Automotivação
Na semana passada, por conta do artigo de celebração da nossa marca dos 100 artigos nesta coluna, acabei interrompendo o fluxo de artigos direcionados aos aspectos da autoliderança. Mas hoje retorno ao ciclo dos artigos direcionados ao “auto” para fecharmos com o tema da automotivação.
É cada vez mais complexo nosso contexto social e as siglas VUCA e BANI nascem justamente da tentativa de trazer algum contorno para essas transformações sociais que impactam diretamente o ambiente de trabalho e, consequentemente, o papel da liderança. Com a disseminação das redes sociais, é cada vez mais comum buscarmos o reconhecimento externo como combustível para a ação. Mas sabemos que os fatores externos até conseguem realmente nos motivar a agir. Porém, essa motivação só se sustenta frente a todos os desafios e obstáculos que enfrentamos se estiver conectada com o propósito individual. Caso contrário, não há bônus ou prêmio que resolva o problema de retenção e engajamento.
A automotivação é uma força silenciosa, porém extremamente poderosa, que nasce de dentro. Em um bate-papo recente com o especialista Dioni Damázio na Comunidade Reinvente, ele nos ajudou a mergulhar nesse tema. Entender o que nos motiva é parte fundamental do caminho rumo a uma liderança conectada com o propósito, base para uma cultura inovadora humanizada que tenho disseminado.
A automotivação, diferentemente da motivação extrínseca, não depende de prêmios ou ameaças. Ela nasce do autoconhecimento, da autodeterminação e da clareza de propósito. Empresas que apostam em ambientes com autonomia, significado e espaço para crescimento pessoal estão naturalmente construindo esse tipo de cultura. São lugares onde as pessoas não esperam ordens para agir — elas agem porque sabem o porquê. E esse “porque” é o que dá sentido ao fazer cotidiano, mesmo diante dos desafios.
Propósito, maestria e autonomia são os três pilares que sustentam a motivação verdadeira. E o mais interessante: eles não precisam ser implantados como grandes projetos — basta que líderes estejam dispostos a ouvir, confiar e abrir espaço para que cada pessoa descubra suas próprias respostas. Quando uma empresa permite que um colaborador desenvolva um projeto alinhado com seus valores pessoais, por exemplo, ela não só o motiva, ela permite que o poder da conexão se fortaleça na sua cultura.
A cultura inovadora humanizada propõe um redesenho das relações de trabalho a partir da escuta, do cuidado e do desenvolvimento mútuo. E isso passa, inevitavelmente, por entender o que move cada pessoa. Como bem destacou Dioni, “o que nos faz continuar quando ninguém está olhando é o que revela nossa força mais genuína.” Por isso, mais do que buscar motivar pessoas com fórmulas prontas, precisamos aprender a criar ambientes onde a motivação possa florescer desta conexão de dentro (propósito individual) para fora (propósito coletivo)...
Um exemplo simples e poderoso que vivi recentemente para superar um desafio com minha própria equipe na CCLi. Para entendermos o problema, nossa diretora de experiência desenhou uma rodada de conversa com perguntas reflexivas que nos ajudaria a entender melhor a natureza o problema para buscarmos soluções. O resultado da conversa foi tão impactante para cada colaborador envolvido que o problema simplesmente sumiu depois desta escuta ativa que ajudou que cada um pudesse se reconectar com sua própria motivação com o propósito que vivemos. E essa escolha de cada um de fazer melhor porque escolheram por si mesmas este caminho, somada à autonomia que o ambiente proporciona, fez a mágica acontecer. Muitos problemas acabam sendo cultivados nas empresas porque ninguém tem de verdade motivação para querer resolver. Pense nisso, pois podemos ter formas muito mais eficazes para liderar. E a escuta ativa é uma forma poderosa de motivar qualquer equipe.