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Educar é acreditar no amanhã

EntrevistaEducar é acreditar no amanhã
Com quase três décadas dedicadas à educação, Nelson Neves, coordenador do Núcleo de Escolas Particulares da Acirp, fala sobre gestão escolar, inclusão e os caminhos que ele acredita para o futuro da aprendizagem

Sobre o autor

Com visão empreendedora, foco em inovação e forte compromisso com a qualidade da educação, o coordenador do Núcleo de Escolas Particulares da Associação Comercial de Rio Preto (Acirp), Nelson Norberto Neves, tem como visão estratégica a estruturação do ambiente educacional que valoriza o cuidado com as crianças, o envolvimento das famílias e a formação contínua dos profissionais que atuam na educação.

Administrador de empresas, com especializações em marketing e varejo, atuou por mais de duas décadas em grandes companhias antes de empreender ao lado da esposa, a pedagoga Erika Neves, na criação de uma escola voltada à primeira infância - o Centro Educacional Pequetitos.

Na coordenadação do Núcleo das Escolas Particulares da Acirp, ele tem contribuído para o fortalecimento do setor educacional por meio de ações coletivas, parcerias e iniciativas de capacitação.

Nelson afirma que alcançou boa parte de seus objetivos profissionais, mas ressalta que gosta de encarar desafios e busca se aperfeiçoar. “Não deixo de ficar conectado com as novas tecnologias e novos negócios. Inclusive, recentemente, investimos num Polo Universitário EAD justamente por esta visão de futuro e de novas possibilidades”, acrescentando que “os sonhos não param! Pensamos em ampliar nossa escola com uma maior oferta de espaço e estrutura para a educação infantil e ampliando para as demais séries do Ensino Fundamental I e II”.

Leia a entrevista a seguir:

BE – Como começou sua trajetória na área da educação?

Nelson Neves – Minha trajetória iniciou-se quando me associei à minha então namorada, hoje esposa, Erika. Ela já administrava uma escola infantil e precisava realizar algumas adequações exigidas pela Secretaria Municipal da Educação. Criamos uma sociedade, na qual atuei como sócio investidor. Desde o início, pude aplicar minha experiência do setor corporativo, trazendo para a escola controles administrativos, padrões de qualidade, além de investir na estrutura física, instalações e processos. Assim começou nossa jornada, que já dura 27 anos.

BE – O que o levou a entrar para o mundo da educação e, mais especificamente, abrir uma escola infantil?

Nelson Neves – O sonho de ter uma escola partiu da minha esposa. Recém-formada em Pedagogia, ela já alimentava esse projeto há muito tempo e, na primeira oportunidade, investiu todas as suas economias na abertura de uma escola, junto a outras sócias. Inicialmente, o empreendimento não prosperou e ela precisou retornar ao mercado como funcionária. Mais tarde, reorganizou-se, buscou novos recursos e decidiu abrir a escola sozinha. Foi nesse momento que nos conhecemos, iniciamos nosso relacionamento e, logo depois, nos tornamos sócios.

BE – Quais foram os principais aprendizados ao longo da sua jornada como gestor de uma escola para a primeira infância?

Nelson Neves – Nessa trajetória, colecionamos inúmeras histórias e experiências marcantes — tanto para nós quanto para as crianças, que certamente levaram um pouco de nós com elas. Lidar com a primeira infância é uma das missões mais nobres sob a perspectiva do desenvolvimento humano. É nesse período que ocorrem importantes conexões cerebrais, e as boas experiências vividas têm papel fundamental na formação do indivíduo. Infelizmente, ainda há quem acredite que a educação infantil se resume a “brincar”, e que o investimento real só deve começar no ensino médio — um equívoco grave. Os estímulos oferecidos, as atividades propostas e o convívio com outras crianças moldam o desenvolvimento infantil e abrem caminhos para inúmeras oportunidades futuras. Como gestores, temos o dever de conscientizar os pais sobre isso e proporcionar às crianças um ambiente rico, seguro e fértil para que possam florescer.

BE – O aumento de diagnósticos em crianças neurodivergentes tem representado um desafio para a Educação. Como as escolas têm se preparado para tornar os espaços mais inclusivos?

Nelson Neves – Sem dúvida, é uma realidade desafiadora para as escolas. Temos buscado investir em capacitação de equipe, adequação dos espaços físicos, orientação de profissionais de saúde e adaptação de conteúdos pedagógicos. Esses são desafios enfrentados diariamente, e acreditamos que temos avançado significativamente. A participação ativa da família é essencial, pois a escola é apenas um dos elos dessa rede de apoio. A criatividade pedagógica, somada às técnicas desenvolvidas por especialistas da saúde, tem sido o caminho para promover a inclusão efetivamente e garantir às crianças melhores condições de integração e desenvolvimento, tanto educacional quanto social.

BE – Como surgiu seu envolvimento com a Acirp e o Núcleo das Escolas Particulares?

Nelson Neves – Somos associados da Acirp há muitos anos, mas foi durante a pandemia que nos aproximamos mais diretamente do Núcleo das Escolas Particulares. Naquele momento de grande incerteza, entendemos que enfrentar os desafios em conjunto, com apoio mútuo, faria toda a diferença. Após esse período, assumi a coordenação do Núcleo em 2024 e, em 2025, a diretoria dos Núcleos Setoriais.

BE – Qual é o papel do Núcleo das Escolas Particulares dentro da Acirp?

