SIG BERGAMIN: SINÔNIMO DE AUTENTICIDADE
Sig Bergamin é um dos mais proeminentes nomes da arquitetura e do design de interiores no Brasil. Sua estética se destaca pelo uso vibrante de cores e pela fusão harmoniosa de estilos distintos. Com projetos que abrangem diversas partes do mundo, ele também é autor de obras que se tornaram referências no campo do design, consolidando sua influência tanto nacional quanto internacionalmente.
A trajetória de Sig na arquitetura e decoração de interiores é marcada por um blend de sofisticação e autenticidade.
Após ganhar notoriedade nacional com a decoração da icônica casa noturna The Gallery, que se tornou um símbolo da alta sociedade paulistana nos anos 1980, Sig expandiu seus horizontes, fazendo de Nova York sua segunda casa. Este espaço multicultural permitiu que Bergamin se posicionasse no cenário global, desenvolvendo projetos para os mais exigentes e influentes clientes em diversos países.
Nesse mês, ele palestrou em um evento exclusivo para profissionais, realizado pelo Núcleo AZ, no Riopreto Shopping.
Leia a entrevista a seguir:
BE – Você é um dos arquitetos mais respeitados do Brasil e apresenta um estilo único que marca o sucesso dos 50 anos de profissão e, consequentemente, a fama atingiu a esfera internacional. Quais foram os principais desafios enfrentados em sua carreira e como os superou?
Sig Bergamin – O principal desafio foi me encaixar. Minha visão sempre foi mais rica em texturas, cores e histórias, o que inicialmente foi visto como algo fora do padrão. No entanto, persistindo na autenticidade, construí meu estilo e meu nome deu certo. Além disso, adaptar meus projetos a diferentes culturas e demandas exigiu flexibilidade e aprendizado. Acho que na nossa área é fundamental ser flexível e ter uma sede de aprender. Temos que estar constantemente em aprendizado.
BE – Você tem projetos em Nova York, Paris, Londres e Miami. Quais influências culturais que cada cidade exerce sobre seus designs?
Sig Bergamin – Cada cidade oferece um universo próprio. Nova York inspira com seu dinamismo e diversidade cultural; Paris traz a sofisticação clássica e a riqueza histórica; Londres combina tradição e ousadia; enquanto Miami, com sua vibração tropical, me conecta ao Brasil. No fundo, cada projeto tem uma relação com a geografia do local. É um fator determinante assim como a personalidade do cliente e a minha também. É o equilíbrio entre esses três pilares.
BE – Qual o segredo do sucesso?
Sig Bergamin – Autenticidade e paixão. Acredito que o design deve contar histórias e transmitir emoções, não apenas seguir tendências. Aliás, eu não acredito em tendência, em moda. O que é bonito, o que é confortável nunca enjoa. Além disso, viajar, pesquisar e estar sempre aberto a aprender são essenciais para se manter atualizado.
BE – Ao longo de sua trajetória profissional, qual época você classificaria como a melhor e por quê?
Sig Bergamin – Essa é uma pergunta difícil, pois cada época teve sua importância. No entanto, os últimos anos têm sido especialmente marcantes. O lançamento dos meus livros pela Assouline e os grandes empreendimentos que estamos realizando no interior de São Paulo são conquistas que me enchem de orgulho.
BE – Qual projeto mais te marcou? E por quê?
Sig Bergamin – A Boate Gallerie tem um significado enorme na minha vida e na minha trajetória profissional. Ele representa um marco tanto pelo desafio quanto pelo impacto que causo na sociedade paulistana na época.
BE – Poderia compartilhar experiências significativas que moldaram sua carreira como arquiteto em contextos tão diversos?
Sig Bergamin – Sou uma pessoa curiosa por natureza, e sempre fui fascinado por cores e texturas. Após me formar, busquei expandir meus horizontes e mergulhei profundamente na cultura asiática — Índia, China, Indonésia — e também em países africanos. Nessas regiões, a ousadia no uso de cores e texturas é inspiradora. Fiz inúmeras viagens para esses lugares, enquanto a maioria dos profissionais focava em Milão. Essas vivências me ensinaram lições valiosas que moldaram meu olhar e a maneira como abordo meus projetos.
