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CESAR CIELO, O NADADOR MAIS RÁPIDO DO MUNDO

EntrevistaCESAR CIELO, O NADADOR MAIS RÁPIDO DO MUNDO

Cesar Cielo destaca-se como um dos mais notáveis nadadores da história olímpica e mundial. Sua trajetória nas piscinas não apenas quebrou recordes, mas também elevou o nome do Brasil no cenário internacional. Cielo é reconhecido por suas conquistas em distâncias livres, especialmente nos eventos de 50 e 100 metros. Ele detém múltiplos recordes mundiais, destacando-se no Campeonato Mundial de 2009, em Roma, ao quebrar o recorde dos 100 metros livre com o tempo impressionante de 46,91 segundos. Sua ascensão começou nos Jogos Pan-Americanos de 2007, onde conquistou três medalhas de ouro, prelúdio ao seu brilhante desempenho nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, quando ganhou a medalha de ouro nos 100 metros livre e a prata nos 50 metros livre.

Natural de Santa Bárbara d'Oeste, Cesar Augusto Cielo Filho é um ícone de dedicação e superação, cuja influência se estende além das piscinas, como palestrante, compartilhando seu conhecimento e experiências. além de ser o embaixador da marca de relógios de luxo Victorinox. Recentemente, esteve em Rio Preto para o lançamento da coleção I.N.O.X. da marca, na Boutique Costantini.

Leia a entrevista:

BE – Recentemente, você esteve nas Olimpíadas de Paris acompanhando a competição do outro lado. Como foi esse processo para você?

Cesar Cielo – Olha, foi meio que natural, as coisas foram meio que acontecendo. Para ser bem sincero, eu nunca pensei neste pós-carreira. Não mesmo. Eu não tinha um plano B. Tipo assim, se não desse certo, eu estava bem lascado. A verdade é essa. Quando eu estava na faculdade eu pensava em como facilitar minha vida para treinar mais. Eu não estava tão preocupado com pegar um diploma tal. Eu queria facilitar minha vida para o negócio. Então, tudo foi feito até aquele momento. Depois, dei aquela esticada de carreira, aquele finalzinho que, aí sim, você começa a pensar na transição. Testei várias fontes diferentes de negócios, de coisas que eu queria fazer. E a palestra, os eventos meio que apareceram de forma natural. Eu não estava planejando isso. Lembro que solicitaram a primeira palestra para mim por volta de 2017. Eu não conseguia casar as agendas. Aí eu fui levando algumas até terminar a carreira em 2019, mais ou menos. Eu cheguei a competir em 2019, em algumas competições. Então assim, eu ainda estava naquele vou ou não vou. E aí começou a aumentar demanda. Pessoal falou que as pessoas estavam gostando muito. Então, propuseram continuar. Topei. Hora que eu vi eu estava fazendo pelo menos 4, 5 por mês. Neste ano, teve mês que a gente fez 13. É tanta palestra que às vezes eu falo algo e fico me questionando: "será que aqui eu já falei isso?". Foi dessa forma, por demanda mesmo. E, hoje, nesse pós-carreira, a gente montou um aplicativo. O Instituto cresceu. Eu tenho um programa de natação também, uma escolinha de natação. Mas eu não saí da água, vamos falar assim. Eu saí da competição.

BE – Falando um pouco sobre sua história e carreira. Ela foi marcada pela dedicação incansável e pela sua superação, que se alinham com os valores da marca?

Cesar Cielo – Resistência, precisão, busca constante pelos desafios, metas alcançadas e superadas. E no final, a linha I.N.O.X. até saiu uma palavra que olhei e pensei: não sei se quiseram puxar um pouquinho para mim. Porque não é uma palavra muito fácil de colocar no marketing que é rendimento. Ela não é tão marqueteira sabe. Mas eu olhei e pensei: tem tudo a ver comigo nesse sentido. Minha profissão é alto rendimento. De novo. É essa sinergia, esse tipo de coisa que faz toda a diferença.

BE – Você se propõe e se coloca em desafios constantes?

Cesar Cielo – Olha, eu tento. A gente vai criando os desafios pessoais para ter o que buscar. Isso no esporte é tão fácil de fazer e fora é tão difícil. As minhas palestras basicamente são isso. O pessoal pergunta o que eu fazia quando eu era atleta. Eu tinha um foco que é muito difícil ter hoje. É difícil você escrever que quer terminar o ano com X de dinheiro na conta. E você fica olhando aquilo e você fala: é legal, mas... No final, você escrever ali "quero ser campeão" é outro objetivo. Então, assim, é difícil. É difícil ter esse termômetro aqui que é tão alto. Que eu já passei por isso e saber que, na verdade, eu nunca mais vou sentir esse nível de exigência, esse nível de dia a dia, de rotina. E tudo que eu tinha que fazer. Mas eu tento me colocar nessa situação. Porque a gente é movido a isso. A gente é movido a superar, a progredir. A maior felicidade que a gente tem é olhar e falar: eu fiz esse negócio.

BE – Você sente falta?

Cesar Cielo – Para caramba. Nesse ponto, um monte. Não de treinar, mas de competir, sim.

BE – Preparação física e mental contribuíram para o seu sucesso?

Cesar Cielo – Sendo bem sincero, hoje eu vejo de forma bem diferente do que eu via quando eu era atleta. Naquela época, eu só treinava. Tentava fazer as melhores decisões.

