Pelas ruas de Istambul: Um passeio com Orhan Pamuk
"Entrarei em contato, não conte nada aos nossos pais!". Essa é a frase que chega, ao leitor, do bilhete que Rüya deixa escrito a Galip, seu marido e primo, antes de sair de casa sem motivo aparente. Galip fica intrigado, mas acata o pedido da esposa. A espera por notícias suas, porém, o leva a um perambular sem fim pelas ruas de Istambul, mergulhado em profunda solidão. Ele busca pistas que o levem a compreender o desaparecimento da esposa quando percebe que o famoso cronista Celâl Salik, seu primo e meio-irmão de Rüya, também não podia ser encontrado. O fato de os irmãos serem muito próximos o leva a concluir que eles estariam juntos. Mas por que haviam se retirado daquela maneira? Seria uma brincadeira? Onde estariam? Qual era o sentido daquilo?
É em torno desse ponto que gira a trama de “O livro negro”, um dos romances mais conhecidos do aclamado e premiado escritor turco Orhan Pamuk (1952-). Publicado na Turquia em 1990, com tradução para o português em 2008, “O livro negro” tem uma trama densa e original. Pamuk dialoga com o romance policial enquanto gênero, ao instaurar um mistério a ser solucionado que percorre as mais de 500 páginas do livro. Rüya é constantemente referida, pelo narrador, como uma aficionada por esse tipo de narrativa. No entanto, Pamuk parece virar o romance policial do avesso ao se desviar das fórmulas convencionais e deslocar elementos tradicionais, como assassinatos e desaparecimentos.
O romance é organizado de maneira interessante, com duas linhas narrativas. A busca de Galip pela esposa e pelo primo divide espaço com as crônicas de Celâl, publicadas no jornal Milliyet sobre vários assuntos. Política, estrelas de cinema, reminiscências familiares, poetas sufis, amor, hurufismo - todos esses temas entrelaçados compõem um conjunto que ilustra uma estranha e adoecida relação com o outro, um elemento marcante da narrativa.
Os personagens de Pamuk buscam algo como uma verdadeira constituição do eu, uma busca quase obsessiva, marcada por uma essência que nunca se completa. "O livro negro" exige fôlego, são centenas de páginas, e predisposição ao novo.
O autor, coerente com sua origem turca, agrega ao texto referências pouco comuns na literatura ocidental, como a cultura do Islã e a literatura turca e do Oriente Médio. É um romance para leitores que gostam da aventura da leitura e de muitas e muitas histórias!
O LIVRO NEGRO
Orhan Pamuk
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 528
Preço: 97,90
(Em sebos virtuais a partir de 19,00)