BRINCADEIRA É COISA SÉRIA
As dificuldades de algumas crianças durante a alfabetização podem acontecer por diversas razões, mas uma delas é cada vez mais recorrente: muitas crianças não têm tempo para serem crianças. Com toda a globalização, a tecnologia e a corrida pelo sucesso profissional, algumas famílias criam altas expectativas para seus filhos adultos e desconsideram a infância dedicando-se à fabricação de pequenos gênios.
Crianças tem agendas lotadas como adultos. Mil atividades além da escola. Em algum momento o esgotamento dá sinais de alerta: baixo rendimento escolar, mal-estar físico, ansiedade, dispersão, angústia, depressão. As medicações que antes adultos usavam estão cada vez mais comuns nas vidas das crianças. Diante das dificuldades, pais procuram psicólogos, psicopedagogos e assumem mais compromissos para os filhos, trabalhando eles também ainda mais. As demandas infantis são terceirizadas.
Atividades como esportes, cursos de línguas, informática, etc. são boas, mas sem excessos. Profissionais clínicos e medicação muitas vezes são necessários, mas a agenda cheia e a pressão das exigências são problemas que não precisam existir. Nós pais, precisamos priorizar o tempo com os filhos e lembrar que a infância precisa ser vivida. Ela é o alicerce para uma vida adulta produtiva e equilibrada.
As grandes necessidades da infância são o amor e a brincadeira. Crianças desenvolvem habilidades físicas, cognitivas e socioemocionais brincando.
Hoje a própria Educação Infantil já adianta a alfabetização quando a prioridade nessa fase é brincar. Os pais exigem a precocidade da leitura e da escrita e mesmo sem prontidão neurológica para a alfabetização, ela começa cada vez mais cedo. Aí está a dificuldade que muitas enfrentam: exige-se um processo para o qual as crianças ainda não desenvolveram habilidades fundamentais. Assim a alfabetização acaba demorando ainda mais. Na verdade, o movimento deve ser exatamente o contrário. Se as crianças brincam, elas desenvolvem pré-requisitos para a alfabetização e isso acontecerá naturalmente.
Jogando bola, por exemplo, a criança exercita coordenação visomotora, equilíbrio, reflexos, localização espacial, atenção, raciocínio lógico e tantas outras habilidades. Nas brincadeiras em grupo, aprende-se a respeitar regras de convívio, aprimora-se a comunicação, exercita-se a empatia e a resolução de conflitos, acionando habilidades cognitivas para a tomada de decisões. Nas brincadeiras surgem liderança, oposição, conciliação e assim se constrói temperamento, personalidade e caráter.
Pais, crianças não tem a obrigação de corresponder às nossas expectativas e não são responsáveis por compensar as nossas frustrações. Deixemos que sejam apenas crianças, a herança que Deus nos confiou. E nós, sejamos pais, somente isso e isso é tudo.