UNIDAS PARA O BEM
A arquiteta Bárbara Jalles plantou despretensiosamente a semente do que é hoje o Instituto Ilumina, construindo com duas amigas, a jornalista Tanise Dutra e a podcaster Patricia Spinelli, uma rede de solidariedade via WhatsApp que envolve a venda e leilão de itens de luxo em prol de instituições determinadas a ajudar as pessoas atingidas pelas chuvas no Rio Grande do Sul.
Tudo começou em um “grupo de desapegos” também no WhatsApp, no qual Bárbara tomou uma atitude que desencadeou uma onda de boas ações: ao postar uma de suas peças para desapego, pediu à compradora que depositasse o valor do item em outra conta que não a sua, doando o montante diretamente para uma instituição de caridade no Rio Grande do Sul. Ao ver a iniciativa da amiga, Tanise e Patrícia decidiram se juntar à Barbara, comprometendo-se a fazer o mesmo com itens de seus guarda-roupas.
De lá para cá, o movimento de solidariedade vem crescendo com a participação de marcas de vestuário, alimentação, educação, beleza e bem-estar. No último levantamento feito pelo trio, algo em torno de mil itens – entre peças de segunda mão, serviços e objetos para leilão - já foram compartilhados pelos mais de 1 mil participantes do grupo, se revertendo em doações para instituições que ajudam as vítimas atingidas pelas chuvas no Rio Grande do Sul.
Confira a entrevista:
BE – O início do “Desapegos Ajuda RS” (o grupo nasceu como “Desapegos Ajuda RS”, sendo posteriormente nomeado como Instituto Ilumina, nome oficial da iniciativa) ocorreu de forma despretensiosa, por uma iniciativa sua. O que te motivou a direcionar o montante da primeira peça a uma instituição?
Bárbara Jalles – Já participava de alguns grupos de desapegos e tinha algumas peças paradas que sempre tive, mas a ideia de desapegar por um montante de dinheiro nunca me agradou. O desapegar para fazer o bem foi algo que surgiu e me fez enxergar uma possibilidade maravilhosa de doações!
BE – Você imaginou que um simples gesto ganharia essa dimensão?
Bárbara Jalles – Nunca imaginamos. A ideia era ajudar, e qualquer montante arrecadado seria uma vitória! Mas nunca imaginamos chegar a esse ponto.
BE – Como é a dinâmica da ação?
Bárbara Jalles – A mecânica foi pensada para que todos possam colaborar de forma descomplicada, na qual os participantes/doadores postam a foto do produto a ser vendido já com o valor sugerido no grupo de WhatsApp criado por nós (Bárbara Jalles, Tanise Dutra e Patrícia Spinelli), e a pessoa interessada/comprador transfere o valor direto para as instituições pré-determinadas pelo Instituto Ilumina (representado pelo trio), enviando o comprovante tanto para o/a vendedor (a) como para uma das administradoras do grupo, encarregadas não só de contabilizar as doações, mas também de movimentar o grupo para extrair o máximo de cada doação em favor de quem precisa principalmente nos leilões, promovidos com peças de valores mais altos, e que obedecem à mesma dinâmica trazida para as compras das peças de segunda mão.
BE – Os interessados em participar da iniciativa adquirindo algum item pode participar de que forma?
Bárbara Jalles – Por enquanto, a entrada dos participantes no bazar digital funciona somente por convites, que são aprovados pelas administradoras do grupo de forma a preservar a segurança dos participantes diante de possíveis pessoas mal-intencionadas, mas a iniciativa já está buscando formas de expandir essa corrente do bem de uma forma mais ampla, justamente para poderem auxiliar ainda mais pessoas.
Quem não estiver no grupo e quiser seguir o Instagram @institutoilumina2024, por lá é possível ver muitos produtos e serviços oferecidos e ainda dar lances nos leilões.
BE – Quantas e como foi a escolha das instituições beneficiadas?
Tanise Dutra – Assim que concebemos o projeto, nossa intenção era poder dar suporte a ONGs que atuassem em várias frentes, indo das mais emergenciais, como abrigos (Instituto Colo de Mãe), alimentos e itens de higiene básica (Instituto Cultural Floresta), a áreas mais estruturais, que englobassem Saúde (AFUSC - Fundação dos Funcionários da Santa Casa de Porto Alegre), Educação (AHMI – Associação dos Amigos do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, que está atuando na reconstrução de duas creches), e obviamente a reconstrução da cidade (Instituto Cultural Floresta), levando também em consideração trabalhos que pensassem em como essas pessoas voltariam aos seus lares de uma forma digna (De Volta para Casa RS, que foca seus esforços em doações de móveis), totalizando até o momento cinco instituições assistidas pelo nosso projeto no Instituto Ilumina.
BE – Vocês já têm uma lista de diversas instituições que precisam de ajuda, e o próximo foco será o seguimento da Educação, para viabilizar a reabertura das escolas na região. Já tem ideia de como será esse auxílio? Como você enxerga essa questão de as crianças estarem sem aulas há tanto tempo?
Tanise Dutra – Através dessa corrente do bem que vem ganhando cada vez mais força, inclusive superando nossas expectativas em questão de doações, o cuidado com a Educação já sé uma realidade dentro do Instituto Ilumina, onde estamos focando nossos esforços junto a AHMI (Associação dos Amigos do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas) na reconstrução das creches Vitória, na Vila Operária (para a qual já arrecadamos R$ 204 mil, e também da creche Pé de Pilão, no bairro Farrapos, ambas em Porto Alegre. Enxergamos esse cuidado com a educação na primeira infância como primordial, uma vez que ele compre um papel duplo, viabilizando tanto a volta das crianças ao ambiente escolar e ao convívio em sociedade como também permite que as suas famílias possam regressem aos seus postos de trabalho, garantindo uma volta gradual à normalidade de uma forma mais ampla.
BE – Até o momento qual o montante arrecadado? A que se deve esse sucesso da iniciativa?
Tanise Dutra – Até o final da semana passada, o Instituto Ilumina chegou à marca de dois milhões de reais, ultrapassando em pouco mais de um mês a meta inicial, que era de um milhão de reais.
BE – Atualmente, quantas pessoas participam do grupo do WhatsApp se envolvendo com a ação?
Patricia Spinelli – Desde o dia 16 de maio, data de criação do grupo, até o dia de hoje, o grupo já atingiu a capacidade máxima dos grupos de Whatsapp, 1024 participantes, que colaboram com a iniciativa seja com doações de itens ou comprando os produtos e serviços doados tanto pelos próprios participantes, como por empresas.
BE – Como as pessoas têm recebido esse projeto? Qual o feedback vocês têm tido?
Patricia Spinelli – Recebemos elogios todos os dias pela criação do projeto, mas sempre deixamos claro que só está dando certo graças ao engajamento de cada uma das pessoas que fazem parte do grupo.
BE – Qual o sentimento em poder contribuir com os gaúchos num momento tão delicado como o que estão vivendo?
Patricia Spinelli – Neste momento tão difícil para os gaúchos, tranquiliza um pouco nossos corações sabermos que estamos fazendo a nossa parte.
BE – Quantos leilões e desapegos já foram realizados? Qual total de itens?
Patricia Spinelli – No último levantamento, entre leilões e desapegos, o grupo já havia angariado mais de três mil itens.
BE – Qual o desapego mais especial para cada uma e por quê?
Tanise Dutra – Eu adoro comprar peças de amigas queridas, pois sei que já vem com a energia da pessoa.
Bárbara Jalles – Todas as peças são especiais, pois trazem um pouco da nossa história e da nossa energia