O desafio de ser uma e representar muitas
Márcia Caldas destacou-se como a única representante feminina eleita para a Câmara Municipal de Rio Preto na última eleição, em um plenário composto por 23 vereadores. Ela obteve 3.752 votos. Sua eleição assume uma relevância não apenas como uma vitória individual, mas como um marco na luta por uma representação mais igualitária. A vereadora reitera seu empenho em defender os interesses e aspirações das mulheres.
Em 2009, foi a primeira mulher a chegar à presidência do Sindicato dos Empregados no Comércio de São José Rio Preto (Sincomerciários). Por três vezes, foi reeleita, sendo a posse mais recente em dezembro de 2023. Em 2016, foi eleita vereadora e, em 2021, nomeada secretária municipal do Trabalho. Atualmente, além de vereadora e presidente do Sincomerciários, ocupa a vice-presidência da Fecomerciários, Tesouraria da CNTC e conselheira do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, do governo federal.
Márcia afirma que se sente realizada por poder contribuir com Rio Preto e com a sociedade. “Ao longo da minha vida, e dos meus mandatos, tive oportunidades de levantar bandeiras importantes, como a defesa dos direitos das mulheres e a valorização do trabalhador. São áreas fundamentais para mim. Precisam de investimentos para que possamos construir uma sociedade mais justa e igualitária. Sempre vou lutar pela adoção de políticas públicas que promovam a igualdade de gênero e melhorias nas condições de trabalho à trabalhadora e ao trabalhador. Eu acredito que, com ao ouvir a população e as suas justas reivindicações, é possível construirmos, juntos, ações concretas e, desse modo, transformar realidades e proporcionar mais oportunidades para todos”.
Ela complementa afirmando que têm muitos sonhos e objetivos para Rio Preto. “Quero continuar trabalhando por melhorias na saúde, educação e inclusão social e direito das mulheres. Tenho certeza de que ainda tenho muito a contribuir para o progresso de Rio Preto. E na área de pessoal, sou completa e realizada em ter uma família abençoada, com saúde e todos felizes. Essa é, sem dúvida, minha maior realização”.
Natural de Araraquara, ela é casada com Arnaldo Fernandes Junior há 36 anos, com quem teve dois filhos, Nathália Caldas Fernandes e Lucas Caldas Fernandes. E é avó também, da Manuela e do Theo. “Curtir meus netos é minha maior paixão. Além disso, gosto de cozinhar, estar com a minha família e, quando possível, viajar”.
Leia a seguir a entrevista:
BE – Como a história de vida influenciou sua decisão de se tornar vereadora?
Márcia Caldas – Minha história de vida sempre foi marcada por desafios e aprendizados. Nasci em um lar simples, onde meu pai era ferroviário e minha mãe, dona de casa. Sou a única mulher entre os cinco filhos, tenho quatro irmãos. Desde cedo, aprendi o valor do trabalho árduo e da dedicação. Tive a oportunidade de trabalhar grande parte da minha vida no comércio, onde pude conhecer de perto as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, especialmente aqueles que, muitas vezes, não têm voz ou apoio para lutar pelos seus direitos. Minha trajetória como presidente do Sincomerciários foi um marco importante, pois no sindicato posso atuar diretamente na defesa dos direitos dos trabalhadores, buscando melhores condições de trabalho e melhor qualidade de vida. Essa experiência me mostrou a importância de uma representatividade forte e comprometida e me motivou a entrar para a política, onde acredito que posso fazer muito mais pela minha comunidade. A luta que vivencio ao lado dos trabalhadores e a necessidade de uma representatividade mais atuante foram decisivas para me candidatar e ser eleita vereadora por duas vezes, com o apoio do nosso presidente da Fecomerciários e deputado federal, Luiz Carlos Motta. Agora, quero continuar essa jornada, mas em uma escala maior, buscando sempre melhorias para todos os cidadãos de Rio Preto.
