TABAGISMO
O Dia Nacional de Combate ao Fumo, que será celebrado na próxima quinta-feira, 29 de agosto, tem como objetivo conscientizar a população sobre os riscos associados ao uso de produtos derivados do tabaco e os benefícios de abandonar o hábito de fumar. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo é a causa de mais de 8 milhões de mortes anuais em todo o mundo. Somente no Brasil, mais de 400 pessoas perdem a vida diariamente devido aos efeitos prejudiciais do tabaco.
O câncer de pulmão é uma das principais doenças relacionadas ao tabagismo, sendo responsável por 85% dos casos diagnosticados, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Dados da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD) da Secretaria de Estado da Saúde mostram que, entre janeiro de 2023 e março de 2024, apenas no estado de São Paulo, foram realizados 25.072 procedimentos clínicos ambulatoriais para o tratamento de câncer de pulmão e 28.591 para câncer de boca. Ambos os tipos de câncer, assim como os de lábio, faringe e esôfago, estão diretamente relacionados ao uso do cigarro.
“Os mecanismos que ligam o tabagismo ao desenvolvimento do câncer são complexos, mas podem ser resumidos como a inflamação das células pulmonares ao longo de longos períodos, resultando em desgaste e estresse crônico, além de acúmulo de mutações no DNA das células. Quando essas mutações afetam a regulação do processo de divisão celular, pode ocorrer o surgimento do câncer”, explica o médico oncologista clínico Bruno Cezar Uchôa, do Hospital de Base de Rio Preto.
Entre outros malefícios, o fumo também prejudica o sistema cardiovascular ao danificar as paredes dos vasos sanguíneos e favorecer a formação de placas de gordura nas artérias. “Com o tempo, essas placas podem obstruir o fluxo sanguíneo, levando a condições graves como angina, infarto e AVC”, afirma o médico Elzo Mattar, cardiologista e diretor clínico do Hospital de Base de Rio Preto.
Além do marketing
Embora sejam frequentemente considerados menos prejudiciais, os cigarros eletrônicos têm efeitos nocivos comparáveis aos dos cigarros tradicionais. Segundo o pneumologista Leandro Salviano, da Clínica Salviano em Rio Preto, o uso desses dispositivos aumenta o risco de doenças pulmonares, como enfisema e doença pulmonar obstrutiva crônica, além de causar inflamação pulmonar e agravar condições respiratórias, como a asma.
“Os cigarros eletrônicos também estão associados a um maior risco de câncer de pulmão e de outros cânceres no trato respiratório, como faringe e boca. Além disso, eles podem favorecer doenças infecciosas respiratórias, como gripes, influenza, pneumonia, tuberculose e Covid-19, ao comprometer a primeira linha de defesa do sistema respiratório e tornar o indivíduo mais vulnerável a essas infecções”, afirma Salviano.
O especialista alerta que os efeitos dos cigarros eletrônicos não se limitam ao sistema respiratório. Eles estão associados a um aumento na incidência de doenças cardíacas, como infarto e arritmias, e podem elevar o risco de acidente vascular cerebral (AVC) devido à sua ação inflamatória. Além disso, há evidências de que o uso pode agravar problemas psiquiátricos, como síndrome do pânico, ansiedade, depressão e outros transtornos de humor. “É importante ressaltar que esses riscos não afetam apenas os usuários. O tabagismo passivo também expõe as pessoas ao redor aos mesmos efeitos prejudiciais à saúde.”
30 minutos: a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos se normalizam
2 horas: não há mais nicotina circulando no sangue
8 horas: o nível de oxigênio no sangue se normaliza
12 a 24 horas: os pulmões começam a funcionar melhor
2 dias: o olfato e o paladar se tornam mais sensíveis, permitindo perceber melhor os cheiros e saborear a comida com mais intensidade
3 semanas: a respiração se torna mais fácil e a circulação sanguínea melhora
1 ano: o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade
10 anos: o risco de sofrer um infarto é equivalente ao das pessoas que nunca fumaram
Fonte: Elzo Mattar, cardiologista e diretor clínico do Hospital de Base de Rio Preto
Sintomas de doenças relacionadas ao tabagismo:
Expectoração frequente e aumentada
Expectoração com sangue
Cansaço extremo ao esforço físico
Chiado no peito
Dor torácica constante
Falta de ar
Lesões na boca e lábios
Perda de peso inexplicada
Rouquidão
Tosse persistente
Fonte: Cardiologista Elzo Mattar e oncologista clínico Bruno Cezar Uchôa
Em julho deste ano, a OMS divulgou o primeiro conjunto de diretrizes globais voltadas para a luta contra o tabagismo. As medidas incluem suporte psicológico oferecido por profissionais de saúde, intervenções digitais e tratamentos com medicamentos. De acordo com a entidade, entre os 1,25 bilhão de adultos que usam tabaco no mundo, mais de 750 milhões querem parar de fumar. No entanto, 70% não têm acesso a serviços adequados.
Em Rio Preto, o grupo antitabagismo está disponível nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do Estoril, Solo Sagrado e Vila Toninho. Para participar, os interessados devem se inscrever na UBS de referência. O tratamento inicia com uma triagem feita por profissionais de saúde, que avaliam o histórico do paciente em relação ao tabagismo. Após isso, o paciente é encaminhado para exames e começa o tratamento em grupo.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Rio Preto, o programa inclui inicialmente quatro encontros semanais, seguidos por quatro encontros quinzenais, totalizando três meses de acompanhamento. Durante o tratamento, os pacientes recebem medicamentos prescritos pelo médico, conforme o protocolo do Ministério da Saúde, para auxiliar no processo de cessação do tabagismo. Após o término dos encontros, os pacientes continuam sendo monitorados pela equipe até que consigam parar de fumar e interromper o uso dos medicamentos.
Em um contexto mais amplo, em todo o País é oferecido tratamento gratuito para pessoas que desejam parar de fumar, por meio de um programa promovido pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), e coordenado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Desde 2019, o País foi o segundo a adotar todas as recomendações da OMS para reduzir o uso de tabaco. Como resultado, o número de fumantes diminuiu significativamente na última década.
Principais tipos de câncer causados pelo tabagismo:
Pulmão
Laringe (cordas vocais)
Cavidade oral
Faringe
Esôfago
Estômago
Bexiga
Pâncreas
Fígado
Colo de útero
Rins
Outras doenças relacionadas ao consumo de tabaco:
Bronquite crônica
Enfisema
Asma
Infecções respiratórias
Doença aterosclerótica (formação de placa de gordura nas artérias)
Infarto agudo do miocárdio
Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Complicações cardiovasculares, como aneurisma da aorta abdominal
Hipertensão arterial (pressão alta)
Úlcera gástrica
Osteoporose
Catarata
Infertilidade
Disfunção erétil
Fonte: Elzo Mattar, cardiologista e diretor clínico do Hospital de Base de Rio Preto