Armadilhas do Perfeccionismo
Quem não gosta de receber um elogio ou de ser reconhecido por algo que fez? A busca pela melhoria contínua é algo que muitos de nós priorizamos, no entanto, a obsessão pela perfeição pode se tornar um obstáculo tanto na vida profissional quanto pessoal. O alto grau de exigência mais atrapalha do que ajuda. O perfeccionista torna-se um inimigo dele mesmo.
O comportamento autoidealizado e forma de lidar com diversos aspectos da vida, destrói a autoestima e a autoconfiança. “O perfeccionismo, embora motivado por um desejo de excelência, pode paralisar e levar à procrastinação e frustração. Reconhecer e controlar essa tendência é crucial para o bem-estar e a produtividade”, afirma a psicóloga Bárbara Olíveira.
O perfeccionismo manifesta-se através da imposição de elevados padrões de desempenho. “Essa autoexigência exacerbada, geralmente, compromete a satisfação da pessoa em executar as tarefas, dado que o foco primordial reside na busca incessante pela perfeição”, ressalta a psicanalista Eva Santana.
Josiane Flores, especialista na Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) complementa que o perfeccionismo, frequentemente confundido com um desejo de excelência, revela-se uma força restritiva e, por vezes, paralisante. “Manifesta-se como uma crença arraigada na necessidade de atingir um ideal inatingível, impulsionando o indivíduo a um ciclo vicioso de autocrítica implacável e medo constante do fracasso”.
Conforme Bárbara, indivíduos com tendências perfeccionistas frequentemente manifestam insegurança em seus relacionamentos interpessoais, antecipando a desaprovação e rejeição. “Essa predisposição resulta em reações defensivas a críticas e no afastamento social. Adicionalmente, a imposição de padrões elevados e irreais aos outros, juntamente com a crença de que seu valor pessoal reside na perfeição de suas realizações, contribui para um comportamento crítico e exigente.”
A psicanalista Eva destaca que o perfeccionista, frequentemente, sofre muito com suas características, pois vive em estados de tensão e ansiedade intensos. “O indivíduo não consegue agir contra essas forças que se opõem à razão e ao equilíbrio”, afirma.
Essa busca implacável pela perfeição pode levar à ansiedade, depressão, burnout e distúrbios alimentares. A procrastinação também se manifesta como uma estratégia de evitar o fracasso, paralisando a ação e intensificando o ciclo vicioso do perfeccionismo. “É imprescindível distinguir entre a busca pela excelência, motivada por um desejo genuíno de superação e aprendizado, e o perfeccionismo, caracterizado pela autocrítica implacável e pelo medo constante de não corresponder às expectativas.”
Quando o perfeccionismo começa a afetar negativamente algum âmbito da vida, o mais indicado é procurar um acompanhamento profissional. Geralmente, o tratamento psicológico envolve abordagens que auxiliam as pessoas a buscar maneiras diferentes de lidar com essa “necessidade” de atingir a perfeição. “O reconhecimento dos sinais do perfeccionismo é o primeiro passo para mitigar seus efeitos negativos. Terapias cognitivo-comportamentais e práticas de mindfulness podem auxiliar na reestruturação de pensamentos disfuncionais e no desenvolvimento de uma perspectiva mais realista e compassiva em relação a si mesmo”, orienta Josiane.
Os especialistas são unânimes em afirmar que ao adotar estratégias específicas é possível transformar o perfeccionismo em um impulsionador de produtividade e satisfação pessoal, em vez de uma barreira. “Apesar de o perfeccionismo não ser tratado como doença, ele interfere em todas as áreas da vida do indivíduo, comprometendo a vida profissional, social, familiar e afetiva. A busca pela excelência deve ser guiada pela autocompaixão e pelo reconhecimento da imperfeição como inerente à condição humana, permitindo uma jornada mais saudável e gratificante”, conclui a psicóloga Bárbara.
Alto nível de exigência, consigo e com
os outros
Dificuldade para trabalhar em equipe
Inflexibilidade perante erros alheios
Dificuldade em aceitar e aprender com os próprios erros
Senso excessivo de responsabilidade
Percepção do erro como um fracasso
Propensão à autopunição
Elevada resistência a críticas
Organizadas e com foco intenso em detalhes
Insatisfação constante com os resultados alcançados, por melhores que sejam
Dificuldade para confiar em outras pessoas
Sensação de culpa persistentes
Fonte: psicóloga Bárbara Oliveira
Como evitar o perfeccionismo
Reconheça que a perfeição não existe: aceite que o erro é inerente ao processo de aprendizado e crescimento. A perfeição é uma meta inatingível.
Defina metas realistas e alcançáveis: divida grandes tarefas em etapas menores e mais gerenciáveis. Isso torna o processo menos desafiador e aumenta a sensação de realização.
Priorize a conclusão: foque em entregar um trabalho “bom o suficiente” num prazo razoável, ao invés de buscar a perfeição eterna.
Mude a perspectiva: reflita sobre os danos que o perfeccionismo está causando nos mais diversos âmbitos da sua vida
Pratique a autocompaixão: seja gentil consigo mesmo ao cometer erros. Lembre-se de que todos erram e que o aprendizado é um processo contínuo.
Busque feedback construtivo: solicite opiniões de colegas ou mentores, e esteja aberto as sugestões de melhoria
Seja mais receptivo às críticas: procure vê-las como oportunidades para aprender e melhorar. Evite ao máximo comparações com outras pessoas
Fonte: psicóloga Josiane Flores