BE – As mulheres representam a maior fatia do eleitorado rio-pretense, assim como no Brasil como um todo, mas não têm votos suficientes para aumentar a representatividade na Câmara. Por que as mulheres seguem não votando em mulheres, na opinião da senhora?
Márcia Caldas – Essa ainda é uma questão difícil e, infelizmente, é algo que precisa ser trabalhado mais profundamente. A falta de representatividade feminina na política não é apenas um reflexo da ausência de candidatas, mas também de um preconceito estrutural que ainda existe em muitos setores, onde as mulheres, mesmo sendo a maior parte do eleitorado, muitas vezes não se sentem representadas ou confiantes em votar em outras mulheres.
Essa questão está diretamente ligada à cultura patriarcal, que historicamente tem desvalorizado a participação feminina em espaços de poder. Além disso, ainda há uma falta de conscientização sobre a importância de fortalecer a representatividade feminina, o que afeta diretamente a decisão das eleitoras em escolher candidatas.
Acredito que essa mentalidade precisa ser mudada. Isso passa por um trabalho contínuo de educação política e empoderamento feminino. É fundamental que as mulheres se apoiem e reconheçam a importância de ocupar esses espaços, para que possamos, finalmente, alcançar uma representatividade justa e equilibrada. Registro que as comerciárias paulistas acabaram de sair do “Mulher Valorizada, Comerciária Fortalecida", evento comemorativo ao Dia da Mulher (8/03) que reuniu quatro mil comerciárias e aprovou 12 deliberações por respeito, igualdade e direitos.
BE – E quais os desafios a senhora enfrenta por ser a única representante feminina na Câmara?
Márcia Caldas – O desafio de ser uma e representar muitas! Essa unidade redobra em mim a responsabilidade de representar todas as mulheres de Rio Preto. Vou fazê-lo por meio do diálogo, mantendo as portas do meu gabinete abertas às mulheres, representantes de todos os segmentos rio-pretenses. A ideia é ouvir e viabilizar junto a elas as suas justas reivindicações por meio de entendimentos com os meus pares masculinos na Câmara. Ou seja, somar esforços para cuidar bem e melhor das mulheres. Entre 2017 e 2020, período do meu primeiro mandato, tive a oportunidade de atuar ao lado de outras duas vereadoras. Éramos poucas também, mas havia parceria, respeito e uma forte união em torno das pautas voltadas às mulheres. Mas, mesmo com a nova realidade, não vou esmorecer! Sou de luta!
BE – De que maneira a senhora descreveria o papel de um vereador?
Márcia Caldas – Enxergo a missão de um vereador como sendo a voz da população. Nosso papel é representar os cidadãos, ouvir suas necessidades, lutar por suas demandas e garantir que sejam ouvidos e tenham as suas reivindicações atendidas no âmbito legislativo. O vereador deve ser um facilitador de mudanças positivas, trabalhando sempre em prol do bem-estar da comunidade, fiscalizando as ações do executivo e criando leis que tragam benefícios para a população rio-pretense.
BE – Quais foram os principais impactos da carreira política em sua vida pessoal, especialmente no convívio familiar e na criação dos filhos?
Márcia Caldas – Essa questão de renúncia à carreira e o impacto na vida pessoal realmente mexem comigo. É algo muito difícil de lidar, principalmente quando me lembro das vezes em que saía cedo de casa para trabalhar e meu filho ficava chorando no portão. Aquilo machucou meu coração de uma forma que é difícil de descrever, mas graças a Deus posso dizer que, hoje, vejo que tudo valeu a pena. Mesmo com as ausências, tenho uma família abençoada que me apoia e, apesar dos desafios, sei que o esforço foi importante para proporcionar um futuro melhor para nós.
Agora, com meus netos, Manu e Theo, essa missão de conciliar o trabalho com a dedicação a eles se tornou ainda mais árdua, mas, ao mesmo tempo, mais gratificante. Eles são meus tesouros e, embora o equilíbrio seja um desafio constante, sei que cada esforço que faço é para o bem deles também, pois sendo representante sindical e vereadora minha luta é para todos, sendo exemplo de luta por valores. No final, tudo vale a pena.
