Casos de febre Oropouche aumentam no Brasil em 2025
De janeiro a março deste ano, o Brasil contabilizou 6.683 casos de febre Oropouche, número que corresponde a quase metade do total de 2024, quando foram confirmados 13.846 registros da doença. Segundo dados do painel epidemiológico do Ministério da Saúde, o Espírito Santo lidera o ranking nacional, com 5.090 notificações, seguido pelo Rio de Janeiro (823), Paraíba (550) e Minas Gerais (119). Outros casos foram identificados no Ceará (65), Amapá (29), São Paulo (5), Bahia (1) e Roraima (1). Um óbito está sendo investigado.
No ano passado, quatro mortes foram registradas. Outras três, ocorridas no mesmo período, ainda aguardam confirmação. Já em 2023, o número foi menor, com 832 casos notificados, sem registros de óbitos.
A doença é causada por um arbovírus, o Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), transmitido por artrópodes, como mosquitos, principalmente o da espécie Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, presente em áreas silvestres. No entanto, a picada do inseto Culex quinquefasciatus, normalmente encontrado em ambientes urbanos, também pode transmitir a febre Oropouche.
“A transmissão ocorre por meio da picada de mosquitos infectados. Esses mosquitos se contaminam ao picar uma pessoa ou animal já infectado com o vírus e, em seguida, transmitem o vírus a outras pessoas”, explica a infectologista Renata Zorzet Manganaro Oliveira, especialista da Clínica Buffulin.
O vírus da febre Oropouche foi identificado pela primeira vez no Brasil em 1960, a partir de uma amostra de sangue coletada de um bicho-preguiça resgatado durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Desde então, casos isolados e surtos da doença tem ocorrido no país, principalmente na região Amazônica.
“Isso acontece porque o clima quente e úmido favorece a presença dos insetos transmissores. Além disso, o desmatamento e a expansão urbana perto de áreas de floresta aumentam o contato entre as pessoas e os insetos que transmitem o vírus”, afirma a infectologista Cássia Estofoletti, especialista do Hospital de Base e docente da Famerp.
A febre Oropouche geralmente não causa quadros graves, mas pode ser mais sintomática em populações vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas com imunidade comprometida. “Os sintomas são bastante semelhantes aos de outras zoonoses transmitidas por mosquitos, como dengue, zika, chikungunya, malária e febre-amarela. Incluem febre de início abrupto, dor de cabeça, dor no corpo e nas articulações. A diferença é que a febre Oropouche não costuma apresentar o ‘rash’ cutâneo, que são manchas avermelhadas espalhadas pelo corpo”, ressalta o infectologista Inaldo Junior, especialista da Beneficência Portuguesa.
Segundo o médico, uma característica particular da febre Oropouche é a possibilidade de recidiva da doença. “Após a melhora inicial, alguns pacientes podem apresentar uma recaída com os mesmos sintomas, podendo ser de intensidade igual, mais leve ou mais forte.”
O diagnóstico da febre Oropouche é clínico, epidemiológico e laboratorial, baseado nos sintomas apresentados pelo paciente, fatores como histórico de viagens para áreas endêmicas ou surtos da doença na região, além de exames de sangue específicos, como PCR ou sorologia IgG e IgM para confirmar a infecção.
Não há tratamento, como antivirais, ou vacina específica. “As pessoas infectadas recebem cuidados de suporte para aliviar os sintomas, semelhante ao que se faz no caso da dengue, incluindo o uso de analgésicos e antitérmicos para aliviar dor e febre, hidratação adequada e medicamentos para náuseas e enjoos”, explica o infectologista Inaldo Junior.
“É muito importante evitar o uso de anti-inflamatórios, incluindo medicamentos como o ácido acetilsalicílico (AAS), que podem aumentar o risco de sangramentos”, alerta a infectologista Cássia Estofoletti. “Em casos mais graves, a internação hospitalar pode ser necessária para monitoramento e apoio ao paciente”, pontua a infectologista Renata Zorzet Manganaro Oliveira.
Dor de cabeça intensa
Dores musculares e nas articulações
Náusea
Diarreia
Fonte: Ministério da Saúde
Possíveis complicações:
Cansaço persistente
Pneumonia
Complicações neurológicas, como encefalite e meningite
Sequelas articulares, com dor crônica
Inflamação no fígado e aumento das enzimas hepáticas
Fonte: Infectologistas Renata Zorzet Manganaro Oliveira, Cássia Estofoletti e Inaldo Junior
Prevenção
(especialmente em regiões endêmicas, áreas de mata e rurais):
Usar repelentes para evitar a picada de mosquitos
Usar roupas protetoras que cubram a maior parte do corpo
Usar telas em janelas e portas e mosquiteiros
Eliminar locais propícios para a reprodução de mosquitos, como focos de água parada, depósitos de lixo e recipientes destampados
Limpeza de terrenos e de locais de criação de animais
Recolhimento de folhas e frutos que caem no solo
Fonte: Infectologista Renata Zorzet Manganaro Oliveira e Ministério da Saúde