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Braçadas que fazem bem

SaúdeBraçadas que fazem bem
Além de ser reconhecida como um esporte completo, a natação se tornou uma poderosa ferramenta de inclusão e desenvolvimento, especialmente para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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O Dia Mundial da Natação foi celebrado no último dia 8, uma data que destaca os benefícios dessa modalidade esportiva para todas as idades. Poucos dias antes, em 2 de abril, o mundo volta os olhos para o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, um momento de reflexão sobre a inclusão e o respeito à diversidade. Inspirado por essas datas, o crescimento da natação inclusiva ganha ainda mais relevância, mostrando como o esporte tem sido um aliado fundamental para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

A natação é uma atividade essencial para o desenvolvimento infantil e para a segurança aquática, ajudando a reduzir os riscos de afogamento na infância. Os benefícios também se estendem ao bem-estar emocional, ajudando a melhorar o sono, reduzir o estresse e desenvolver habilidades motoras, como postura, agilidade e percepção de tempo e espaço. Para crianças com TEA, esses efeitos são ainda mais expressivos.

Nas escolas de natação, a inclusão tem sido cada vez mais promovida com adaptações nas metodologias de ensino e no acompanhamento individualizado, garantindo que cada criança tenha a melhor experiência possível dentro d'água. Professores especializados relatam avanços significativos em alunos que, inicialmente, tinham dificuldades de interação e concentração, mas que, com o tempo, passaram a se sentir mais confiantes e independentes.

Em Rio Preto, uma das escolas com natação inclusiva é a Aquática. Walter Helena, proprietário da academia, afirma que o esporte aquático é uma atividade salutar para a criança. “Ele proporciona muito movimento. Estar na água é um momento alegre, gostoso e feliz para a criança que acaba tendo seus desenvolvimentos corporal e emocional em uma atividade prazerosa.”

A Aquática desenvolveu a metodologia Aquamotrix, em que estimula a criança a ter autonomia na água. “A criança aprende a tomar decisões próprias em situações como, por exemplo, de deslocamento. Essa metodologia, além de estimular a parte cognitiva, também promove uma melhor socialização da criança”, explica Walter Helena.

Outra academia especializada neste setor é a Acqua Sport. Simoni Natani Gomes Neves, que é professora há 11 anos, afirma que a natação pode proporcionar inúmeros benefícios para as crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). “Isso acontece porque a natação, além de ser em um ambiente divertido, trabalha desenvolvimento de força e coordenação. A água tem uma resistência natural que ajuda a fortalecer os músculos e melhorar a coordenação motora, além da água ser reconfortante para crianças com hipersensibilidade sensorial, o que traz calma e tranquilidade, reduzindo o comportamento de ansiedade e o estresse. A natação também trabalha o sistema cardiovascular e aumenta a independência e autoconfiança. A socialização e a inclusão também são fatores forte que a natação oferece”, afirma Simoni.

A adaptação das crianças nas primeiras aulas pode variar significativamente. Em muitos casos, a resistência inicial é mínima, e elas logo se sentem confortáveis na água. A professora Simoni explica que esse processo depende, entre outros fatores, das experiências aquáticas anteriores de cada aluno. “No primeiro momento fazemos uma avaliação para ver se a criança obedece aos comandos e têm dificuldade com regras para fazer a inclusão em uma turma. Caso tenha muita resistência, iniciamos o trabalho individual até a criança obter confiança no profissional e assim entender a dinâmica de água. Vamos avaliando nas aulas até enfim colocamos na turma.” A professora da Acqua Sport ainda faz um alerta. “É essencial que tudo isso seja conduzido por um profissional treinado e que respeite o tempo de cada criança.”

EM CONSTANTE APRENDIZADO

A natação inclusiva foi tema de um workshop promovido recentemente pela Aquática com a professora, educadora física e Vice-Presidente Conselho Federal de Educação Física do Maranhão Denise Araújo, especialista no ensino de natação para crianças especiais. Walter Helena, proprietário da Aquática, afirma que o que motivou a realização do workshop com a Denise foi o fato dela estar sempre na vanguarda na questão de estudos de crianças especiais. “Uma vez por ano, nós a trazemos a Rio Preto para que possa transmitir aos nossos professores as novas descobertas e aperfeiçoamento em relação ao tema.”

Walter Helena afirma que decidiu abordar mais sobre o autismo após perceber um aumento significativo no número de pais e mães de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) em busca de orientação. “Antes tínhamos, anualmente, no máximo uns três alunos. Agora é pelo menos um novo caso por semana. Percebemos esse aumento no pós-pandemia. Acredito que um dos motivos seja a preocupação dos pais com uma vida mais saudável para essas crianças. A natação traz, para eles, uma melhora na coordenação corporal, muscular e parte cardiorrespiratória junto com a parte social”.

Esporte que transforma

A natação é uma atividade altamente benéfica para crianças diagnosticadas com TEA. Mas será que existe uma idade ideal para começar? Segundo especialistas, qualquer idade é bem-vinda. “Quanto mais cedo a criança começar, melhor para o desenvolvimento motor, equilíbrio e socialização. Mas, o mais importante é respeitar o tempo e o conforto dela na água”, afirma Thamirys Emanuelly Ferreira Neves, professora da escola Squalo Natação.

Thamirys tem uma história marcante de um aluno autista com apenas 4 anos que evoluiu muito com a natação. “Ele começou a natação com bastante medo de água. Nos primeiros dias, ele nem queria molhar os pés e ficava agarrado na borda da piscina. Com paciência e brincadeiras, fomos introduzindo a água aos poucos. Ele começou a molhar as mãos, depois os pés, até que um dia aceitou entrar segurando minha mão. No começo, ainda ficava tenso, mas com o tempo, foi relaxando e aproveitando mais.”

Gradualmente, Thamirys conta que ele foi adquirindo confiança. “O mais legal foi ver como ele também começou a observar os colegas. No início, ficava distante, mas aos poucos passou a imitar os movimentos dos outros. Um dia, pegou um brinquedo e, sem ninguém mandar, entregou para um amigo. Foi um avanço simples, mas enorme para ele. No fim, além de perder o medo da água, ele também começou a se abrir mais para quem estava ao redor”.

Conscientização

Neste cenário, a professora da Squalo Natação afirma que a sociedade ainda precisa entender sobre inclusão no esporte. “A sociedade ainda precisa entender que inclusão no esporte não é apenas permitir que pessoas com deficiência ou condições especiais participem, mas garantir que elas tenham as adaptações e o suporte necessários para realmente aproveitar e evoluir”.

Benefício físico, motor e social

Especialista no ensino de natação para bebês e defensora da redução de casos de afogamento no Brasil, a professora e educadora física Denise Araújo, que também é Vice-Presidente do Conselho Federal de Educação Física do Maranhão, afirma que o esporte traz inúmeros benefícios. “Primeiro é importante dizer que ele traz a inclusão, permite que essas crianças possam ser incluídas em uma atividade física. Podemos apontar também que essas crianças apresentam comportamento de movimentos repetitivos. Elas precisam ampliar o repertório de movimentos como veremos mais à frente e a natação favorece essa habilidade.”

A água tem o poder de conter um pouco mais esses movimentos repetitivos, que são muito soltos e desorganizados. “A criança com esse padrão tem o equilíbrio comprometido, tonicidade baixa, pequena concentração e precisa de estímulos para que possa ter um ajuste corporal melhor. A natação entra como reforço para melhorar as competências motora, física. Na natação, vamos trabalhar enormemente o controle muscular, o controle motor e ela amplia também uma outra competência que é a social. Crianças com autismo tendem a ficar reclusas, em um ambiente só delas. A água favorece mais integração”, explica Denise.

Cauã Brambilla Fernandes, de 10 anos, tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e vive, dia após dia, os benefícios que a natação trouxe para sua vida. Segundo a mãe, a farmacêutica estética Renata Brambilla, Cauã teve contato com o esporte ainda bebê. No início, porém, a experiência não era prazerosa — ele, por exemplo, não deixava molhar o cabelo. Aos dois anos e meio, acabou interrompendo as aulas.

Foi só cerca de um ano e meio atrás que ele voltou a dar braçadas, desta vez em uma nova escola, a Aquática, onde passou por um processo de adaptação com aulas individuais até que estivesse pronto para entrar no grupo. Hoje, quem o vê nadando, mal percebe diferença em relação às outras crianças. Além de contribuir significativamente para o desenvolvimento da coordenação motora, a natação também teve um papel importante na socialização de Cauã.

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