O Brasil é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o País com a maior população ansiosa do mundo e o mais depressivo da América Latina. Ambas as condições são consideradas os transtornos de saúde mental mais comuns que afetam diferentes faixas etárias, com maior prevalência entre as mulheres. Embora variem em gravidade, muitas vezes os sintomas não são percebidos, mas impactam o bem-estar psicológico, emocional, cognitivo e social. A falta de informação ou o medo e a vergonha de procurar ajuda agravam ainda mais a situação, atrasando o diagnóstico e o início do tratamento.
Para enfrentar esse desafio, a campanha Janeiro Branco visa promover a conscientização sobre a importância da saúde mental e incentivar o cuidado com o bem-estar emocional. A iniciativa busca quebrar o estigma que ainda envolve o tema, criando um espaço para diálogos abertos e ações preventivas. Ao encorajar as pessoas a refletirem sobre suas condições mentais e emocionais, a campanha inspira aqueles que sofrem, muitas vezes em silêncio, a buscar apoio profissional e adotar estratégias para melhorar sua qualidade de vida.
“Infelizmente, ainda há muito preconceito na sociedade em relação às pessoas que buscam tratamento psicológico ou psiquiátrico, acompanhado, muitas vezes, de estereótipos como ‘terapia é para fracos’ ou ‘medicação psiquiátrica vicia’. Muitos indivíduos internalizam esse estigma, gerando sentimentos de vergonha, culpa ou inadequação, que podem levá-los a evitar buscar ajuda, mesmo reconhecendo que precisam”, afirma a psicóloga e psicopedagoga Priscila Regina Teixeira.
A tendência de subestimar os próprios sintomas, a falta de informação sobre tratamentos e medicações, e a crença equivocada de que se trata apenas de uma “fase ruim” que passará sozinha estão entre os principais fatores que dificultam e retardam a busca por apoio psicológico.
“Temos o péssimo hábito de nos adaptar a situações desgastantes, como fadiga, preocupação crônica, irritabilidade, incapacidade de relaxar, medos excessivos, sensação de culpa e insônia, como se fosse normal nos sentirmos mal. Com isso, os problemas se agravam e as consequências podem se tornar perigosas. Achar que ‘todo mundo está assim’ ou que é ‘essa vida louca’ que levamos a causa dos nossos problemas tira de nossas mãos a responsabilidade de reverter essa situação, uma competência que é exclusivamente nossa”, pontua a psicóloga e mentora em longevidade ativa e saudável, Bel Garcia.
O psicólogo Luiz Bruder esclarece que a ansiedade e a depressão são afetos que fazem parte da experiência humana ao longo da vida e se tornam mais presentes não necessariamente por serem “doenças”, mas como reflexo de um estilo de vida que frequentemente expõe a pessoa a padrões repetitivos de situações estressantes ou desafiadoras. “Reconhecer a existência desses padrões de comportamento ou ‘estruturas psíquicas’, como se pode chamar, é um caminho para se chegar à percepção de que há maneiras de modificá-los e de cuidar de si, antes mesmo que se instale uma crise aguda ou que ocorra algo que não se possa mais mudar, como uma separação”.


