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CICLO MENSTRUAL

ArtigoCICLO MENSTRUAL

As mulheres representam mais da metade da população mundial e têm ciclos menstruais em média uma vez por mês durante quarenta anos de suas vidas. Esse processo biológico é geralmente invisibilizado pela sociedade em geral — inclusive pelos médicos e cientistas — mas pode revelar várias utilidades clínicas até então negligenciadas. O primeiro ponto é que devemos considerar o ciclo menstrual como um sinal vital importante para o diagnóstico de doenças sexuais, reprodutivas, sistêmicas e indicador de alterações endometriais, além de ser uma fonte de células progenitoras viáveis para terapia celular.

No entanto, existe um tabu em relação ao ciclo menstrual. Estudos demonstram que somente um pequeno percentual de pacientes descreve suas preocupações menstruais para os médicos. No Reino Unido, em 2010, foi constatado que apenas 38% das mulheres com menorragia, menstruação prolongada e dolorosa, informavam ter o sintoma, o que pode ser um sinal importante de desequilíbrio hormonal que afeta a saúde da mulher. Outro dado é que 80% das adolescentes com sintomas menstruais alarmantes não procuram assistência médica e quase um terço delas declara considerar muito embaraçoso falar sobre o assunto.

Um estudo na Espanha em 2020, com estudantes de enfermagem, mostrou que mais da metade não havia consultado um médico para tratamento por considerar o quadro “normal e natural”. No mesmo estudo, algumas participantes relataram que haviam procurado um profissional, mas que ele desconsiderou o problema e prescreveu analgésicos ou contraceptivos sem perguntar detalhes.

Assim, não falar sobre o assunto teve consequências e, por muito tempo, houve escassez de pesquisas sobre o tema, que simplesmente “foi deixado de lado” por muitos anos. Felizmente, a entrada das mulheres na pesquisa médica e científica e o crescente ativismo menstrual em todo o mundo gerara, nos últimos anos, uma grande quantidade de informações que têm nos mantidos atentos. O American College of Obstetricians and Gynecologists Committee on Adolescent Health Care elaborou um documento atualizado em 2021, afirmando que o ciclo menstrual deveria ser usado como sinal vital e recomendou que os médicos treinem as meninas e seus responsáveis com antecedência para que saibam o que esperar da menarca e conheçam os padrões de normalidade menstrual, a fim de promover a autoconsciência e a atenção para os casos que possam exigir intervenção médica imediata ou no futuro.

A composição do sangue menstrual é uma oportunidade adicional de monitorar a saúde da mulher, pois apresenta uma gama mais ampla de características físicas e químicas quando comparada ao sangue da circulação sistêmica. Assim, no início de 2024, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos aprovou o primeiro absorvente higiênico contendo um dispositivo que coleta o fluxo menstrual, mais moderno do que os que já existiam, para que possa ser usado na quantificação da hemoglobina glicada e na realização de testes laboratoriais. O kit já está à venda nos EUA, e os seus idealizadores informam que pretendem torná-lo mais econômico, realizando assim o monitoramento preventivo da saúde da mulher e utilizando o sangue menstrual como fonte de células progenitoras para terapia celular.

As vantagens descritas em relação ao sangue de outras fontes vão da ausência de necessidade de métodos invasivos de coleta, grande capacidade de proliferação, curto tempo de duplicação além de outros atributos, o que as qualificou como uma fonte ideal de células regenerativas para transplantes, distúrbios neurológicos e tratamentos oncológicos.

A educação sobre este sinal clínico ignorado deve ser observada em todas as suas nuances para o tratamento da saúde da mulher. e o ciclo menstrual encarado como uma oportunidade de avanços terapêuticos até então relegados e invisibilizados.

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