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Embolia amniótica

SaúdeEmbolia amniótica
A complicação obstétrica rara pode surgir subitamente, mesmo em gestantes sem fatores de risco conhecidos, exigindo atenção médica imediata

Sobre o autor

Uma complicação imprevisível, rara e potencialmente fatal tirou recentemente a vida da influenciadora digital e enfermeira americana Hailey Okula. Reconhecida por produzir conteúdo sobre saúde, ela também compartilhava com seus seguidores sua emocionante jornada de gravidez, após anos enfrentando a infertilidade e passar por um tratamento de fertilização in vitro. No final de março deste ano, pouco depois do parto, ela sofreu uma parada cardíaca provocada por uma embolia amniótica, e não resistiu.

Felizmente, o desfecho foi diferente para a influenciadora brasileira Juliana Perdomo de Barros. No ano passado, após complicações no parto do terceiro filho, ela também sofreu uma embolia amniótica, que desencadeou uma insuficiência cardiorrespiratória causada pelo acúmulo de líquido nos pulmões. Juliana precisou ser entubada e ficou internada em estado grave por mais de 10 dias em um hospital de Goiânia.

A embolia amniótica ocorre quando o líquido amniótico que envolve o bebê durante a gravidez ou alguns de seus componentes, como células fetais, entram acidentalmente na corrente sanguínea da mãe, desencadeando uma resposta inflamatória sistêmica, com potencial para causar colapso cardiovascular e coagulopatia. “Isso pode acontecer durante o trabalho de parto, parto vaginal ou cesárea, e até no pós-parto imediato”, explica o ginecologista e obstetra, José Luis Crivelin.

Embora a condição se manifeste de forma súbita, alguns sinais e sintomas durante o trabalho de parto podem indicar uma possível embolia amniótica. “Os principais incluem pressão baixa, dificuldade para respirar, batimentos cardíacos acelerados, hemorragia, convulsões e arritmia cardíaca”, pontua a ginecologista e obstetra, Maria Luísa Ferreira. A médica destaca ainda que um estudo conduzido no Reino Unido revelou que algumas mulheres podem apresentar sintomas premonitórios, como falta de ar, dor torácica, aflição, formigamento nos dedos, náuseas e vômitos. “Esses sinais devem servir de alerta para uma monitorização mais intensa da oxigenação materna”.

Segundo a ginecologista e obstetra Paula Oshiro, embora a incidência de embolia amniótica seja baixa, com cerca de 1 a 12 casos a cada 100 mil nascimentos, a condição está associada a uma alta taxa de mortalidade ou lesões neurológicas permanentes, afetando entre 30% e 40% dos casos. “O diagnóstico é clínico, feito muitas vezes por exclusão, já que não existe um exame específico e definitivo para identificar a doença. Ela pode ocorrer mesmo em gestantes que não apresentam fatores de risco conhecidos. Por se tratar de uma doença grave, com evolução rápida, a experiência da equipe médica e a agilidade na intervenção e no tratamento determinarão as complicações para a mãe e o bebê”.

Crivelin ressalta que o principal desafio é o tempo. “A resposta da equipe médica precisa ser imediata”. Outro ponto crítico citado é a dificuldade de realizar o diagnóstico diferencial, já que o quadro pode se confundir com outras emergências obstétricas, como embolia pulmonar, choque séptico ou eclampsia.

Possíveis complicações

Para a mãe:

Parada cardiorrespiratória

Coagulação intravascular disseminada, com risco de hemorragias graves

Disfunção de múltiplos órgãos (pulmonar, renal, hepática)

Lesão neurológica por hipóxia

Óbito

Possíveis sequelas a longo prazo se a paciente sobreviver:

Lesões neurológicas permanentes por hipóxia

Insuficiência renal ou hepática residual

Transtornos psicológicos pós-trauma (como TEPT)

Em alguns casos, nenhuma sequela significativa se o tratamento for rápido e eficaz

Para o bebê:

Asfixia perinatal

Prematuridade (caso haja parto de emergência)

Óbito fetal

O tratamento é de suporte intensivo e multidisciplinar, envolvendo:

Reanimação cardiorrespiratória (RCP) imediata

Ventilação mecânica

Suporte vasopressor

Correção da coagulopatia com transfusões (plasma, plaquetas, fatores de coagulação)

Cesárea de emergência, se ainda gestante e em parada cardíaca, idealmente em até 5 minutos

Cuidados em UTI com monitorização intensiva

Fatores de risco incluem:

Idade materna avançada (>35 anos)

Polidrâmnio (excesso de líquido amniótico no útero)

Parto precipitado ou muito prolongado

Cesariana

Parto com instrumentos, como fórceps

Traumas obstétricos (ex: ruptura uterina, laceração cervical)

Placenta prévia ou descolamento prematuro de placenta

Indução do parto com prostaglandinas ou ocitocina

Macrossomia fetal (bebês que nascem com peso acima do normal)

Multiparidade

Pré-eclâmpsia

Mecônio (“fezes” do feto)

Os sintomas são geralmente súbitos, podem ocorrer em sequência rápida, exigindo intervenção imediata. Incluem:

Dispneia intensa e súbita

Hipotensão ou colapso cardiovascular

Cianose

Convulsões

Alteração do nível de consciência

Coagulação intravascular disseminada (CIVD) com sangramentos espontâneos

Parada cardiorrespiratória

Fonte: ginecologistas e obstetras José Luis Crivelin, Paula Oshiro e Maria Luísa Ferreira

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