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O MITO DO CADERNO CHEIO

COLUNA | EDUCAÇÃOO MITO DO CADERNO CHEIO
Nem antigamente e nem atualmente o caderno cheio é garantia de aprendizado

Há alguns anos quando os conteúdos escolares eram trabalhados apenas com giz e lousa, firmou-se no senso comum a ideia de que o bom professor era aquele que enchia o quadro de ponta a ponta e que mandava listas de exercícios para fazer em casa. O bom aluno era aquele que copiava tudo e com letra bonita. E tudo era igual para todo mundo. Era errado? Era um problema? Não vejo assim. Muitos de nós aprendemos com esses recursos. Era o que existia e serviu como base para avanços na Educação, na Legislação, na Ciência e na Tecnologia que continuam acontecendo.

Hoje, existem estudos neurocientíficos, variadas metodologias e estratégias pedagógicas, recursos de tecnologia assistiva, avaliações clínicas, informações, pesquisas e evidências científicas a respeito de tudo isso e sobretudo, a preocupação com o desenvolvimento do indivíduo, suas necessidades e potencialidades. Tudo é diferente, mas uma coisa ainda persiste no senso comum: o tal do caderno cheio. Parece que tudo evolui menos a compreensão de como se dá a aprendizagem e o desenvolvimento.

Trabalhando na área da Educação e, principalmente, na Coordenação da Educação Especial me deparo com famílias que ainda pensam que o filho precisa ter todos os conteúdos copiados no caderno igualzinho aos seus colegas mesmo que, para este, o plano de ensino seja diferente em razão de suas especificidades.

O caderno cheio traz uma falsa sensação de tranquilidade que ameniza a angústia diante de uma realidade difícil, mas que pode também mascarar a necessidade de apoios especializados para um desenvolvimento real. Nem antigamente e nem nos dias de hoje o caderno cheio é garantia de aprendizado.

A aprendizagem e o desenvolvimento de uma pessoa iniciam assim que ela nasce e interage com a realidade. Aprendemos ouvindo, vendo, sentindo, fazendo. Enfim, aprendemos vivendo. Uma enorme parte das nossas aprendizagens acontece informalmente. O conteúdo escolar é sistematizado para fins didáticos e organizacionais, mas nem por isso deve ficar restrito a meras cópias.

Há uma infinidade de metodologias e estratégias multissensoriais que podem ser usadas na escola para contribuir com o desenvolvimento dos alunos ampliando suas experiências e seu conhecimento. Não significa que se o caderno vai vazio para casa, os alunos não fizeram nada. Aulas sobre meio ambiente e cultivo sustentável acontecem com maior riqueza numa horta do que escrevendo um relatório. Experiências de química num laboratório fazem muito mais diferença na prática dos alunos do que anotações no caderno.

Não estou de forma nenhuma invalidando o registro escrito, mas pensando também por um prisma ainda maior não tenho dúvidas de que o caderno seja um espaço muito limitado para conter todo o mundo que existe numa cabecinha em pleno desenvolvimento.

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