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MUSEU DO SILVA: LEGADO E INSPIRAÇÃO

CulturaMUSEU DO SILVA: LEGADO E INSPIRAÇÃO
O Museu de Arte Primitivista “José Antônio da Silva” reúne obras que consolidaram o artista como uma referência importante na arte moderna

Sobre o autor

A revista Bem-Estar inicia uma série de reportagens sobre os museus de São José do Rio Preto, revelando o rico patrimônio cultural da cidade. A programação incluirá o Museu Histórico e Pedagógico D. João VI, a Pinacoteca Municipal, a Sala Cascatinha e Inhana, o MAN - Museu de Arte Naïf, e o MIS - Museu da Imagem e do Som. A jornada cultural começa pelo Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva, conhecido como Museu do Silva, um verdadeiro tesouro da arte naïf que preserva e celebra o legado deste grande artista.

Inaugurado em 1980, o Museu de Arte Primitivista "José Antônio da Silva" (MAP), conhecido popularmente como Museu do Silva, reúne obras do pintor, escritor, desenhista, escultor e repentista José Antônio da Silva, que faleceu em 1996. O acervo do museu inclui 67 telas a óleo, além de esculturas, desenhos e gravuras. Também estão expostos os cinco livros autobiográficos do artista autodidata: Romance de Minha Vida (1949), Maria Clara (1970), Alice (1972), Sou Pintor Sou Poeta (1982) e Fazenda Boa Esperança (1987). Além dessas obras, o museu disponibiliza uma ampla bibliografia sobre Silva, bem como fotografias, filmes e recortes de jornais e revistas que documentam sua vida e a história do museu.

Reconhecido como um dos mais importantes artistas primitivistas com fama internacional, José Antônio da Silva nasceu em Sales Oliveira, uma pequena cidade no interior de São Paulo, em 1906. De origem humilde, filho de meeiros e criado na roça, Silva passou grande parte de sua vida trabalhando no campo. Começou a desenhar ainda na infância, e a simplicidade do cotidiano rural tornou-se a principal inspiração para sua arte, que retrata a vida caipira.

Ainda jovem, Silva se mudou para Rio Preto, onde continuou a trabalhar em sítios e fazendas da região para sustentar sua família. Durante esse período, começou a desenvolver sua carreira artística, mesmo atuando como carroceiro e guarda-noturno. Sua trajetória no mundo da arte ganhou destaque em 1946, quando participou do concurso de inauguração da Casa de Cultura de Rio Preto. Suas obras chamaram a atenção dos jurados Lourival Gomes Machado, Paulo Mendes de Almeida e João Cruz Costa, que lhe concederam o primeiro prêmio. No entanto, devido à simplicidade de sua apresentação, sua classificação foi posteriormente rebaixada para o quarto lugar.

Em 1948, Silva realizou sua primeira exposição individual na recém-inaugurada Galeria Domus, em São Paulo. Em 1951, participou da 1ª Bienal Internacional de Arte na capital paulista. Naquela época, o artista já possuía um extenso acervo de pinturas, que mais tarde se tornaria a base para a criação do Museu de Arte da cidade e o consolidaria como um importante referencial para a arte moderna.

“Silva foi o primeiro artistas naïf a compor o seleto acervo do MASP. Participou da Bienal de Veneza, em 1952, expôs em vários outros países, inúmeras exposições no Brasil e bienais de São Paulo. Apesar de rústico, ele exerceu um papel fundamental nas artes. Criticado e desprezado pelos artistas e sociedade local, sua personalidade turrona e inquieta fortaleceu ainda mais a busca para que o mundo despertasse para o reconhecimento de sua preciosa arte. Não demorou muito, ele conquistou o mundo”, destaca o coordenador do “Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva”, Carlos Bachi.

Segundo Bachi, a busca de Silva pelo tão sonhado espaço na literatura cultural não precisava mais tanto esforço. Suas obras, que capturam a beleza dos campos rurais, o tornaram um artista à frente de seu tempo, enfrentando críticas, protestos e contestamentos sem jamais perder a exuberância de sua arte. “Somos privilegiados por ter, em Rio Preto, a evolução dos pensamentos do excêntrico, genial e admirável universo criativo de Silva, com seus traços inconfundíveis e cores vibrantes, para contemplarmos este patrimônio riquíssimo e encantador. O ‘Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva’ é uma referência obrigatória para os apreciadores e admiradores da boa arte.”

Serviços:

Museu de Arte Primitivista ‘José

  • Antônio da Silva’ – Museu do Silva
    Entrada: Gratuita

  • Horários de Funcionamento:
    Segunda a Sexta-feira: 8h às 17h

  • Horários Agendados:
    Segunda a Sexta-feira: 19h às 22h
    Sábados e Domingos: 8h às 18h


Endereço: Rua Voluntários de São Paulo, 3491 Centro

Telefone: (17) 3212-9152

Luta por reconhecimento

O crítico de arte, professor, pesquisador, escritor e jornalista Romildo Sant’Anna, que dirigiu o MAP nos períodos de 1980 -1985, 2000 - 2003 e 2012 - 2019, revela que José Antônio da Silva pretendia criar o Museu de Arte Primitivista 'José Antônio da Silva' em São Paulo, onde vivia na época. Contudo, em 1979, Sant’Anna conseguiu convencê-lo a doar suas obras para Rio Preto, sob a condição de que ele assumisse a direção do museu. Sant’Anna aceitou a proposta, foi à capital para buscar as obras e as manteve em sua casa até a inauguração do MAP, em 19 de julho de 1980.

Sant’Anna dirigiu o museu por cinco anos, de forma voluntária e sem remuneração. Em 2000, reinaugurou o MAP, que estava desativado e com as obras armazenadas nos porões do Teatro Municipal. Em 2012, retornou à curadoria do MAP, reestruturando o museu e permanecendo no cargo até 2019. Para ele, o Museu do Silva nunca recebeu o apoio adequado da Prefeitura e foi especialmente negligenciado pela atual Secretaria Municipal de Cultura. Sua esperança é de que o próximo prefeito demonstre mais responsabilidade em relação ao museu.

“As pinturas do Silva no MAP constituem-se no maior patrimônio artístico que Rio Preto possui. Suas pinturas participam do acervo dos mais importantes Museus nacionais e alguns fora do país, como o MoMA - Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Silva foi duas vezes ‘Sala Especial’ na Bienal de Veneza, a mais tradicional do mundo. Isto já basta para se reconhecer o valor das obras que o artista deixou para a cidade. Mas, infelizmente, por ignorância e desapreço, a cidade que o viu nascer como artista se recusa a reconhecê-lo. Quem perde e fica constrangida é a população de Rio Preto”, pontua Sant’Anna.

“Todo o acervo do MAP foi doado pelo Silva para a fundação do Museu, o que já faz da coleção única e de valor incalculável”, destaca o servidor público Arthur Merlotti, que atuou na direção do museu após a saída de Romildo Sant’Anna em 2020. Entre os destaques estão as paisagens agropastoris, que refletem o cenário rural que marcou a vida do artista por anos, e a coleção “Histórias de Rio Preto”, uma série de quadros pintados entre 1966 e 1972, nos quais Silva retrata cenas históricas importantes da cidade.

“Conhecer um museu é conhecer boa parte de nossas origens, jeitos e costumes. É conhecer nossas comidas, roupas, músicas, rituais. Um museu é um lugar de inspiração, onde aprendemos sobre nossas raízes e semeamos o amanhã. Assim, ao preservar o trabalho artístico de um dos maiores pintores do Brasil, mantemos a cidade viva culturalmente e encontramos, em um só lugar, recordações, ensinamentos e memórias que nos formaram e continuarão a formar pessoas”, afirma Merlotti.

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