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Quando os olhos piscam sozinhos

SaúdeQuando os olhos piscam sozinhos
Transtorno de causa neurológica, o blefaroespasmo que costuma surgir após os 40 anos e afeta uma a duas pessoas a cada 100 mil, principalmente as mulheres

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Você está tranquilo e, de repente, percebe as sobrancelhas se movendo involuntariamente, como se os músculos ao redor dos olhos contraíssem por conta própria. Esse quadro pode ser sinal de blefaroespasmo, um distúrbio neurológico raro que costuma surgir após os 40 anos e afeta, em média, uma a duas pessoas a cada 100 mil, com maior incidência entre as mulheres.

Caracterizado por contrações involuntárias das pálpebras, o que pode provocar irritação ocular, ressecamento e até prejudicar a produção de lágrimas. Segundo o neurologista Egberto Reis, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, “este é considerado um transtorno neurológico não genético, do grupo das distonias idiopáticas, sem causa definida, em que há uma desorganização de circuitos motores que controlam os movimentos. Raramente pode estar associado ao uso de medicamentos do grupo dos antipsicóticos utilizados no tratamento de doenças psiquiátricas”.

O diagnóstico costuma ser desafiador, já que os sintomas podem ser confundidos com alterações oftalmológicas, especialmente aquelas que afetam a córnea. “O diagnóstico do blefaroespasmo é essencialmente clínico. Geralmente não se recorre a exames complementares, mas uma eletromiografia dos músculos das pálpebras pode documentar a presença das contrações involuntárias”, explica o especialista.

Emanuele Renata Tonolli Pavani, oftalmologista e professora da Faculdade de Medicina Faceres, acrescenta que além do diagnóstico clínico, também pode ser detectado através do exame oftalmológico e neurológico. “Raramente pode estar associado ao uso de alguns antipsicóticos ou antidepressivos. Avaliamos o histórico do paciente e observamos os movimentos involuntários das pálpebras, que costumam ser frequentes e impactar a rotina. Em geral, não são necessários exames complementares”.

Outras condições podem se confundir com o blefaroespasmo, como tiques nervosos, a síndrome de Meige e a síndrome de Brueghel — todas caracterizadas por espasmos que afetam também outras regiões da face, como a mandíbula. O espasmo hemifacial, que atinge apenas um dos lados do rosto, também entra no grupo dos diagnósticos diferenciais, assim como quadros de olho seco severo, entrópio e triquíase, que provocam piscar excessivo.

“Por isso, é fundamental procurar um oftalmologista ou neurologista para um diagnóstico correto. Cada condição tem causas e tratamentos diferentes, e identificar corretamente o blefaroespasmo é o primeiro passo para melhorar a qualidade de vida do paciente”, ressalta Emanuele.

Fatores que agravam e como aliviar

Situações de estresse emocional, fadiga intensa e exposição à luz forte — como sol direto ou iluminação artificial intensa — estão entre os fatores externos que podem agravar os espasmos. O médico Thiago Pizarro, oftalmologista, destaca: “Muitos pacientes relatam aumento dos sintomas em ambientes com claridade excessiva. Por isso, o uso de óculos com lentes fotossensíveis ou com filtro azul pode ajudar bastante no conforto visual e na prevenção de crises. Técnicas de relaxamento e controle do estresse também são bem-vindas como parte do manejo da condição”.

Tratamentos disponíveis

O tratamento mais eficaz é atualmente a aplicação de toxina botulínica, que bloqueia temporariamente os impulsos nervosos responsáveis pelas contrações.

“É um procedimento seguro, minimamente invasivo e com alto índice de melhora dos sintomas. Em casos mais resistentes ou avançados, podemos considerar intervenções cirúrgicas, como a miectomia — remoção de parte do músculo orbicular dos olhos —, mas essas são situações mais raras. Também é importante investigar se há doenças neurológicas associadas, o que pode direcionar o tratamento de forma mais ampla”, explica Thiago.

Embora o blefaroespasmo não represente risco direto à visão, o impacto funcional e emocional pode ser significativo. A dificuldade para manter os olhos abertos pode comprometer atividades cotidianas como ler, dirigir, assistir à TV ou trabalhar, o que, em muitos casos, leva ao isolamento social e sintomas depressivos. “Minha principal orientação é não negligenciar os sintomas. Quanto mais cedo o diagnóstico, mais eficaz é o tratamento. Reforço também a importância de procurar um oftalmologista especializado, manter a regularidade nas aplicações da toxina botulínica, proteger os olhos da luz e buscar apoio psicológico quando necessário. A qualidade de vida pode ser amplamente recuperada com o cuidado adequado”, reforça Thiago.

Egberto Reis acrescenta que, em alguns casos, os espasmos podem se estender para regiões próximas, como a asa do nariz, os lábios e a mandíbula. Embora não exista cura definitiva, o controle é possível: a toxina botulínica reduz o desconforto em até 80%, mas sua ação tem duração média de três meses — sendo necessária reaplicação contínua, possivelmente ao longo da vida. Em situações raras, quando a toxina não surte efeito, pode-se recorrer à cirurgia de ressecção parcial dos músculos palpebrais.

Mais do que um incômodo passageiro, o blefaroespasmo é uma condição que exige atenção e acompanhamento médico especializado.

“O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem fazer toda a diferença na rotina e no bem-estar dos pacientes”, conclui a oftalmologista Emanuele Tonolli.

Principais sintomas:

Contrações involuntárias das pálpebras

Irritação ocular

Ressecamento dos olhos

Diminuição da produção lacrimal

Dificuldade para manter os olhos abertos

Piscar excessivo

Fonte: neurologista Egberto Reis,

do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

O que pode piorar os sintomas:

Estresse emocional

Fadiga física ou mental

Exposição à luz intensa (natural ou artificial)

Ambientes com claridade intermitente

Fonte: médico multiespecialista em oftalmologia Thiago Pizarro

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