Liderança Sistêmica
Vivemos um momento em que a tecnologia avança em ritmo exponencial, mas, ao mesmo tempo, somos convidados a olhar para dentro. Essa é uma das grandes contradições da chamada Sociedade 5.0 — altamente conectada, automatizada e inteligente, mas que clama por mais humanidade. Nos últimos artigos, temos refletido sobre como os pilares da Cultura Inovadora Humanizada pode nos orientar neste cenário. Reforçar o pilar da liderança tem tido essencial para transformarmos as culturas e, por isso, tem sido um tema recorrente ao longo do ano nos artigos.
Para falar sobre Liderança Sistêmica, convidei o especialista Beraldo Ricci, fundador do Ser Sistêmico Instituto. Na nossa conversa retomamos a metáfora do líder como alguém que conduz um barco. Em meio às mudanças de maré provocadas pela Inteligência Artificial e por novos modos de viver e trabalhar, é fundamental que essa condução seja feita de maneira mais consciente, tranquila e centrada. Não se trata de acelerar por acelerar, mas de saber para onde estamos indo — e com quem. E para incluir o humano novamente nas estratégias corporativas, é preciso voltar à essência do ser humano, baseada em valores como harmonia, respeito, relacionamento e cooperação.
Quando falamos de pessoas, falamos também de relacionamento. A qualidade do vínculo entre líder e liderados, por exemplo, está diretamente ligada à permanência dos talentos na organização, como já aponta a pesquisa da Gallup. O líder, portanto, é corresponsável pelos resultados não apenas operacionais, mas também relacionais. Mas muito pouco se fala sobre isso. E, pior, muito pouca energia é investida para desenvolver a habilidade relacional do líder. Todas as metas que ele precisa atingir são metas do negócio. Raramente o líder tem clareza das metas que ele assume com as pessoas do seu próprio time.
Nesse sentido, é essencial romper com o modelo da liderança vertical que delega tarefas, mas se esquiva da responsabilidade. Como bem pontuou o Beraldo, “quando um líder procura algo ou alguém para culpar pelo fracasso, ele está assinando seu atestado de incompetência.” A mudança necessária passa por uma nova lógica: liderança horizontal e responsabilidade vertical. Essa virada de chave exige uma nova postura — mais conectada, mais empática, mais comprometida com a saúde dos sistemas em que estamos inseridos. E pela minha própria experiência como mentorado do Beraldo, percebo o impacto enorme que uma simples mudança de postura sobre a mesma coisa pode ter no resultado final que buscamos.
O pensamento sistêmico é, inclusive, uma das principais habilidades elencadas pelo Fórum Econômico Mundial. É a capacidade de enxergarmos o ambiente pela interconexão dos seus elementos. Afinal, nossas ações, mesmo as mais simples, impactam diretamente o equilíbrio de diversos sistemas aos quais pertencemos — da família à empresa. Saber quem pertence ao sistema, quais são os valores inegociáveis, e como mantê-los em harmonia é o que estrutura relações de confiança. Entender a relação entre ordem, pertencimento, equilíbrio e competência pode ser transformador para uma liderança sistêmica na sua organização.
Muitas vezes gastamos muita energia tentando mudar algo. Mas sem perceber a conexão sistêmica do que queremos mudar, talvez gastemos mais energia à toa. Quando entendemos a relação sistêmica na organização, muitas vezes uma simples mudança de postura com um esforço mínimo poderá trazer a verdadeira mudança de maneira muito mais sutil. O mais difícil nesse dia-a-dia acelerado das lideranças é conseguirem se permitir ter tempo para se dedicar a algumas sutilezas essenciais nas relações interpessoais. Lidar com o ser humano realmente dá trabalho! Mas esse é o verdadeiro papel de um líder.