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AUTOESTIMA EM RISCO

COLUNA | SAÚDE MENTALAUTOESTIMA EM RISCO
Autoestima: qualidade de quem se valoriza, se contenta com seu modo de ser e demonstra, consequentemente, confiança em seus atos e julgamentos

Quando uma criança nasce, muitas vezes encontra pais dedicados, mas também frustrados e sobrecarregados em suas próprias buscas pessoais. Ela percebe o sofrimento e o sacrifício que enfrentam, e essa percepção leva a criança ao desespero de querer ajudar os pais que tanto ama.

O cérebro infantil, ainda em formação, cria fantasias para diminuir a distância entre o desejo e a realidade. Assim, a criança sonha em nunca decepcionar seus pais. Com o tempo, porém, a incapacidade de viver de forma perfeita — sem erros ou frustrações — pode transformar essa promessa interna em um abismo, mergulhando o jovem na paralisia, sem espaço para seus próprios sonhos. Ele não se desenvolve porque não preparou planos para si. Amou mais os pais do que a si mesmo e agora não sabe como recomeçar. A ideia de não decepcionar os pais se torna uma autocobrança gigante, gerando uma massa de adolescentes ansiosos, sem planos de crescimento individual e desprovidos de força. Falta-lhes clareza, e já não sabem onde se perderam.

A espontaneidade da criança dá lugar a uma mente culpada e ansiosa, que já se sente um fardo para os pais. Agora, eles se comparam com a felicidade e o sucesso fakes de um mundo que lhes diz que o sucesso depende apenas de você mesmo. A culpa pesa sobre os ombros; como seria possível caminhar?

Os pais tentam proteger os filhos de suas lutas internas, mas também estão impotentes diante desse ciclo emocional que, dia após dia, ergue ainda mais barreiras. O diálogo já não é mais aberto. Os filhos precisam enxergar o homem por trás do pai, e os pais precisam reconhecer o indivíduo por trás do filho, ambos se debatendo diante das fragilidades emocionais.

As pessoas buscam a fonte de seus problemas emocionais para extirpá-los, mas a raiz do sofrimento vem do amor, algo de que não podemos nos desprender, pois também nos sustenta. A única solução produtiva é aprender a lidar com nossos sentimentos; abandoná-los só nos faria ainda mais mal. O excesso de amor e o ciúme obscurecem nosso caminho, e as pressões de trabalho, comparações absurdas, exigências sociais e o déficit nos relacionamentos amorosos agravam a situação. A alienação é a rota mais rápida para fugir de tanta violência interna.

Isso significa que devemos amar menos nossos filhos? Na verdade, precisamos administrar melhor nossos sentimentos, para que eles possam aprender a lidar melhor com os deles. Encontrar o autoamor, o mesmo que desejamos que tenham.

Se os pais se sentissem mais realizados, com mais saúde e caminhando sem tanto esforço, os filhos poderiam se desenvolver com mais liberdade. Assim, conseguiríamos ser apoio, mas também nos retiraríamos delicadamente como um peso excessivo de suas vidas. A partir do momento em que a criança vai à escola, ela encontra batalhas que deve travar sozinha. Cabe a nós observar distâncias produtivas para ambos, com a humildade de reconhecer nossas imperfeições, de vivenciar nossos próprios lutos e de dar a eles um exemplo de força e resiliência. Que o encontro seja com olhos atentos, mais próximo da delicada arte de ouvir e entender, para extrair a paz e o descanso que só a felicidade genuína oferece, caminhando juntos nessa jornada de aprendizados que é a vida.

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