‘Partículas elementares’
Michel Houellebecq (1956-) é um escritor polêmico. Sua escrita, ácida e profundamente irônica no trato de temas e costumes da cultura ocidental, já despertou muitas críticas. Dentre elas, a de eventualmente ser reacionária, racista ou antifeminista. O fato é que seu texto traz elementos que envolvem o leitor, mas também lhe provocam repugnância.
Houellebecq já teve suas posições confundidas com as dos personagens que criou. Considerando a contundência de seu texto e as questões espinhosas em que se embrenha, sexo e religião, por exemplo, a coisa se torna ainda mais intensa. Principalmente porque o escritor francês não se esforça em atenuar mal-entendidos, satisfeito em ser um autor “maldito”.
“Partículas elementares” (1998) é o segundo romance de Houellebecq e teve sucesso e repercussão gigantescos quando foi lançado. Foi por meio dessa história que Houellebecq alcançou notoriedade mundial. E, claro, tornou-se alvo de intensa discussão.
O romance traz a história dos meios-irmãos, Bruno e Michel. Filhos da mesma mãe, uma mulher que viveu a onda libertária dos anos 60 e 70 e transitou pelos mais representativos movimentos do período, do hippie ao new-age, eles souberam da existência um do outro quando adolescentes (apesar de estudarem na mesma escola). Ambos foram criados pelas avós paternas que fizeram o possível para suprir o vazio deixado pela ausência dos pais.
Bruno é professor de literatura, escritor frustrado, é um personagem racista e misógino. Viciado em pornografia, o que parece mover seus dias, especialmente a partir de certo ponto de sua vida, é a busca e a prática de formas promíscuas de sexo. Detalhe: suas experiências sexuais são detalhadamente descritas no romance, o que rendeu a Houellebecq a alcunha de pornográfico.
Michel é biólogo e pesquisador. Diferente do irmão, leva uma vida monástica, de quase renúncia ao sexo, envolto em seu trabalho. Ele é um geneticista que trabalha em um projeto que visa possibilitar que os seres humanos se reproduzam prescindindo da reprodução sexuada. Aliás, mais do que isso, ele quer criar condições para o surgimento de um homem aprimorado, espécie de clone fabricado em laboratório, e livre dessa condição e, assim, menos afeito a sofrer e causar sofrimento.
Bruno e Michel são filhos do amor livre, de um mundo saturado pelas drogas e pela busca por uma plenitude libertária. O resultado, porém, é a solidão, o esgarçamento das relações, a fragilidade dos vínculos. Isso não significa dizer que, não fosse esse contexto, suas vidas e relacionamento teriam um sentido maior. Pelo contrário, Houellebecq expõe o vazio da existência e a solidão que ronda a condição humana.
Talvez seja por isso que “Partículas elementares” é, por vezes, tido como livro demolidor e desconcertante. Vale a pena checar se Houellebecq faz ou não o seu estilo!
Michel Houellebecq
Editora: Sulina
Páginas: 296 (2016)
Preço: R$ 69,90 (Em sebos virtuais a partir de R$ 59,90)