CAROL GATTAZ NOS JOGOS OLÍMPICOS
A rio-pretense Carol Gattaz, aos 43 anos, conquistou mais um título da Superliga pelo Minas, clube do qual se despediu neste ano após dez temporadas. A medalhista olímpica afirma que está ansiosa para embarcar nesta nova fase da sua carreira, vestindo a camisa de seu novo time, o Praia Clube. Mas antes disso, está encarando a missão de mostrar os bastidores e contar as histórias do Time Brasil, como uma das produtoras de conteúdo digital do Comitê Olímpico do Brasil (COB), durante os Jogos Olímpicos Paris 2024.
Em entrevista à Revista Bem-Estar, Carol Gattaz fala sobre a expectativa em torno do trabalho, relembra a infância e juventude vividas em Rio Preto, faz um balanço de sua trajetória profissional e comparilha seus principais aprendizados.
Leia a entrevista
BE – Qual a sua expectativa em integrar o time de comunicação do Comitê Olímpico do Brasil (COB) na capital francesa?
Carol Gattaz – A minha expectativa de integrar o time do COB em Paris está sendo muito grande. É um desafio novo, é uma coisa que eu nunca fiz, porque eu sempre estive acostumada a comentar os jogos pela Esportv e acompanhar de longe, mas dessa vez vai ser lá, de pertinho, como correspondente das redes sociais do time do Brasil. Então, estou super ansiosa para começar a me preparar para os jogos e eu tenho certeza que vai ser muito, muito legal.
BE – Após conquistar mais um título da Superliga pelo Minas, clube do qual se despediu neste ano, depois de dez temporadas, qual o seu sentimento?
Carol Gattaz – Mais um título da Superliga pelo Minas foi muito especial porque era meu último ano. Fechar os meus dez anos no Minas com chave de ouro foi, assim, muito especial como foram os dez anos. Foram os dez anos mais especiais da minha vida como jogadora, como atleta, então, eu acho que não poderia ter sido melhor de fechar dessa maneira. Claro que eu queria ter jogado mais nessa última temporada, mas meu joelho me deu uma atrasada nisso. De qualquer forma, foi uma temporada que a gente fechou com chave de ouro ficou o sentimento de dever cumprido.
BE – Pode nos adiantar quais são seus planos?
Carol Gattaz – Vou jogar minha próxima temporada no Praia Clube. Estou super ansiosa, pois é um time que eu respeito muito, um time super campeão que está sempre nas finais contra o Minas. É um time que tem uma força muito grande. A recepção calorosa que recebi e o respeito mútuo que estabeleci com os membros do clube me fazem acreditar que me sentirei em casa. Estou ansiosa para iniciar os treinamentos e embarcar nesta nova fase da minha carreira, que promete ser enriquecedora e cheia de oportunidades.
BE – Você construiu também uma reconhecida carreira na seleção brasileira. Mesmo assim, manteve por muito tempo um sonho: disputar uma Olimpíada. O que aconteceu em 2020, em Tóquio, aos 40 anos, como foi esse processo de espera e de conquista de um sonho?
Carol Gattaz – Minha carreira é longa, a primeira vez que fui convocada para seleção adulta foi em 2003, então, a espera por uma chance pelas Olimpíadas foi grande, confesso, e eu não esperava, na verdade. Minha preparação não foi pautada na espera de uma convocação, mas, sim, na dedicação em conquistar títulos pelo Minas Tênis Clube, na época, o qual, ano após ano, eu estava jogando melhor e melhor. A convocação para a seleção, novamente aos 40 anos representou muito, uma vez que muitas jogadoras já não fazem mais parte da seleção nessa idade, por vários motivos, por já estarem no final de carreira, por já não terem a mesma performance, e eu, por incrível que pareça, alcancei minha melhor performance nesse período. Então, para mim, foi uma espera que valeu muito a pena e uma preparação que também valeu muito a pena.
BE – Você sempre quis ser jogadora de vólei?
Carol Gattaz – Sim, sempre quis ser jogadora de vôlei. Na verdade, eu sempre quis ser atleta de alguma coisa, mas eu sempre gostei mais de vôlei do que de outros esportes. Eu joguei basquete, joguei futebol, gostava muito de futebol também, jogava handball, enfim. Eu tinha muita facilidade para esportes, mas o vôlei sempre me despertou mais, um amor maior.
BE – Como foi sua infância e adolescência?
Carol Gattaz – Minha infância e adolescência em Rio Preto foram maravilhosa. Minha família inteira é de Rio Preto. Eu jogava todos os esportes pela minha escola, que na época era o Santo André, depois eu fui para o Seta, onde participava de todos os esportes pelo colégio e eu amava. Isso me ajudou muito a desenvolver as minhas aptidões esportivas. Rio Preto foi muito especial porque é uma cidade super tranquila e linda, que eu gosto bastante.
BE – Como foi crescer em Rio Preto?
Carol Gattaz – Ah, tenho várias memórias de Rio Preto, mas, principalmente essa da minha infância de poder ter jogado esses campeonatos interescolares, que me fizeram desenvolver muito a aptidão pelo esporte.
BE – Quais são os lugares que você gosta de visitar quando vem para Rio Preto?