BE – Como a senhora descreveria seu estilo de liderança e que valores você busca promover no seu dia a dia da vida pública?
Márcia Caldas – Meu estilo de liderança é firme e determinado, sempre fiel aos meus ideais. Sou questionadora e lutadora, sem abrir mão dos valores dignos e inegociáveis, como a justiça, a igualdade e o respeito aos direitos de todos. Na vida pública, busco promover esses princípios no meu dia a dia, sempre com comprometimento e dedicação.
BE – O que a senhora gosta de fazer em momentos de lazer?
Márcia Caldas – Gosto de estar com minha família, principalmente com meus filhos e netos. São esses momentos de convivência e carinho que realmente me renovam e me lembram da importância de tudo o que faço.
BE – A senhora voltou à Câmara por um partido de direita – o PL – que tem liderado no País um movimento conservador sobre o papel das mulheres na sociedade. Como a senhora vê esse movimento?
Márcia Caldas – Embora seja um partido com características conservadoras, o PL tem se mostrado um espaço que incentiva a participação das mulheres e valoriza grandes lideranças femininas. O partido conta com representantes de destaque, que têm conquistado espaço e feito a diferença na política, defendendo os direitos das mulheres e sua participação ativa na sociedade. Acredito que o PL, ao contrário de limitar, busca fortalecer e promover as mulheres, reconhecendo sua importância em todas as esferas de poder.
Cheguei ao PL a convite do deputado federal Luiz Carlos Motta e, desde então, tenho sido muito bem acolhida por todos, o que reforça meu compromisso em seguir trabalhando com dedicação e responsabilidade por nossa cidade.
BE – De que forma o mandato da senhora pretende atuar no sentido de abrir caminho para que outras lideranças femininas ampliem os espaços de poder político?
Márcia Caldas – Como vereadora e atualmente a única representante feminina na Câmara, minha missão é justamente abrir caminhos para outras lideranças femininas. Pretendo trazer as mulheres para mais perto, incentivando-as a se envolverem no processo político e a entenderem a importância de ocupar esses espaços. Acredito que, principalmente, pelo meu exemplo, posso mostrar como é fundamental a presença feminina na política, não apenas para representar as mulheres, mas também para trazer uma visão mais ampla e inclusiva para as decisões que impactam toda a sociedade. Meu objetivo é inspirar e apoiar outras mulheres a se aproximarem da política e se tornarem protagonistas no cenário político.
BE – A senhora forjou carreira em instâncias essencialmente dominadas pelos homens – sindicalismo e política partidária. Chegou a sentir o machismo na pele? Como?
Márcia Caldas – Sim, tanto no sindicalismo quanto na política partidária, são áreas predominantemente ocupadas por homens, e o machismo, muitas vezes, se faz presente. No entanto, por incrível que pareça, sempre fui muito respeitada. Conquistei meu espaço com muito trabalho e dedicação, tenho voz ativa e uma ótima relação com meus colegas, independentemente de gênero.
BE – Dados recentes mostram que o feminicídio segue crescendo na região e no País, apesar do endurecimento das punições e de toda a campanha que empresas, veículos de comunicação, entidades e movimentos de defesa dos direitos da mulher têm feito. Por que é tão difícil combater esse problema?
Márcia Caldas – Isso é muito triste e preocupante. O feminicídio é um reflexo do machismo estrutural que ainda está profundamente enraizado na nossa sociedade. Apesar das campanhas, punições mais severas e do aumento da conscientização, o problema persiste, pois ainda enfrentamos uma cultura que desvaloriza a mulher e naturaliza a violência contra ela. Temos muitas informações e legislações, mas, infelizmente, ainda temos muito a percorrer. O combate ao feminicídio é uma das minhas lutas constantes, e vou continuar trabalhando para que possamos, de fato, mudar essa realidade e garantir segurança e respeito para todas as mulheres. Toda violência tem de ser denunciada no Disque 180!