RISCOS ASSOCIADOS AO USO DE ANABOLIZANTES
Os esteroides anabolizantes androgênicos (EAA) são altamente eficazes na promoção do crescimento muscular. Entretanto, o uso indiscriminado desses medicamentos está associado a uma série de efeitos adversos graves, incluindo morte súbita devido a doenças cardiovasculares. Recentemente, um estudo dinamarquês publicado na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association), uma das mais conceituadas do mundo, revelou que o uso dessas substâncias aumenta em quase três vezes o risco de morte.
No Brasil, desde o ano passado, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu a prescrição para fins estéticos, aumento de massa muscular ou melhoria do desempenho esportivo. A restrição não se aplica ao uso de anabolizantes para o tratamento de doenças e condições médicas específicas, cujos benefícios são comprovados e superam os riscos.
Conforme explica o cirurgião cardiovascular Edmo Atique Gabriel, o uso inadvertido pode ter efeitos negativos sérios, especialmente à saúde do coração. Entre as possíveis consequências, está a hipertrofia do músculo cardíaco. “Para funcionar corretamente, o coração necessita de um fluxo sanguíneo adequado e de uma estrutura muscular saudável. Caso haja uma redução no fluxo sanguíneo ou alterações na estrutura das fibras musculares, como ocorre na hipertrofia (aumento do tamanho do músculo cardíaco), o risco de infarto aumenta.”
De acordo com o médico, tanto um coração dilatado quanto um coração hipertrofiado (mais 'musculoso') podem gradualmente perder sua capacidade de bombeamento, e essa deficiência é um sinal de alerta para uma possível falência cardíaca súbita. “O uso de anabolizantes aumenta o risco de coagulação excessiva do sangue, o que pode levar à formação de coágulos (ou trombos) que, em qualquer parte do sistema circulatório, podem causar obstrução dos vasos sanguíneos. Essas alterações são o mecanismo de base para infarto do coração e alguns tipos de acidente vascular cerebral (AVC)", completa Edmo.
Os anabolizantes são substâncias derivadas de hormônios masculinos, especialmente a testosterona, mas que possuem um efeito mais voltado para o aumento da síntese de proteínas (efeito anabolizante) do que para a masculinização (efeito androgênico). “Esse efeito anabolizante promove um aumento na incorporação de nitrogênio no corpo, o que, por sua vez, favorece o crescimento e desenvolvimento dos músculos e ossos”, explica endocrinologista e metabologista do Hospital de Base de Rio Preto, Antônio Carlos Pires.
Ainda de acordo com o médico, no caso dos idosos com sarcopenia, que é a perda de massa muscular relacionada à idade, por exemplo, os anabolizantes podem ajudar a melhorar a massa muscular e reduzir o risco de fraquezas e fraturas. “Devem ser usados apenas com prescrição e supervisão médica e somente em casos específicos e por um período limitado, cuidadosamente monitorado”, afirma.
A médica Priscila Nascimbeni Matos, especialista em endocrinologia e metabologia, reforça que os anabolizantes devem ser utilizados apenas em situações específicas, como deficiência comprovada de testosterona, na transição de gênero para homens trans, e em algumas terapias de exceção, incluindo, por exemplo, casos de caquexia extrema, caracterizada por perda significativa de massa muscular, gordura e massa óssea, geralmente observada em pacientes com AIDS ou queimaduras graves, sempre com acompanhamento médico e monitoramento adequado.
O acompanhamento é essencial para avaliar as dosagens de testosterona e garantir que os níveis desses pacientes permaneçam dentro da normalidade, evitando excessos. “Também é necessário monitorar possíveis complicações associadas ao uso de anabolizantes, incluindo a função hepática, função renal e hemograma, para prevenir hemoconcentração. Apesar de serem utilizados em situações apropriadas, ainda assim, esses medicamentos podem causar efeitos colaterais. Portanto, não existe dose segura nem acompanhamento médico que garantam a segurança do uso indevido de anabolizantes”, afirma Priscila.
Em mulheres
Atrofia mamária (diminuição do tamanho das mamas)
Engrossamento da voz
Aumento do clitóris
Crescimento de pelos em áreas não comuns
(como no rosto)Oleosidade excessiva da pele
Acne
Queda de cabelo
Aumento da pressão arterial
Agressividade e alterações de humor
Em homens
Ginecomastia (aumento do tamanho das mamas)
Atrofia testicular (diminuição do tamanho dos testículos)
Interrupção na produção de testosterona
Agressividade
Aumento da pressão arterial
Acne grave
Impotência
Diminuição da produção de espermatozoides, que pode levar à infertilidade
Fonte: endocrinologistas Priscila Nascimbeni Matos e Antônio Carlos Pires