CUIDADOS COM A PELE
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam 704 mil novos casos anuais de câncer de pele no Brasil, dos quais 220 mil são de câncer não melanoma e 8,9 mil de melanoma. Devido à alta incidência da doença, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) estabeleceu o mês Dezembro Laranja, que marca o início do verão, para realizar a campanha de conscientização sobre a necessidade de prevenção aos danos causados pelo sol nos diversos tipos de pele.
O dermatologista João Roberto Antonio, chefe do departamento de dermatologia do Hospital de Base, destaca que esse tipo de câncer possui o maior índice de diagnóstico no País. Ele comparou os números a outros tipos, como o câncer de mama e o de próstata, cujos novos casos são, respectivamente, 74 mil e 72 mil por ano.
Professor emérito da Famerp, é doutor em medicina e autor de dois livros, “O Segundo Século: As Grandes Veredas De Uma Sociedade Centenária”, com Gabriel Gontijo, sobre a história dos 100 anos da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da autobiografia “João Roberto Antonio, Histórias e Memórias”. Além de ter publicado mais de 200 artigos em revistas médicas como autor ou coautor e 18 capítulos em livros nacionais e internacionais.
Casado há 58 anos com Aparecida Cury Antonio, com quem teve três filhos, João Roberto Antonio Filho, Carlos Roberto Antonio e Luiz Roberto Antonio, é avó de Lucas e Enrico.
Leia a entrevista:
BE – Nesse mês é celebrado o Dezembro Laranja, que visa conscientizar sobre os cuidados e prevenção contra o câncer de pele. Anualmente, o HB realiza ações de conscientização e exames de câncer de pele e, só na ação do ano passado, o HB detectou mais de 140 suspeitas de lesões pré-cancerosas e cancerosas na região. Como o senhor interpreta esses números?
João Roberto Antonio – Esse número tem o seu significado para a nossa região que apresenta uma incidência solar intensa praticamente durante o ano todo. Por outro lado, a nossa população é constituída, em grande parte, de descendentes de imigrantes europeus com pele clara, (que tem menor quantidade de melanina, que oferece a proteção natural contra as radiações Ultravioleta.), olhos claros e cabelos claros que recebem essa irradiação cotidianamente e, muitas vezes, sem a devida proteção solar. Isso gera um efeito cumulativo de agressão à pele que, com o tempo, poderá provocar o desenvolvimento das lesões pré-cancerosas e do câncer de pele. Nisso reside a necessidade de levar à população um conjunto de informações, que proporcionem o despertar da consciência para a mudança de atitudes e comportamentos relacionados a esses riscos, que cada um está individualmente exposto ao desenvolvimento do câncer da pele.
BE – Como tem sido a adesão da população em geral às campanhas de prevenção ao câncer de pele no que se refere ao uso de proteção, seja por meio de roupas, chapéus e filtro solar?
João Roberto Antonio – Esses 26 anos de Campanhas de Prevenção ao Câncer de Pele da SBD, implementadas como a atual, têm mostrado alguns sucessos em estabilizar ou reduzir as taxas de incidência em populações mais jovens. Assim, as estratégias de prevenção e detecção precoce continuam sendo cruciais para mitigar o impacto do câncer de pele relacionados à exposição solar e a sociedade na qual vivemos tem aderido a esses cuidados. Temos observado que muitas profissões que as pessoas trabalham expostas ao sol já têm adotado uniformes adequados para proteção solar, como são os correios, lixeiros, pessoas que limpam as ruas e que atuam nas estradas, e outros.
BE – Como se dá o efeito cumulativo do sol sobre a pele e como isso provoca as mutações nas células que podem resultar num câncer?
João Roberto Antonio – A exposição cumulativa da exposição contínua e prolongada ao sol resulta em danos na pele através de mecanismos que incluem a degradação do colágeno, comprometimento da função de barreira reduzindo a coesão celular e a integridade mecânica da pele, o que pode levar a microscópicas rachaduras e inflamações, contribuindo e levando gradativamente para o fotoenvelhecimento e o risco aumentado de câncer de pele. Assim, a proteção solar abrangente inclui a filtragem de todos os comprimentos de ondas Ultravioletas, o que é essencial para mitigar esses efeitos.
BE – Além do sol, há outros fatores de risco para o câncer de pele? Quais?
João Roberto Antonio – Idade avançada, sistema imunológico comprometido e histórico de queimaduras solares frequentes.
BE – Quais os sinais e sintomas que devem ser observados?
João Roberto Antonio – Quando uma ceratose actinica, uma “pinta” ou outro “sinal” na pele mudam de cor, de formato ou de tamanho e/ou ter sangramento fácil, pode significar um sinal de transformação maligna. Por isso, é importante sempre fazer um autoexame da pele e procurar um dermatologista caso detecte qualquer lesão suspeita.