BE – Era diversão ou obrigação?

Cesar Cielo – Foram os dois. No final da carreira, foi mais obrigação. Mas, assim, às vezes a gente fica tentando pensar em alguma fórmula, em um formato de trabalho, em um processo. Mas era só fazer o que tinha que fazer da melhor forma que tinha que fazer com todas as ferramentas que eu tinha o tempo inteiro. Minha confiança, por exemplo, eu alimentava com o meu trabalho diário. Não era um cara que nasceu confiante. Muita gente pensa isso. O atleta você acha que é sempre confiante. Não. Ele é confiante porque ele construiu a confiança dele. E a gente constrói com as menores coisas. E eu sempre fui muito chato com essas menores coisas. Muito caxias mesmo. Com detalhe. Horário de acordar é horário de acordar. Hora de comer é hora de comer. O que tem que comer tem que comer. Tipo assim, não é ter tido o melhor treino da vida naquele dia. Eu não estava preocupado com isso, porque na minha cabeça era assim: é o que eu faço. Agora, comi direito as cinco vezes que eu tinha que comer, descansei quando tinha que descansar, fiz o que tinha que fazer. Essas coisas eu olhava com mais intensidade do que o treino. Para mim, o treino, sinceramente, eu olhava e falava: tem que ir lá treinar. Vou lá sentir dor, vou passar mal, vou fazer o negócio e saio da piscina. Então, eu valorizava muito a rotina. E essa questão dessa rotina disciplinada extrema era, para mim, o meu trabalho mental. Não tinha nada de fazer exercícios mentais, escrever num diário, conversar com o psicólogo, não tinha nada disso. Se eu fizesse o que eu tinha que fazer, eu falava, estou bem. Não tem mais do que isso para fazer. Então, era assim, era esse meu processo mental. Era como eu envolvia o físico com o mental ao mesmo tempo ali.

BE – E a questão do seu legado? É pesado? Você é um dos maiores atletas do Brasil. Como que é isso para você?

Cesar Cielo – Não sei. Esse tipo de pergunta às vezes é melhor fazer para os amigos mais próximos ou até para a família, porque, para mim, eu olho só os resultados. E nunca pensei que eu ia chegar a esses resultados, sendo bem sincero. Eu tinha o sonho de ser medalhista olímpico, de ser medalhista mundial e de um dia ser recordista mundial. Era isso que eu queria. Esses três pontos eram os principais. Eu nem imaginei que eu ia ganhar a Olimpíada. Que ia ser 11 vezes campeão mundial. Não sabia que ia fazer isso mesmo. Ó, traz responsabilidade. Eu vou falar dessa forma. O que esse resultado traz? Traz responsabilidade. E isso eu tento ficar bem consciente do que está acontecendo em volta, principalmente quando tem criança perto. Eu não vou fazer uma coisa que eu não gostaria de ver meus ídolos fazendo. E isso eu me questiono. Quando eu vou para o aeroporto, não vou fazer uma coisa que eu não quero que me vejam fazendo. Chega a um ponto que é até demais. A pressão externa. De às vezes estar comendo um chocolate e chegar alguém perto e falar: agora tu come chocolate? Então, tento pensar nisso. Por exemplo, hoje, saio para jantar com a minha família, eu não bebo em público. Não bebo em público. Não quero que uma criança me veja com uma taça de vinho. Vai saber se aquele moleque vai ser o próximo campeão do mundo. Então, eu tento ter essa responsabilidade, sabe? De ter essa noção. Mas no final, assim, é o que eu tento concentrar, sabe? De ter essa consciência, pelo menos, do que está acontecendo.

BE – E você sempre foi um atleta muito buscado pelas marcas. Com seu histórico, imaginamos que já houve uma série de oportunidades. Para trabalhar, o que te faz escolher uma marca?

Cesar Cielo – No final das contas, o que conta para mim é a parte da parceria. Eu gosto de conhecer meus parceiros porque eu não sou um outdoor que você compra um anúncio. Eu gosto de sentir que eu tenho uma certa proximidade. Teve empresa que a gente acabou fazendo parceria que às vezes o produto não era muito da classe que eu trabalho, mas que escolhi por conta da conexão que eu senti. Até porque a natação é um esporte elitizado. Você não nada em qualquer lugar. Você precisa de uma piscina. É um esporte de gente que tem um poder aquisitivo maior. E, nesse ponto, quando eu fui conhecer a questão da Victorinox, com seus mais de 140 anos de história, o que me ganhou ali foi um dos vídeos que eu vi da galera fazendo um relógio. Você olha o negócio e vê que não é uma coisa normal. E eu acho isso muito legal, porque quando eu estou usando o relógio, eu olho e penso na dedicação, na história. Tem tudo a ver. Dá vontade de usar, dá vontade de divulgar e propagar a marca. É diferente daquela coisa de tirar uma foto e depois guardar o produto no bolso. Esse é o tipo de coisa que eu não consigo fazer.

BE – Para finalizar, qual é o recado que você deixaria para os jovens?

Cesar Cielo – Treine bastante e faça por você mesmo. Não vá atrás dos sonhos dos outros, porque lá na frente o esporte é cruel. Se você não quiser muito, se você não quiser demais o negócio, você só vai aguentar se for uma coisa que você realmente quer. Então, esporte de alto rendimento é para quem quer. Se você quer, aí o céu é o limite.

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