COMO LIDAR COM PAIS NARCISISTAS
SaúdeCOMO LIDAR COM PAIS NARCISISTAS
O comportamento dos pais pode afetar o desenvolvimento
emocional e psicológico dos filhos, resultando em
consequências que perdurarão até a vida adulta
Sobre o autor
É comum ouvir falar sobre narcisismo no contexto de relacionamentos românticos. No entanto, essa também é uma experiência traumática na vida dos filhos de pais narcisistas. Muitas vezes, eles podem ser levados a negligenciar suas emoções, necessidades e desejos para satisfazer o ego dos pais. Isso pode resultar em baixa autoestima, dificuldades de autovalorização e problemas emocionais que perduram até a vida adulta.
“Pais narcisistas são aqueles que apresentam características associadas ao transtorno de personalidade narcisista (TPN), caracterizado por um padrão generalizado de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Eles frequentemente utilizam seus filhos para atender suas próprias necessidades emocionais e de validação, ao invés de prover o cuidado e o suporte que as crianças necessitam para um desenvolvimento saudável”, explica o psicólogo da Unipsico, Flávio Homero da Silva.
A psicóloga infantil Erica Meriele Ribeiro ressalta que os pais narcisistas buscam constantemente admiração devido à sua autoestima frágil, criticam os outros para se sentirem melhores e estabelecem relações superficiais visando seus próprios interesses egoístas. “São pessoas que emocionalmente negligenciam os filhos, invalidando suas emoções, controlando-os com chantagem e ameaças, manipulando-os para seus próprios propósitos, cobrando excessivamente, ignorando suas fases normais de desenvolvimento de autonomia e sentindo-se ameaçadas pelo crescimento constante deles”.
Conforme pontua a psicóloga Kátia Savegnago, o comportamento dos pais narcisistas, de acordo com a psicanálise, pode ter um impacto profundo no desenvolvimento emocional e psicológico de seus filhos, os quais enfrentam frequentemente uma variedade de desafios nesses aspectos. “É crucial salientar os padrões comuns presentes no comportamento desses pais, que incluem a busca pela perfeição em atitudes e sentimentos, sem tolerar falhas, enxergando as crianças como garantias de satisfação plena, e as pressionando a corresponder às expectativas ideais”.
Falta de empatia: Dificuldade em entender ou se importar com os sentimentos e necessidades dos filhos.
Necessidade de controle: Tentativas constantes de controlar e manipular as ações e decisões dos filhos.
Exploração emocional: Manipulação dos filhos para atender às próprias carências emocionais, frequentemente recorrendo à culpa, à vergonha ou ao medo como ferramentas de controle.
Busca constante por admiração e necessidade de validação: expectativa de que os filhos os elogiem e
admirem continuamente.
Limites inadequados: desrespeito pelos limites e pela individualidade dos filhos.
Invadem a privacidade deles e desrespeitam suas necessidades emocionais.
Incapacidade de aceitar responsabilidade: nunca admitem erros e culpam frequentemente
os outros, incluindo os filhos, pelos problemas.
Foco excessivo em si: priorizam suas próprias necessidades acima das dos filhos, muitas vezes negligenciando as necessidades emocionais e físicas das crianças.
Incapacidade de tolerar críticas: reagem defensivamente a críticas e esperam perfeição dos filhos.
Expectativas irrealistas: impõem metas inatingíveis aos filhos para validar sua própria imagem.
Uso dos filhos para autovalidação: Veem os filhos como extensões de si e buscam realização através deles.
Desvalorização dos filhos: oscilam entre elevar e diminuir o valor dos filhos de acordo com suas próprias expectativas, frequentemente minimizando suas realizações e emitindo críticas excessivas.
Baixa autoestima e visão negativa de si devido às críticas constantes e à falta de validação
Dificuldade em desenvolver uma identidade própria
Desafios em estabelecer e manter relacionamentos saudáveis devido à ausência de modelos de interação positiva
Sentimentos de culpa e inadequação, como a sensação de nunca serem suficientemente bons para agradar aos pais
Dificuldades em estabelecer e manter limites em suas próprias relações
Tendência a buscar aprovação externa para sentir valor próprio
Dificuldades em formar e manter relacionamentos saudáveis, repetindo padrões de codependência ou atraindo parceiros narcisistas
Maior risco de desenvolver transtornos de saúde mental, como ansiedade e depressão
Sentimento de não ser amado
Dependência emocional
Exigência excessiva consigo mesmo
Sensação de estar preso à necessidade de realizar os sonhos dos pais
Pensamentos e ideação suicida e até mesmo suicídio
Fonte: Psicólogos Flávio Homero da Silva, Erica Meriele Ribeiro e Kátia Savegnago
Reconhecer inicialmente os sinais de um pai ou mãe narcisista pode ser uma tarefa desafiadora. Embora algumas táticas de manipulação sejam sutis e camufladas, às vezes de difícil percepção até para a própria pessoa, aprender sobre as características típicas de um narcisista pode ajudar a identificar esses comportamentos e ser útil para lidar de maneira mais eficaz contra o impacto negativo desses relacionamentos. “A terapia pode ajudar a desenvolver estratégias de enfrentamento, melhorar a autoestima e promover a recuperação de traumas emocionais”, afirma o psicólogo Flávio Homero da Silva.
“Ao serem acompanhados por um profissional, é possível iniciar um processo de descoberta do eu, diferenciando o que pertence à pessoa daquilo que é dos seus pais, ressignificando suas histórias, para que se tornem autônomos, protagonistas de suas próprias vidas, capazes de fazer suas próprias escolhas e confiar em si e em suas habilidades”, complementa a psicóloga Erica Meriele Ribeiro, que destaca a importância de estabelecer limites e considerar o afastamento ou a redução do convívio social, quando possível e necessário.
Segundo a psicóloga Kátia Savegnago, é fundamental reconhecer e entender os padrões de comportamento e pensamento internalizados devido à convivência com pais narcisistas. Isso envolve reprocessar experiências dolorosas e permitir a integração delas na consciência de maneira mais saudável. Além disso, é importante trabalhar no desenvolvimento de uma identidade autêntica, separada das expectativas e manipulações dos pais narcisistas, aprender a estabelecer e manter limites saudáveis em todos os relacionamentos e reconhecer padrões de comportamento similares.
“Embora seja possível lidar com algumas dessas questões no dia a dia, é importante entender que a psicoterapia se dedica a abordar certos aspectos ao investigar e tratar os efeitos das dinâmicas familiares, realizada por meio de uma exploração minuciosa do inconsciente”, explica Kátia.