BE – Além das áreas do corpo que normalmente ficam expostas à claridade, o couro cabeludo também pode ser afetado pelo câncer de pele?
João Roberto Antonio – Sim. Especialmente em pessoas calvas que se expõem ao sol sem a devida proteção. As pintas também podem ter localização nessa área, o que exige observação se houver alteração no seu comportamento.
BE – Como é feito o diagnóstico?
João Roberto Antonio – Com base nas características clínicas de cada tipo de câncer de pele, o dermatologista pode suspeitar ao simples examine e utilizar o dermatoscópio, aparelho utilizado para visualizar a lesão com mais detalhes. A seguir que vem a indicação de uma biópsia cujo exame anatomopatológico dará o diagnóstico final.
BE – O senhor poderia citar que medidas preventivas que podem ser adotadas?
João Roberto Antonio – Proteção solar é um conjunto de atitudes: evite exposição entre 9 e 15 horas e procure ficar na sombra nesse horário, use chapéu, camiseta e óculos escuros (proteção ocular), use protetor solar FPS 30 ou maior, (aplicar 30 minutos antes da exposição ao sol e reaplicar a cada 2 horas), não esqueça das orelhas, reaplicar após sair da água e após transpiração intensa. Lembre-se sempre dos outros cuidados, pois, sozinho, o protetor solar não resolve. Ensine a proteção solar ao seu filho. Pois é na infância que os conceitos são fixados. Evite a queimadura solar a todo custo e cuidado com os dias nublados.
BE – A maioria das pessoas que não usa filtro solar alega que não o faz devido ao alto custo do produto. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) tem promovido iniciativas para sensibilizar autoridades quanto à necessidade de redução de impostos visando torná-los mais acessíveis à população?
João Roberto Antonio – Sim, a SBD tem se posicionado ativamente sobre a necessidade de tornar o protetor solar mais acessível à população brasileira. O protetor solar deve ser tratado como um item de necessidade para a saúde pública, considerando seu papel essencial na prevenção de doenças como o câncer de pele, que é o tipo de câncer mais comum no Brasil.
Principais iniciativas da SBD são: propostas de redução de impostos, as campanhas de conscientização como o Dezembro Laranja, que também pressionam autoridades públicas a adotarem políticas que facilitem o acesso ao protetor solar., reforçando a ideia de que a prevenção é mais econômica do que o tratamento. Disponibilização em ações especificas para grupos vulneráveis.
Embora essas iniciativas sejam positivas, ainda há desafios para implementar mudanças estruturais que tornem o protetor solar acessível a toda a população.
BE – Dentre as pessoas que usam filtro solar, a maioria o faz apenas quando está diretamente exposta ao sol, na praia ou piscina. Qual alerta o senhor faria em relação a necessidade do uso diário?
João Roberto Antonio – Evite os horários de maior incidência do sol (das 9 às 15 horas), protegendo-se em ambientes cobertos nesses horários. Assim, essa proteção é necessária não só para dias de sol forte e altas temperaturas, mas também e até mesmo nos dias nublados e chuvosos, quando a incidência solar pode ser imperceptível. Nesses dias, o que não ultrapassa as nuvens são os raios luminosos, mas os raios ultravioletas atingem a nossa pele e podem causar danos, como queimaduras solares e potencialização do envelhecimento precoce e lesões pré-cancerosas ou cancerosas da pele.
Desse modo, utilize o sol com moderação para ter dele somente os benefícios, como a produção de Vitamina D e outros. Faça do sol o seu amigo e nunca o seu inimigo.
BE – Para finalizar, poderia nos dar a orientação sobre a forma e frequência correta do uso do protetor solar?
João Roberto Antonio – A frequência de aplicações do protetor solar é a cada 2 horas de uma maneira uniforme, espalhando-o em todas as áreas expostas ao sol. Mas isso se altera quando existe transpiração intensa, um mergulho na água, que requer uma reaplicação após se enxugar. Dependendo da tonalidade da pele ou condição que esteja passando, é importante que o protetor solar seja orientado pelo dermatologista. É preciso considerar a textura do produto e sua fragrância na hora da aplicação, para ser agradável o seu uso durante todo o dia. Além disso, seja orientado para a escolha de um hidratante adequado ao seu tipo de pele (mista, oleosa, normal ou seca), pois a exposição solar, mesmo com proteção, altera a lubrificação da pele.
Finalizo com uma reflexão que sem o sol não haveria vida na terra, mas temos que saber como receber seus benefícios. Quanto a produção de vitamina D, em indivíduos de pele clara, recomenda-se a exposição dos antebraços e mãos ao sol do meio-dia por cerca de 10 a 15 minutos no inverno e 10 minutos no verão, sem riscos danosos significativos na pele.