Carol Gattaz – Quando eu vou, fico na casa da minha mãe, então, gosto de visitar meu pai, minha avó e meus primos. Não tem nenhum lugar em especial, mas eu sempre gosto de estar em Rio Preto porque é muito especial, principalmente, na casa deles. Rio Preto é uma cidade muito gostosa e que está crescendo bastante.
BE – Qual foi o momento em que você percebeu que poderia se tornar uma atleta profissional?
Carol Gattaz – Foi tão natural. Eu saí de casa com 16 anos e tive que, enfim, me adaptar ao vôlei. Eu não sabia para onde eu ia, o que que ia acontecer da minha vida. Quando a gente é novo, a gente não pensa, só vai. O apoio incondicional dos meus pais, especialmente da minha mãe, foi crucial ao longo da minha trajetória. Ela não apenas proporcionou suporte financeiro nos momentos iniciais, mas também ofereceu uma valiosa assistência emocional e mental. Essa combinação de apoio é muito importante, especialmente quando você é nova. Tive também que escolher entre uma carreira do esporte e uma carreira de estudar. A maioria dos pais fala: "ah, esporte não vai dar nada, vai estudar para fazer alguma coisa, para ter uma carreira profissional". E minha mãe e meu pai sempre me deram esse apoio para o que eu quisesse fazer.
BE – Qual conquista na sua carreira você considera a mais importante e por quê?
Carol Gattaz – Acho que foi quando comecei a conquistar títulos e jogar em alto nível, quando eu tinha uns 17, 18 anos. Eu vi ali uma oportunidade de ser uma atleta profissional. A conquista que eu considero mais importante na minha carreira, com certeza, é a minha medalha de prata olímpica. Tiveram outras muitas, graças a Deus, eu tive muitas conquistas especiais na minha carreira, mas com certeza a medalha de prata olímpica é a mais importante e que mais significa na minha carreira como atleta.
BE – Como é a sua rotina de treinamentos? Você segue alguma preparação específica antes dos jogos?
Carol Gattaz – A rotina de treinos é bem puxada. A gente treina dois períodos, praticamente todos os dias da semana. Seguimos uma preparação específica. Cada time tem uma preparação, mas academia e bola todos os dias para chegar em alto nível nos campeonatos.
BE – Como você concilia sua vida pessoal com a carreira de atleta de alto rendimento?
Carol Gattaz – É difícil conciliar a minha vida pessoal com a carreira, mas ao mesmo tempo a gente tem que viver, é óbvio. Então, tem que aproveitar quando está de folga. Treinamos durante o dia, então, à noite a gente tem que ir para o cinema, sair para jantar com os amigos, cultivar os relacionamentos. De qualquer forma, temos que aproveitar a vida.
BE – Quais são seus hobbies e atividades favoritas?
Carol Gattaz – O que eu mais gosto de fazer, hoje em dia, talvez, por treinarmos demais, é ficar em casa vendo filme e série. Gosto muito de viajar. Fora de quadra, minha vida se resume em viajar, conhecer lugares e culturas diferentes. Eu amo os Estados Unidos, sempre tento ir e aproveitar alguns dias, sair um pouco do Brasil e curtir a atmosfera dos Estados Unidos. Também gosto de outros países, já visitei muitos países no mundo e ainda espero visitar muito mais.
BE – Quais são as lições mais valiosas que você aprendeu ao longo de sua carreira?
Carol Gattaz – São várias. Com o esporte, aprendi sobre respeito, a si, às pessoas, às diferenças e, principalmente, a ter muita disciplina, que isso é o mais importante quando você é um atleta. Disciplina é fundamental, porque se você não for disciplinada, não consegue conquistar seus objetivos. A competitividade, sempre presente em minha vida desde a infância, tornou-se ainda mais intensa no contexto do esporte profissional. No Brasil, onde o cenário olímpico é desafiador, especialmente para modalidades menos visíveis, é imprescindível manter-se entre os melhores para garantir contratos favoráveis, geralmente de curta duração. O vôlei, graças a Deus, é um esporte que no Brasil tem muita visibilidade. Essa exigência constante de desempenho não apenas aprimora minhas habilidades atléticas, mas também reforça valores fundamentais cultivados desde minha formação familiar. O aprendizado adquirido por meio do esporte é inestimável e contribui significativamente para meu crescimento pessoal e profissional.
BE – Que conselho você daria para jovens que sonham em seguir uma carreira no vôlei?
Carol Gattaz – O conselho que eu sempre dou para os jovens, pode ser a frase mais clichê do mundo, mas é uma frase que funcionou muito para mim: "nunca desista dos seus sonhos". Eu consegui conquistar meu sonho com 40 anos e, mesmo pensando em desistir algumas vezes, eu continuei atrás. Então, acho que toda criança que quer começar no esporte tem que colocar um objetivo muito claro na cabeça para seguir em frente e tentar fazer seu melhor dentro das possibilidades, independentemente do que for, no esporte, na vida, em qualquer profissão. Ao empenharem-se ao melhor de suas capacidades, mesmo que não alcancem o objetivo desejado, elas estarão mais propensas a alcançar resultados significativos. Esse esforço proporciona uma sensação de consciência tranquila.