Nelson Neves – O Núcleo das Escolas tem uma atuação destacada dentro da Acirp. Completará 10 anos em 2025 e sempre foi marcado por forte engajamento e representatividade. As escolas nucleadas são participativas e ativas. O NEP é muito alinhado com os princípios da Acirp, promovendo a escuta ativa dos empreendedores e buscando constantemente meios para gerar desenvolvimento e melhores resultados.

BE – Que tipos de ações ou projetos o núcleo tem promovido em prol das escolas associadas?

Nelson Neves – Realizamos projetos relevantes, como o Empreender, que capacitou 22 escolas. O NEP também firmou parcerias com empreendimentos locais para eventos culturais, frequentemente envolvendo apresentações de alunos, além de oferecer capacitações para os gestores escolares. Destaco ainda a criação de um grupo de compras, que gerou ganhos diretos para as escolas participantes, otimizando custos e processos.

BE – Quais os principais desafios enfrentados pelas escolas particulares hoje?

Nelson Neves – As escolas têm enfrentado desafios específicos. Acredito que o principal deles seja compreender o “novo aluno”, que chega mais informado, familiarizado com tecnologia e com expectativas bem definidas. Antes, a escola era quase a única fonte de conhecimento; hoje, compete com múltiplos canais. As famílias, por sua vez, também enfrentam um momento de transformação, pressionadas por questões profissionais e emocionais. As escolas precisam estar atentas a esses movimentos e adaptar tanto suas estruturas físicas quanto suas abordagens pedagógicas para atender plenamente alunos e famílias.

BE – O que considera essencial em uma escola infantil de qualidade?

Nelson Neves – Em nossa escola, seguimos três pilares fundamentais: estrutura, metodologia e pessoas. Essa base é essencial para desenvolver um trabalho de excelência, com impacto positivo no desenvolvimento das crianças. A escola infantil vai além do brincar — ainda que esse também seja um elemento importante — e deve proporcionar estímulos adequados, experiências enriquecedoras e ambiente seguro. Tudo isso precisa ser conduzido com dedicação, intencionalidade e vocação.

BE – Quais tendências educacionais mais chamam sua atenção atualmente?

Nelson Neves – Vejo como destaques a ascensão da inteligência artificial, o desenvolvimento de competências socioemocionais e das chamadas soft skills. Há também uma tendência à personalização do ensino, com abordagens mais direcionadas e significativas para o aluno. A inclusão continuará sendo um tema de grande relevância e exigirá posicionamento claro de todos os envolvidos no processo educacional, buscando sempre o equilíbrio entre acolhimento e excelência.

BE – Como a tecnologia é usada na sua escola, especialmente com crianças pequenas?

Nelson Neves – Na nossa escola, a tecnologia é uma aliada, mas seu uso é intencional e cuidadosamente integrado à proposta pedagógica. Estamos atentos às inovações, mas aplicamos os recursos tecnológicos de forma lúdica e com objetivos claros. Nem sempre tecnologia precisa significar telas. Utilizamos materiais e práticas baseados em estudos atuais, com foco em sustentabilidade e efetividade no aprendizado. A essência da educação é preservada, mas com linguagem e recursos atualizados.

BE – Como enxerga o futuro da educação infantil nos próximos 5 a 10 anos?

Nelson Neves – O futuro está logo ali, e trará novos desafios. As crianças estão cada vez mais desenvolvidas e as estruturas familiares também vêm se transformando. As escolas precisarão estar preparadas para atender essas novas dinâmicas, mantendo sua atratividade e, talvez, ampliando os serviços oferecidos às famílias. Ao mesmo tempo, em que há um movimento de desaceleração e busca por uma vida mais equilibrada, não sabemos se isso será de fato possível. Nesse contexto, as escolas podem se tornar facilitadoras. Do ponto de vista pedagógico, os instrumentos de ensino precisarão evoluir com as novas gerações, e o profissional da educação deverá manter sua essência, mas estar mais qualificado do que nunca.

BE – Quais habilidades considera fundamentais para um bom gestor escolar hoje?

Nelson Neves – As competências básicas de gestão continuam indispensáveis: controle de receitas e despesas, fluxo de caixa, precificação correta e sustentabilidade do negócio. Do ponto de vista humano, contratar, capacitar e reter bons profissionais é um grande desafio — mas, quando bem gerido, soluciona grande parte dos problemas. No campo pedagógico, é essencial estar atualizado com as boas práticas e inovações, sem perder a identidade da escola. Contar com sistemas de gestão que auxiliem na tomada de decisões também é fundamental. Um negócio educacional precisa estar em conformidade com as normas legais, atender às exigências do setor e ser continuamente avaliado.

BE – Que mensagem deixaria para os educadores, pais e demais profissionais da área que enfrentam os desafios diários da educação?

Nelson Neves – A educação é uma arte. Ter a consciência de que a educação pode impactar profundamente o destino de uma pessoa é, ao mesmo tempo, grandioso e assustador. O educador precisa estar ciente da dimensão de sua atuação — com efeitos que podem ser percebidos no presente, mas cujas consequências, muitas vezes, só surgirão no futuro. Aos pais, que acompanham esse processo de forma mais próxima, a responsabilidade é igualmente grande. A ambos, deixo a mensagem: mantenham o propósito, eduquem com dedicação, plantem sementes de curiosidade, confiança e perspicácia. Quem recebe esses ensinamentos jamais os esquecerá.

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