Construindo a autoestima na infância
A infância é uma fase crucial no desenvolvimento humano, especialmente quando se trata da construção da autoestima. Durante os primeiros anos de vida, a maneira como uma criança é tratada, incentivada e compreendida pode impactar profundamente sua visão de si mesma e suas relações com o mundo ao redor. Para pais e educadores com mais de 45 anos, entender o papel da autoestima na infância e as melhores práticas para promover um desenvolvimento emocional saudável é essencial.
A autoestima se forma desde os primeiros anos de vida por meio da interação com os cuidadores, da recepção de feedback positivo e da capacidade de enfrentar desafios. “Crianças que crescem em ambientes que reforçam suas conquistas e oferecem suporte emocional têm maior probabilidade de desenvolver uma autoestima saudável”, afirma a neuropsicóloga e professora Adjunta da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto), Karina Kelly Borges.
A psicóloga Ellora Cembranelli explica que a autoestima é um ponto central no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças, pois influencia como elas percebem a si mesmas, o mundo ao seu redor e os relacionamentos que estabelecem. “Desde os primeiros anos de vida, as crianças começam a internalizar as informações que recebem do ambiente familiar, escolar e social. A construção de uma autoestima saudável nessa fase é fundamental para o fortalecimento de um senso de identidade”, afirma.
Do ponto de vista psicológico, a autoestima infantil é o reconhecimento das próprias capacidades e no sentimento de ser aceito, amado e valorizado pelos outros. De acordo com Ellora, crianças com uma autoestima bem desenvolvida tendem a se sentir mais confiantes, seguras e capazes de enfrentar desafios, mesmo diante de dificuldades. “Além disso, uma autoestima saudável está relacionada à regulação emocional, à motivação e à capacidade de estabelecer relações interpessoais satisfatórias. A criança que se percebe como competente e digna de amor tem maior facilidade de desenvolver habilidades de resolução de problemas, autorregulação e adaptação a novas situações, aspectos essenciais para o sucesso social e acadêmico”.
A autoestima também é fortalecida quando a criança recebe reconhecimento e carinho, independentemente de seu desempenho. “Os elogios devem enfatizar a criança e não apenas seu comportamento. Exemplo: ‘você me deixou feliz com seu esforço’, ao invés de: ‘suas notas me deixaram feliz’. Quando os pais apenas elogiam os filhos por seus sucessos e não pelo que são, podem gerar uma relação de troca, em vez de um sentimento genuíno de amor”, orienta Thaysa Castro Molina, mestre em Psicologia da Saúde e especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC).
A especialista acrescenta que “crianças valorizadas pelo que são, e não apenas pelo que fazem, aprendem a se amar sem depender excessivamente da aprovação dos outros. Pais devem reforçar não apenas os comportamentos que consideram corretos, mas também aqueles importantes para os filhos, mesmo que não tragam benefícios diretos para os pais”.
Autoestima fragilizada
Comportamentos e padrões emocionais como evitamento de desafios, discurso autodepreciativo e dificuldades na regulação emocional são indicadores de autoestima fragilizada. Esses sinais podem indicar uma percepção negativa de si mesmas e impactar seu desenvolvimento global.
“Além disso, a redução da atividade do córtex pré-frontal dorsolateral pode estar associada à dificuldade de lidar com a frustração e ao aumento da reatividade emocional”, destaca a neuropsicóloga e professora adjunta da Famerp (Faculdade de Medicina), Karina Kelly Borges.
Uma autoestima fragilizada desde a infância pode se refletir em uma vida adulta marcada por inseguranças, dificuldades de autoaceitação e uma tendência a relações disfuncionais. “Essas pessoas podem enfrentar desafios emocionais mais intensos, como depressão, baixa motivação e dificuldades em estabelecer limites saudáveis, o que pode comprometer sua qualidade de vida”, conclui Ellora.
Crianças com baixa autoestima frequentemente apresentam os seguintes comportamentos:
Evitação de desafios: tendem a evitar tarefas ou desafios antes mesmo de tentar, demonstrando medo de fracassar ou de não serem suficientemente boas
Discurso autodepreciativo: expressões como "não consigo" ou "sou burra" refletem uma autocrítica excessiva
Dificuldade em lidar com críticas: ao receber feedback negativo, podem reagir de forma exagerada, ficando excessivamente tristes ou irritadas
Comparação constante: sentem-se inferiores ou inadequadas ao se compararem negativamente com outras crianças
Isolamento social: preferem ficar sozinhas, evitando interações sociais por se sentirem inseguras ou não aceitas
Fonte: Karina Kelly Borges, neuropsicóloga e professora Adjunta da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp)
O fortalecimento da autoestima na infância é fundamentar para estabelecer as bases para o bem-estar emocional e psicológico na vida adulta. As crenças e valores absorvidos nos primeiros anos de vida moldam a percepção do indivíduo sobre o mundo e influenciam em suas decisões ao longo da vida.
“Uma criança que cresce com um forte senso de autoestima tende a se tornar um adulto mais assertivo, resiliente e capaz de lidar com as adversidades de forma adaptativa”, ressalta a psicóloga Ellora Cembranelli.
Psicologicamente, pessoas com autoestima sólida demonstram uma predisposição para estabelecer relações mais saudáveis, tanto consigo mesmos e também com os outros. Esta autoconfiança promove uma interação mais equilibrada e construtiva em suas relações interpessoais. “Eles possuem maior capacidade de estabelecer e manter relações interpessoais significativas, ao saberem estabelecer limites, comunicar suas necessidades claramente e lidar com conflitos construtivamente. No contexto profissional, a autoestima fortalece a capacidade de tomar decisões com base em uma avaliação realista das próprias habilidades, favorecendo a liderança, a autonomia e o desenvolvimento de competências”, complementa Ellora.
A psicóloga Thaysa Castro Molina ressalta a intrínseca relação entre autoestima com a liberdade individual e a aceitação de si. Argumenta que a autoconfiança, fomentada pela autoaceitação, capacita o indivíduo a exercer a sua liberdade de forma plena e autêntica. “O desenvolvimento da autoestima está ligado à sensação de liberdade para tomar iniciativas e expressar sentimentos. Se os pais sempre impõem exigências e fazem os filhos sentirem que precisam se comportar “perfeitamente” para receber carinho, a criança pode crescer insegura sobre seu valor”.
Além disso, adultos com autoestima bem estruturada têm maior facilidade em enfrentar situações de estresse, já que possuem uma visão mais positiva de suas próprias capacidades. “Eles também são menos propensos a se deixar influenciar negativamente por críticas ou falhas, tratando esses eventos como oportunidades de aprendizado em vez de fontes de desvalorização pessoal”, finaliza a psicóloga.
Para fortalecer a autoestima da criança, os responsáveis podem adotar estratégias baseadas na neurociência e na psicologia do desenvolvimento:
Reforço positivo: valorize os esforços e conquistas. Isso estimula o circuito de recompensa cerebral, promovendo sensações de bem-estar e autoeficácia
Fomento da autonomia: incentive a resolução de problemas de forma independente, assim a ativa o córtex pré-frontal e aumenta a confiança da criança em suas habilidades
Criação de um ambiente seguro: uma relação parental responsiva reduz os níveis de estresse e fortalece a resiliência emocional
Modelagem de comportamento positivo: demonstre autoconfiança e regulação emocional, oferecendo um padrão de referência para a criança
Fonte: Karina Kelly Borges, neuropsicóloga e professora Adjunta da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp)