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Como Netão fez da infância no açougue um império de sabor

EntrevistaComo Netão fez da infância no açougue um império de sabor
O empresário e influenciador conta como construiu uma marca sólida a partir de um sonho de criança, levando carne de qualidade ao grande público e criando uma cultura empresarial centrada na excelência

Sobre o autor

Paixão que virou negócio e negócio que virou referência. Desde os churrascos de domingo na infância até a criação de marcas consolidadas no setor de carnes, Domingos Neto, conhecido como Netão, construiu uma trajetória marcada por autenticidade, propósito e inovação. À frente da Bom Beef e da Bom Beef Burgers, ele transformou o amor pela carne em um empreendimento de impacto, que alia qualidade premium, respeito ao cliente e forte presença digital.

A vivência desde cedo no açougue do tio, em Santos, despertou não só a paixão, mas também a visão empreendedora que o levou a criar um negócio sólido e escalável. Com olhar estratégico e pioneirismo nas redes sociais, Netão se tornou um dos primeiros a transformar o conteúdo em ferramenta de crescimento para pequenas empresas - criando autoridade, formando público e fortalecendo sua marca.

Já com uma unidade do açougue Bom Beef em Rio Preto, Netão esteve na cidade no início do mês para inaugurar a hamburgueria Bom Beef Burgers, no Shopping Iguatemi. Atualmente, a rede conta com 53 lojas de açougue e 24 unidades de hamburgueria em operação, além de estar em fase de implantação com mais 1 loja de açougue e 11 novas hamburguerias.

LEIA A ENTREVISTA:

BE – Como começou sua paixão pela carne e pelo churrasco?

Netão – Começou desde criança, aproximadamente aos sete anos, quando meu tio era proprietário de um açougue, em Santos. Todos os domingos, eu ia ao açougue e, depois, era dia de churrasco na casa do meu pai. Então, estar perto do açougue, da carne, da brasa, da churrasqueira, era sinônimo de estar perto da minha família. Desde criança, eu tenho um amor muito grande por toda essa atmosfera da carne e do churrasco

BE – Qual é o seu corte favorito e por quê?

Netão – Na verdade, não tenho um corte preferido, porque cada parte do animal oferece sabores, texturas, fibras e maciez muito particulares. Gosto de experimentar, testar e variar, por isso, aprecio o boi como um todo. Tem dias em que desejo uma rabada bem cozida com agrião; em outros, tenho vontade de comer uma picanha na churrasqueira. Às vezes, bate a vontade de um filé mignon à parmegiana ou de uma bananinha com chimichurri. Cada corte tem seu momento e é justamente essa diversidade que me encanta. Eu amo o animal por completo.

BE – Como foi a transição de açougueiro para influenciador digital?

Netão – Essa tendência de o dono da empresa se tornar também um influenciador, que hoje é tão falada, foi algo que comecei a fazer há mais de 10 anos. É o que já acontecia, de certa forma, quando empresários iam à TV ensinar receitas, dar dicas de artesanato ou mostrar como cuidar de flores — era uma maneira de promover o próprio negócio por meio da exposição na mídia.

Quando a internet começou a ganhar força, ela se tornou uma nova forma de divulgação. Na época em que iniciei, praticamente não existiam pequenos empresários usando a internet para isso. Não havia influenciadores digitais como hoje conhecemos; no Instagram, por exemplo, só havia grandes celebridades e marcas de peso.

Eu, por outro lado, não tinha recursos para anunciar em TV, rádio, jornal ou revista. Também ainda não era conhecido o suficiente para ser convidado para programas. Então, fui em busca de um caminho viável e encontrei na internet a possibilidade de me comunicar diretamente com o público, todos os dias.

No início, as pessoas até estranhavam um açougueiro se posicionando publicamente, falando com naturalidade sobre o próprio trabalho. Mas, como havia pouquíssima gente fazendo isso naquele momento, acredito que esse pioneirismo me ajudou a conquistar espaço.

A decisão foi, acima de tudo, prática e necessária: eu precisava divulgar meu negócio. Estava trazendo ao mercado uma carne diferente, cortes que praticamente ainda não existiam no Brasil, e precisava formar um público consumidor. E foi exatamente assim que me tornei o influenciador do meu próprio negócio.

BE – De onde surgiu a ideia de criar a Bom Beef Burgers?

Netão – O Bom Beef Burgers nasceu como um segundo sonho meu. Eu já tinha o projeto de abrir a hamburgueria, com dois propósitos muito claros: agregar valor aos cortes com menor força de mercado e popularizar o acesso à carne de alta qualidade.

Quando trabalho com um animal de qualidade, cada parte dele carrega esse padrão — não só os cortes nobres, que normalmente são as estrelas do churrasco. A ideia era justamente aproveitar melhor o todo. Enquanto os cortes mais valorizados agregam valor naturalmente, eles também são inacessíveis para muitas pessoas.

Com a hamburgueria, consegui transformar essa carne em algo mais democrático, permitindo que pessoas com diferentes níveis de poder aquisitivo tenham acesso à mesma qualidade — agora em formato de hambúrguer.

Essa foi a minha maneira de levar ao público uma experiência real com carne premium. E a diferença é evidente: quem prova percebe na hora. Muitas vezes, ouvimos clientes saindo e dizendo: “Nossa, esse hambúrguer é diferente.” E ele é, porque usamos uma carne de altíssimo padrão.

A pandemia acabou acelerando esse projeto. Na época, precisávamos desligar alguns colaboradores, mas, em vez disso, decidi antecipar o lançamento da Bom Beef Burgers como uma alternativa para preservar empregos. O que era uma tentativa de manter seis funcionários acabou virando algo muito maior: já na primeira semana, empregamos diretamente 22 pessoas e tínhamos cerca de 200 motoboys, terceirizados via plataforma de delivery, na nossa porta todos os dias.

Hoje, o Bom Beef Burgers se tornou mais do que uma hamburgueria — virou um grande projeto com propósito. Um sonho que se concretizou com a missão de gerar empregos de forma digna, em um ambiente onde os colaboradores são respeitados e valorizados. E esse continuará sendo o nosso maior objetivo.

BE – Como foi o processo de transformar a qualidade do açougue em um produto de fast casual (estilo de restaurante que combina a rapidez do fast food com a qualidade e o sabor do casual dining, oferecendo comida mais elaborada a um preço acessível)?

Netão – Desde o início, eu já estudava muito sobre hambúrguer. Na verdade, minha primeira experiência com o ramo começou cedo: abri minha primeira hamburgueria artesanal aos 18 anos. Tinha um ótimo produto, mas ainda não conhecia o suficiente sobre precificação, estrutura de negócios, gestão... só entendia de administração e isso não foi o bastante. Em apenas 45 dias, o negócio quebrou. Foi uma lição dura, mas extremamente valiosa: percebi que não bastava ter um bom hambúrguer — era preciso entender como fazer o negócio funcionar.

A partir daí, mergulhei de vez nesse universo. Estudei muito, visitei algumas das maiores hamburguerias do mundo, fiz cursos de precificação, marketing, gestão e, claro, tudo que envolvia a produção de hambúrguer de verdade. A grande vantagem é que eu já sabia como fazer um hambúrguer de alta qualidade. E quando o tema do hambúrguer artesanal começou a ganhar força no Brasil, eu já estava na linha de frente, falando sobre blend ideal, proporção de gordura, tipos de carne — assuntos que quase ninguém discutia por aqui na época. Fui um dos pioneiros, e boa parte do que se popularizou hoje no segmento veio de conhecimentos que compartilhei na internet, em cursos, workshops e palestras. Antes mesmo de abrir a Bom Beef Burgers, eu já trabalhava com hambúrguer indiretamente: fornecia carne para mais de 300 hamburguerias e restaurantes pelo Brasil, dava cursos, formei mais de 3.000 alunos — muitos deles hoje donos de seus próprios negócios ou profissionais do setor. Então, quando decidi abrir a Bom Beef Burgers, a transição foi natural. Eu só comecei a aplicar na minha própria operação aquilo que já fazia há anos: desenvolver um produto de qualidade premium, com estrutura de fast casual, acessível e bem executado.

BE – A marca cresceu muito nos últimos anos. Quais foram os principais desafios dessa expansão?

Netão – O desafio é assegurar a qualidade, já que o nosso foco é sempre esse: manter a qualidade. A gente tem esse foco, esse objetivo e esse desafio. Sempre que tem alguém novo, um funcionário novo, troca de gerência, a gente tem um pouco da queda de qualidade nessa unidade, não tem como evitar. Isso até na minha unidade aqui em Santos, quando troca muitos funcionários ou troca a gerência, acaba caindo um pouco a qualidade e temos que correr contra o tempo para preparar a equipe, para assegurar os processos e para manter a cultura da empresa ativa. Então, nosso maior desafio é manter a qualidade. Sempre.

BE – Como você mantém o padrão de qualidade em todas as unidades espalhadas pelo Brasil?

Netão – Tenho um time de campo muito competente, o que se reflete diretamente na força do nosso time tático. Eles visitam as hamburguerias, corrigem padrões, ajustam processos, implementam e fortalecem a cultura da empresa no dia a dia. Por isso, quando abrimos uma nova unidade, a cultura já é implantada desde o início e, depois disso, mantemos visitas frequentes para garantir que ela continue viva, sempre reforçando os valores da empresa, o padrão de qualidade e a essência da Beef Burguers.

Além disso, contamos com um time de desenvolvimento de produtos extremamente atento, sempre focado em criar o melhor produto possível e buscar excelência em qualidade. Esse time também é responsável por homologar e fiscalizar fornecedores, com um controle de qualidade rigoroso que garante os melhores resultados para as nossas hamburguerias. Para completar, temos ainda um time operacional que dá suporte direto à gestão das unidades.

BE – Qual foi o papel das redes sociais no sucesso do seu negócio?

Netão – Utilizo as redes sociais como uma vitrine para divulgar todos os meus negócios. Esse é exatamente o motivo da minha presença nelas. As redes têm um papel fundamental na estratégia das minhas empresas. Mas eu acredito firmemente que não existe marketing eficiente para um produto ruim. Ou seja, tudo o que mostro na internet precisa ser encontrado no ponto de venda.

Não adianta fazer um excelente trabalho nas redes sociais se, nas lojas, eu fizer um péssimo trabalho. Por isso, buscamos sempre ouvir o cliente, fazer um ótimo trabalho no PDV (Ponto de Venda) e, a partir disso, levar o que fazemos de melhor para as redes, e não o contrário.

BE – Você acha que o conteúdo que cria influencia diretamente nas vendas da hamburgueria e do açougue?

Netão – Com certeza. Exatamente, por isso que eu faço esses conteúdos. O motivo de eu estar nas redes sociais é ajudar meus negócios. Então, quando eu falo de hambúrguer, de churrasco, com certeza, isso tem impacto na venda das unidades.

BE – Como equilibra a rotina de empresário com a criação de conteúdo?

Netão – Essa, talvez, seja uma das partes mais difíceis: conseguir tempo para tudo. Na verdade, tempo eu até tenho, o que não tenho é tempo para todo mundo. Minha agenda é extremamente organizada, com horários definidos para cada compromisso, e eu sigo ela à risca. Isso significa que, durante o dia, não consigo fazer nada que não esteja previamente agendado.

Incluir algo novo na minha rotina costuma levar alguns dias, porque estender os horários para a noite significaria abrir mão do tempo com a minha família, e isso é algo que não negocio.

Tenho responsabilidades que não posso deixar de lado: compromissos empresariais, reuniões, conteúdos para as redes, além de estar presente e atento à operação dos meus negócios. Os intervalos entre um compromisso e outro são geralmente usados para falar com meu time e acompanhar de perto tudo o que está acontecendo nas unidades.

Por isso, acabo sendo inacessível para quem está fora do meu dia a dia, especialmente quando surgem demandas inesperadas. Mas essa é a forma que encontrei de me organizar: cuidando com muita disciplina da minha agenda e sendo fiel aos meus compromissos.

BE – O nome “Bom Beef” é simples e direto. Como foi escolhê-lo?

Netão – Desde criança eu já tinha esse nome. Não me recordo como cheguei nele, mas um dos grandes motivos pelo qual eu quis esse nome na hora de batizar era por ser um nome simples, direto e que trazia um ar de rede. Como sempre tive o sonho de fazer com que o açougue virasse rede, já quis colocar o nome com cara de rede.

BE – Qual é a cultura que você quer transmitir dentro das suas equipes e para o público?

Netão – A cultura da nossa empresa sempre foi pautada pelo respeito ao cliente em primeiro lugar. Nosso foco está voltado para ele. Quando conquistamos um cliente, ou mesmo um seguidor, estamos lidando com alguém que deposita confiança na gente. E o mínimo que podemos fazer é honrar essa confiança, cultivá-la todos os dias e garantir que ela nunca seja quebrada.

O respeito e o foco no cliente são os principais alicerces do nosso trabalho. E isso vale também para os seguidores, que muitas vezes são nossos próprios clientes. Esse valor é muito forte dentro das nossas empresas, está presente em toda a equipe, e acredito que os nossos clientes percebem isso com clareza.

BE – Existe algum valor que você jamais abre mão no seu negócio?

Netão – Existem vários. Primeiro, a gente foca no cliente. Em todas as frentes em que atuamos, o respeito ao cliente vem em primeiro lugar. Esse é o princípio que molda cada uma das nossas decisões.

O segundo valor fundamental para nós é oferecer um ambiente de trabalho digno para nossos colaboradores. Temos um compromisso com a responsabilidade social, o que passa por sermos uma empresa que gera empregos com propósito, oferecendo condições reais para que nossos colaboradores tenham a melhor experiência possível dentro do ambiente de trabalho. Isso inclui um clima saudável, salários justos e pagos em dia, respeito mútuo e uma cultura organizacional forte e ética.

BE – Quais são os próximos passos da Bom Beef? Novas unidades? Novos produtos?

Netão – Estamos sempre lançando novos produtos. Hoje mesmo temos novidade na hamburgueria e, na próxima semana, teremos mais um lançamento. No açougue, há cerca de 15 dias, colocamos no mercado uma nova linha de suínos. E já estamos preparando outra novidade: uma linha de carnes mais acessíveis, que deve ser lançada nos próximos 10 a 15 dias. Com a alta constante no preço da carne nos últimos anos, sentimos a necessidade de oferecer opções mais econômicas para nossos consumidores, sem perder a qualidade.

A inovação faz parte da nossa rotina. Na hamburgueria, lançamos pelo menos um novo produto todo mês. Já no açougue, o processo de desenvolvimento e aprovação é mais complexo, mas, mesmo assim, temos conseguido lançar, no mínimo, uma nova linha de produtos por mês. A diferença é que, enquanto na hamburgueria lançamos produtos individuais, nos açougues trabalhamos com linhas completas, por exemplo, a linha de suínos que acabamos de lançar conta com 12 itens, e a próxima linha acessível terá seis produtos.Então, apesar de lançarmos com menos frequência no açougue, o volume total de produtos novos no fim do ano costuma ser ainda maior do que na hamburgueria.

Além disso, já mapeamos todas as cidades onde queremos estar nos próximos meses e no próximo ano. Especialmente com a hamburgueria, temos um plano de expansão claro e focado para alcançar novas regiões e continuar crescendo de forma estruturada.

BE – Você pensa em expandir internacionalmente?

Netão – Talvez, mas no momento eu estou focado em cuidar muito bem das operações aqui no Brasil. Nosso País é muito grande e tem muitos territórios para conquistar aqui.

BE – Que conselho você daria pra quem quer empreender no ramo da carne ou da alimentação?

Netão – Empreender é difícil em qualquer ramo. Mas, como alguém que estuda e analisa mercados, posso afirmar que, quando olhamos para países mais desenvolvidos e estruturados — como os Estados Unidos, por exemplo — vemos que o setor de franquias é um verdadeiro alicerce da economia de varejo. Grande parte das empresas que estão nas ruas são franquias ou fazem parte de redes estruturadas.

E isso tem um motivo claro: uma rede já consolidada oferece todo o suporte necessário para quem quer empreender. Você já recebe um modelo de negócio validado, com marketing estruturado, processos definidos, fornecedores homologados e tudo pronto para operar. Isso reduz consideravelmente os riscos e aumenta muito as chances de sucesso.

Por outro lado, começar um negócio do zero exige que você construa tudo por conta própria — e isso torna o caminho mais difícil e arriscado.

Se eu pudesse dar uma recomendação para quem está pensando em empreender, seria: procure uma franquia sólida e bem estruturada dentro do segmento que você deseja atuar — seja alimentação, refeições ou qualquer outro setor. É uma forma inteligente de começar com mais segurança e com o suporte necessário para crescer.

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