Além dos Analgésicos
As mais recentes descobertas da neurociência vêm transformando a forma como compreendemos a dor. Hoje se sabe que ela não é apenas uma reação direta a um estímulo físico, mas sim um fenômeno complexo, no qual se entrelaçam fatores emocionais, memórias passadas e expectativas futuras.
Pesquisas com neuroimagem reforçam que a dor é um processo multidimensional, envolvendo várias regiões do cérebro, como o córtex somatossensorial, a ínsula, o córtex cingulado anterior (ACC), a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal. Esses estudos mostram que o cérebro cria uma “neuromatriz da dor”, integrando sensações físicas, emoções, memórias e expectativas.
“A dor crônica não é só um sintoma físico. Ela tem raízes profundas no sistema nervoso central e pode ser perpetuada por mecanismos de sensibilização neural”, explica a fisioterapeuta e osteopata Juliane Siebra Chianezzi, especialista em reabilitação funcional e terapias baseadas em evidências.
Condições como lombalgia, cefaleias, fibromialgia e outras síndromes dolorosas muitas vezes estão relacionadas a alterações na estrutura e no funcionamento cerebral. “A exposição prolongada a estímulos nocivos pode causar reestruturações no sistema nervoso, o que chamamos de sensibilização central”, complementa a fisioterapeuta.
Alternativas para amenizar as dores
Embora o uso de medicamentos continue sendo uma recomendação comum em para o alívio da dor, especialmente em tratamentos paliativos, como nos casos de artrose, cresce a busca por alternativas que ampliem o cuidado com a dor de forma mais abrangente e sustentável. Entre os especialistas que defendem essa visão está o médico ortopedista Roni Serra que destaca a importância de estratégias complementares para amenizar os sintomas.
De acordo com ele, manter-se ativo é essencial. “A manutenção das atividades físicas é fundamental para evitar a intensificação das dores neste período”, orienta. Em situações específicas, Roni também reforça o papel da fisioterapia, além de hábitos que, embora simples, exercem influência direta sobre o quadro doloroso: uma alimentação equilibrada e a hidratação adequada, mesmo em dias frios, quando a sede costuma ser negligenciada.
“Além do uso de roupas adequadas, aplicar bolsas térmicas ou panos quentes sobre a articulação dolorida ajuda a relaxar os músculos e melhorar a mobilidade articular. Exercícios leves como a caminhada e o pilates, assim como o alongamento, também reduzem a rigidez articular. Tanto a dieta anti-inflamatória, quanto a ingestão adequada de líquidos, impactam diretamente a saúde dessas regiões doloridas, portanto, é essencial garantir esses cuidados complementares”, recomenda o ortopedista.
Abordagem integrativa
Juliane aplica uma abordagem integrativa, combinando escuta qualificada, técnicas manuais, exercícios terapêuticos e orientação sobre mudanças no estilo de vida. Combinando escuta qualificada, técnicas manuais, exercícios terapêuticos e orientações sobre o estilo de vida, Juliane oferece um caminho mais humanizado e eficaz para quem convive com a dor. “Meu foco é ajudar o paciente a retomar o movimento, a autonomia e o bem-estar, mesmo nos casos mais complexos”, afirma.
Ela também reforça a relevância de recursos como a educação em neurociência da dor (PNE) e as estratégias cognitivo-comportamentais, que vêm se mostrando eficazes na redução de fatores emocionais associados à dor persistente, como ansiedade, medo e pensamentos catastróficos.
Dados da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), três em cada quatro brasileiros convivem com dor física constante. Mas, para uma parcela significativa dessa população, a dor não se limita ao corpo. Ela se aloja também está na mente, nas emoções e no silêncio que acompanha o sofrimento. Diante de um cenário no qual o acesso a tratamentos especializados ainda é restrito e a medicação nem sempre oferece alívio duradouro, surge uma questão inevitável: o que fazer com a dor que permanece?
Foi para acolher que nasceu o grupo Vozes do Sentir, idealizado por Léa Tande, especialista em arte com papel e autoconhecimento. A proposta é simples, mas potente: oferecer um espaço online, gratuito e seguro, onde pessoas que convivem com dores, sejam físicas ou emocionais, possam encontrar acolhimento, escuta e possibilidades de expressão.
Os encontros são quinzenais e reúnem práticas como escrita terapêutica, respiração consciente, vivências criativas com arte e outras atividades voltadas ao cuidado emocional. São momentos cuidadosamente conduzidos, em que os participantes podem respirar com mais presença, acessar emoções profundas e, sobretudo, sentir-se compreendidos.
“Quando a dor encontra um espaço para ser escutada, ela já começa a mudar. A pessoa que sofre com a dor não precisa enfrentar esse cenário sozinha!”, ressalta Léa.
O Vozes do Sentir não substitui tratamentos clínico e terapêutico, mas oferece uma alternativa acessível de bem-estar e apoio emocional, especialmente relevante para quem não dispõe de recursos para um tratamento contínuo.
Mais informações e inscrições: www.leatande.com.br/vozes-do-sentir.