, onde não existem valores que não sejam dinheiro e autonomia. O amor dando espaço ao sexo fast food, o afeto baseado em likes que significam cifras de um universo maquiado, histérico e falso.

"Eu quero que meu filho seja feliz." Olhemos, o estrago está feito. A demanda deles é um mundo interesseiro onde as pessoas valem pelo que acrescentam, o egoísmo e o ressentimento os ronda em casa com pais imaturos e emocionalmente feridos. Eles olham para um mundo que devora pessoas, onde ego é mais que família. Não deveriam ter pânico?

E quem é que mais cobra deles o que é impossível entregar?

Falamos em ensinar a respeitar as pessoas num mundo onde o ódio, a desesperança e o desencanto são as principais manchetes.

Espero que compreendam o ressentimento desses meninos e meninas que não tem espaço para descansar, com agendas repletas onde respirar é um esforço constante.

Eles estão com medo e tem razão. Enxergo a cegueira dos pais, o abismo que encontram porque imaginavam que os filhos seriam mais felizes que eles e não adoentados, que os leva a radicalizar quando se paralisam, ofendem os jovens, chamam de mimimi suas dores, que faz com que não encarem com seriedade os primeiros sintomas da ansiedade, que faz com que vejam má vontade ou frescura no transtorno dos filhos. Tenho pena dos dois lados, do enorme desencontro.

"Na sua idade eu já trabalhava” no íntimo lhes rouba a dignidade, destrói a esperança do jovem de ser um dia exemplo de admiração. Não querem estudar ou trabalhar e se sentem incompreendidos sem saber como dizer aos pais que precisam de MAIS ajuda.

A desesperança e a alienação entram em cena: Jogos, bebidas, drogas, hiper sexualização, picos incessantes de esforço e desistência, o isolamento dos pais. Já não existe o discurso aberto.

O que eles não têm? Eles não tem paz. Não é em casa, é dentro da cabeça deles.

O nosso país tem jovens mais ansiosos do que os países em guerra. Temos a sociedade mais competitiva e violenta já vista, os vestibulares avassaladores. Nunca serão bons o bastante, mas, quem seria?

As crianças não estão hiperativas, são os pais que estão hiper passivos e confundem o pedido de uma educação enérgica com licença para usar a agressividade. Falta alguém que lhes diga que a vida não se resume a isso, que lhes tire o celular das mãos, as cifras inatingíveis da cabeça. Que retome o discurso aberto, franco, maduro, que interrompa esse abandono, que os oriente física, intelectualmente, que relembre os valores morais, a importância da religiosidade. Falta verdadeiro amor, aquele que educa dando grande valor a vida deles, aquele que ensina a ter humanidade e nos permite evoluir como sociedade.

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