BE – Quais tendências você considera mais relevantes na arquitetura contemporânea?
Sig Bergamin – Eu não acredito em tendências, mas eu diria que atualmente, ainda mais no mundo pós-pandemia, a personalização se fortaleceu: as pessoas buscam espaços que reflitam suas histórias e estilos de vida. Além disso, a integração entre tecnologia e sustentabilidade tem transformado a maneira como projetamos e vivemos. E acrescentaria também o conforto. Antes, as pessoas buscavam aparência abrindo mão do conforto; agora, vejo que tem que ter as duas coisas.
BE – Como você aborda a sustentabilidade em seus projetos arquitetônicos?
Sig Bergamin – Sustentabilidade é algo que venho aprendendo e incorporando cada vez mais. Ela vai muito além de instalar placas solares ou sistemas de captação de água da chuva. Sustentabilidade começa no esboço do projeto, com a definição de métodos construtivos eficientes, com a seleção criteriosa de materiais e com a escolha de fornecedores e prestadores de serviço que realmente estejam comprometidos com práticas sustentáveis. É um processo que exige dedicação e planejamento, mas é nossa responsabilidade, como arquitetos, integrar essa consciência em cada etapa do projeto.
BE – Podemos dizer que a sua principal característica é o maximalismo? Como é seu processo criativo?
Sig Bergamin – Meu estilo vai além do maximalismo. Ele é eclético, com um olhar que conecta épocas, culturas e materiais. Meu processo criativo começa com o contexto: a geografia, o cliente, a arquitetura existente e as necessidades específicas do projeto. A partir daí, busco criar espaços ricos em história e personalidade, sempre com equilíbrio e harmonia.
BE – Como você equilibra criatividade e funcionalidade em seus projetos?
Sig Bergamin – A criatividade deve sempre dialogar com o uso prático do espaço. Cada elemento no meu design tem uma razão de estar ali, não é apenas estético. Entender o cliente e como ele viverá no ambiente é essencial para criar essa harmonia.
BE – De que maneira a tecnologia tem impactado seu processo de criação?
Sig Bergamin – Sou de uma geração em que tudo era feito à mão: desenhos, maquetes, esboços. Não tínhamos os recursos tecnológicos de hoje e isso exigia um olhar muito mais intuitivo e artesanal para o design. Confesso que ainda sinto certa dificuldade em me adaptar completamente às mudanças, porque o processo criativo mudou radicalmente. No entanto, o escritório está sempre antenado e essa conexão com o novo é fundamental.
Minha equipe é formada por muitos profissionais jovens, que trazem energia e domínio das ferramentas mais avançadas. Além disso, o arquiteto Murilo Lomas desempenha um papel importante nesse frescor e no “refresh” constante das ideias.
BE – Como você vê a evolução da arquitetura nos próximos anos?
Sig Bergamin – Vejo um futuro no qual sustentabilidade, personalização e tecnologia estarão ainda mais integradas. As casas serão cada vez mais inteligentes, mas, ao mesmo tempo, terão uma essência mais humana.
BE – Que projetos futuros estão na sua agenda e o que podemos esperar deles?
Sig Bergamin – Entre os projetos futuros, há várias residências internacionais e o lançamento do meu terceiro livro, “Eclectic”. Ele será uma celebração do meu estilo e do ecletismo que define minha carreira, mostrando projetos que vão além das expectativas tradicionais.
BE – Que conselhos daria a jovens arquitetos que estão iniciando suas carreiras?
Sig Bergamin – Sejam autênticos e estejam dispostos a aprender. Viajem, explorem culturas e busquem referências fora da arquitetura. E, acima de tudo, respeitem a essência de cada projeto e cliente, pois é isso que traz relevância ao trabalho. E se arrisquem! É essencial corrermos risco se quisermos nos destacar.
BE – Quais são suas maiores inspirações ao trabalhar em projetos internacionais?
Sig Bergamin – Trabalhar em outro país é sempre um convite à descoberta. Cada local tem uma identidade própria e um leque de fornecedores, artistas e materiais que são completamente diferentes do que temos no Brasil. Então, eu vou me inspirando nessas descobertas, nesse garimpo.