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A SINGULARIDADE DO DESIGNER BRASILEIRO

EntrevistaA SINGULARIDADE DO DESIGNER BRASILEIRO
Zanini de Zanine acaba de lançar um livro homônimo em comemoração aos 20 anos de carreira

Reconhecido como um nome estrelado do design brasileiro, Zanini de Zanine acaba de lançar o livro “Zanini de Zanine — 20 anos”, em comemoração às duas décadas de carreira. Sua obra já foi exposta em museus e galerias de renome internacional, além de ter recebido diversos prêmios e colaborado com marcas famosas ao redor do mundo.

As criações estão reunidas no livro, que dedica as últimas páginas aos trabalhos artísticos de Zanine, atividade recente para o designer. Entre as obras, estão esculturas em madeira que não precisam obedecer a uma funcionalidade e telas minimalistas, em que as linhas representadas parecem ter sido retiradas, em um exercício de abstração, dos contornos das criações materiais do artista.

Ele cresceu no ateliê do renomado Zanine Caldas e teve contato com figuras proeminentes do modernismo. Sua obra já foi exposta em museus e galerias de renome internacional, além de ter recebido diversos prêmios e colaborado com marcas famosas ao redor do mundo.

O designer também já integrou a lista dos 100 principais profissionais mundiais do design da revista Wallpaper, além de receber premiações como Designer do Ano das Américas pela Maison&Objet, New Generation Awards do Philadelphia Museum of Art e Good Design Award, ambos dos EUA, iF Design Award - Alemanha, A Award-Itália, Prêmio Museu da Casa Brasileira, Prêmio Casa Vogue Brasil e Prêmio GQBrasil - Man of the Year: Design.

Leia a entrevista:

BE – Você já integrou a lista dos 100 principais profissionais mundiais do design da revista Wallpaper, além de receber 40 prêmios nacionais e internacionais, entre eles Museu da Casa Brasileira. Como você avalia a evolução de seu trabalho ao longo desses 20 anos de carreira?

Zanini de Zanine – Considero que foi um percurso bem experimental, onde me permiti usar muitos materiais, muitos processos, escalas, linguagens e que essa definição também permite andar por outras áreas relacionadas a outras linguagens de expressão. Então, essa evolução partiu do caminho do 3D e, hoje, está flertando com o bidimensional, sendo essa área mais relacionada as artes, a pintura, os desenhos e parece estar uma fusão. É um momento de encontro.

BE – Você acaba de lançar o livro “Zanini de Zanine – 20 anos”, que aborda suas obras e sua trajetória. Pode contar um pouco sobre o que o leitor encontra nele?

Zanini de Zanine – A ideia foi fazer um rápido resumo, apresentando uma variedade de trabalhos sem seguir uma ordem cronológica específica. São flashes de diferentes projetos, incluindo espaços, desenhos de produtos e artes plásticas. No primeiro capítulo, o foco está em proporcionar um contato visual estético por meio de fotos. No segundo momento, profissionais de diversas áreas compartilham suas perspectivas sobre o trabalho de forma livre e diversificada.

BE – Quais são as suas referências profissionais?

Zanini de Zanine – Parte da ligação e vínculo familiar que trouxeram uma base muito rica de informação. Meu pai, José Zanine Caldas, autodidata, paisagista, arquiteto, e minha mãe, Fernanda Borges, que vem da área de cinema. Enfim, tem uma lista gigante que compõe essas referências, como Vinícius de Moraes, Alcides da Rocha Miranda. São diferentes áreas que enriquecem minha base de conhecimento e inspiração.

BE – Onde busca inspiração para suas criações?

Zanini de Zanine – Vem, efetivamente, dessas diferentes áreas de referência, da nossa cultura, do cinema, da música, fauna, flora, geografia, cores, tudo com essa relação de absorver os nossos vínculos, as nossas raízes. Também da atenção, da sensibilidade e da observação de um todo.

BE – Na sua opinião, o que define o design brasileiro?

Zanini de Zanine – Arrisco dizer que é o desenho brasileiro. Se eu fosse usar uma palavra, eu usaria a emoção. Definiria, de uma forma geral, o que a gente tem como grande referencial é o desenho nacional.

BE – Seu pai, José Zanine Caldas (1919 - 2001), foi um dos primeiros arquitetos a falar de sustentabilidade. O design sustentável no Brasil, é uma realidade ou mais propaganda para atender aos consumidores?

Zanini de Zanine – Prefiro acreditar que tenha mais realidade nessa abordagem, já que está fundamentada em práticas comprovadas de engajamento e cuidado em todas as etapas dos processos de produção, utilização e descarte. Sinto que, cada vez mais, o público final tem procurado e se interessado por um cuidado relacionado aquilo que consumirá. Esse não é só um diferencial a um argumento, mas uma necessidade.

BE – De que maneira busca inovar em suas criações?

Zanini de Zanine – A busca por inovação e criação, basicamente, envolve uma atenção minuciosa aos detalhes, incluindo estudos aprofundados, leitura, pesquisa de imagens e pesquisas. Essa ferramenta é uma grande plataforma para impulsionar essa oxigenação necessária para o que a gente considera de inovação do próprio trabalho.

BE – O que cada móvel deve proporcionar?

Zanini de Zanine – O móvel deve, sugiro eu, proporcionar conforto, mas esse conforto pode ser em determinadas situações, conforto ergonômico, do bem-estar, do físico, e algumas vezes, ser o teu conforto visual. Uma peça de decoração pode ser apreciada mesmo sem ser utilizada constantemente. A simples contemplação visual de um objeto pode trazer conforto e emoção. Por isso, é válido ter peças que possam ser admiradas. A beleza e o design de um objeto podem proporcionar bem-estar apenas com sua presença.

BE – Na sua opinião, o design está associado ao mercado de luxo?

Zanini de Zanine – Tem uma relação, sim, mas, que talvez não deveria ter, até porque não necessariamente a peça precisa ser barata para ter uma qualidade baixa, a relação não é obrigatória.

O que existe, talvez, é um olhar do design, que pode ser considerado uma forma de arte. Esse tema ajudou muito as pessoas se atentarem para o design como uma linguagem artística. Nesse caso, seriam peças únicas ou de série limitada, que já pressupõem uma justificativa de preço alto, porque todo o esforço levado para desenvolver uma peça acarreta outro preço, de fato. O que agrega e que está ganhando destaque no mercado é a valorização de peças de coleção em grande escala, o que tem sido cada vez mais reconhecido pelo público. Além disso, o desenho nacional vem sendo mais valorizado e apreciado, mostrando uma mudança de percepção por parte dos consumidores e da indústria.

BE – Você já comentou em entrevistas que pinta diariamente. O que as artes plásticas significam na sua vida pessoal e profissional?

Zanini de Zanine – A relação com meus pais tem sido significativa desde cedo, e talvez eu só esteja conseguindo dimensionar agora. Ela vai além de simples objetos, produtos, mobiliários, expressa de forma única através da pintura e do desenho, que oferecem um vocabulário emocional e simbólico.

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