Gordura vegetal ou animal, qual deve ir para o prato?
A eterna dúvida entre óleo de soja, banha de porco, manteiga ou margarina ganha novos contornos à medida que a ciência avança na compreensão das gorduras e seus efeitos no organismo. Embora o senso comum tenda a dividir os óleos entre “bons” e “ruins”, a realidade é mais complexa. Segundo especialistas, o tipo e a quantidade consumida fazem toda a diferença. Para responder essas questões, a Bem-Estar conversou com três médicos e, de uma forma geral, tanto as gorduras vegetais quanto às animais podem ser benéficas ou vilãs para a saúde.
A cardiologista Daiane Cassaro Pagani afirmou que tudo depende da qualidade e da quantidade. “Tanto as gorduras vegetais quanto as animais podem ser benéficas ou prejudiciais à saúde, dependendo do tipo e da quantidade consumida”, explicou.
Já o cardiologista Flávio Quessada pondera que “as gorduras vegetais merecem mais espaço, especialmente as insaturadas, que fazem bem para o coração e ajudam a controlar o colesterol. Mas nem toda gordura vegetal é boa, e nem toda animal é ruim. O segredo está no tipo e na quantidade consumida”.
No grupo das gorduras vegetais, segundo a médica, estão variadas opções saudáveis, como azeite de oliva, óleo de abacate, castanhas e sementes.
Segundo Flávio, o azeite de oliva extra virgem se destaca entre as melhores e pode ser usado em saladas, legumes cozidos, finalizações e refogados, sem temperaturas muito altas para não perder propriedades. Além do azeite, o médico acrescentou as gorduras de peixes ricos em ômega-3 (salmão, atum e sardinha) como opções saudáveis. “Podem reduzir o colesterol LDL (ruim), aumentar o HDL (bom), proteger o coração, reduzir o risco de doenças cardiovasculares e ajudar na saúde cerebral e no controle da inflamação”.
Entre os diferentes tipos de óleo disponíveis no mercado, o de canola se destaca como uma das melhores opções, segundo o cardiologista Flávio. “Ele tem mais ômega-3 que os demais”, explica. Logo depois, vem o óleo de girassol, que também apresenta benefícios por ser rico em vitamina E e ômega-6, embora seu consumo deva ser moderado. Na comparação, ambos superam o óleo de soja em termos de qualidade nutricional. Ainda assim, o especialista alerta: “nenhum desses óleos devem ser consumidos em excesso. Prefira versões prensadas a frio e use para cozimentos leves”.
Já sobre o óleo de soja, o médico explicou que ele não contém colesterol, mas quando consumido em excesso pode desregular o equilíbrio entre o colesterol bom e o ruim, por ser rico em ômega-6, que, em excesso, pode causar inflamação. “Além disso, é altamente processado e perde qualidade ao ser reutilizado ou aquecido várias vezes”, orientou. O correto, então, segundo o cardiologista, é usar em pequenas quantidades, evitar frituras, não reutilizar e preferir outras fontes de gordura boa quando possível.
Na comparação entre o óleo de soja e a banha de porco, Daiane afirmou que a banha em alguns aspectos é mais saudável. “A banha é uma gordura natural, com menor grau de processamento. Ela contém gordura monoinsaturada (como o azeite) e é estável ao calor, o que a torna uma boa opção para cozinhar. Já o óleo de soja é altamente processado e, em excesso, pode ter efeito inflamatório. Além disso, muitos óleos vegetais refinados passam por processos químicos que retiram nutrientes”, explicou.
Neste grupo de gorduras de animais também há outras opções. “Gorduras animais boas (em moderação): manteiga (natural) e gordura de peixes (como o ômega-3 do salmão)”, afirmou Daiane. “O ideal é priorizar as gorduras insaturadas, geralmente presentes nas fontes vegetais e em peixes”, orientou a cardiologista.
Moderação
Outras gorduras, tanto de origem vegetal como animal, precisam de atenção. Entre elas, a gordura do churrasco, saborosa, mas que precisa ser consumida com bastante moderação, segundo a cardiologista. “A gordura bovina é rica em gordura saturada e quando consumida em grandes quantidades pode elevar o colesterol LDL e aumentar o risco de doenças cardiovasculares”, alertou. “Mas um consumo ocasional e equilibrado, em uma dieta saudável, não costuma trazer riscos”, ressaltou.
Vilãs
De acordo com o cardiologista Flávio, é necessário atenção para as gorduras consideradas ruins. Neste grupo, estão gorduras de origem animal e vegetal, divididas entre saturadas, como carnes gordas, bacon, pele de frango e laticínios integrais, e as gorduras trans em ultraprocessados, como margarinas e fast food. “Podem aumentar o colesterol LDL (ruim), reduzir o colesterol HDL (bom), favorecer o acúmulo de placas nas artérias (aterosclerose) e aumentar o risco de infarto, AVC e outras doenças do coração”.
A dica dos especialistas é o consumo equilibrado. “A chave está em priorizar gorduras boas, evitar alimentos ultraprocessados e gorduras trans e ter equilíbrio nas quantidades. Prefira gorduras naturais, evite frituras e modere nas porções. Seu coração agradece”, disse Daiane. “Troque frituras, industrializados e excesso de carnes gordurosas por fontes naturais de gordura boa. E lembre-se: alimentação equilibrada + atividade física + controle do estresse = saudável!”, concluiu.
O teor nutritivo de cada gordura depende da fonte e do tipo, mas de forma geral, as de origem vegetal levam vantagem, segundo o nutricionista Ronan Nakau, “por oferecerem compostos bioativos e perfis de ácidos graxos mais favoráveis à saúde. Os óleos vegetais, azeite de oliva, abacate, castanhas e peixes ricos em ômega 3, como salmão e sardinha, são fontes importantes de gorduras insaturadas, promovendo efeitos anti-inflamatórios e cardioprotetores”.
Em relação à quantidade de consumo diário, segundo Ronan, no caso das saturadas, presentes principalmente em alimentos de origem animal, o recomendado é não ultrapassar os 10% do total de calorias diárias. Já as insaturadas, de vegetais e peixes, podem representar uma parcela maior da ingestão de gorduras, nas necessidades energéticas individuais. O ideal é priorizar a qualidade.
Já em termos de calorias, segundo o nutricionista, todas as gorduras, independentemente da origem, possuem o mesmo valor calórico (nove calorias por grama), no entanto, o tipo de gordura influencia sobre o metabolismo. “As saturadas, mais presentes na fonte animal, quando em excesso, podem aumentar a inflamação e a resistência à insulina - favorecendo o acúmulo de gordura corporal”, concluiu.
Azeite de oliva
Abacate
Castanhas e nozes
Peixes como salmão, atum, sardinha (ricos em ômega-3)
Essas gorduras podem:
Reduzir o colesterol LDL (ruim)
Aumentar o HDL (bom)
Proteger o coração e reduzir o risco de doenças cardiovasculares
Ajudar na saúde cerebral e no controle da inflamação
Gorduras ruins (quando em excesso):
Gorduras saturadas (presentes em carnes gordas, bacon, pele de frango, laticínios Integrais)
Gorduras trans (encontradas em alimentos ultraprocessados, margarinas, fast food).
Essas gorduras podem:
Aumentar o colesterol LDL (ruim)
Reduzir o colesterol HDL (bom)
Favorecer o acúmulo de placas nas artérias (aterosclerose)
Aumentar o risco de infarto, AVC e outras doenças do coração
Fonte: Cardiologista Flávio Quessada