BONITEZAS
Raciocínio, emotividade, intuição, pensamento lógico, superstições... são luzes acesas nos corações e mentes dos humanos. Balizam nossas escolhas. Em eras remotas, indagações sobre o estar no mundo eram respondidas de modo fatalista e tendo-se como parâmetro o “milagre da existência”. Os fenômenos naturais eram explicados como assentimentos do além.
Somada à nossa relação ancestral com o “outro mundo”, outra de nossas distinções primárias é a predileção pelas coisas belas, bonitas. E não há nada de errado gostarmos mais de uma coisa que de outra, nem constitui heresia acharmos mais bonita uma donzela de Botticelli que a Gioconda. Gosto não se discute! Nos palcos da história, os humanos sinalizam preferências, muitas delas baseadas em ideais de beleza. Quase sempre, a partir da superfície (o parecer), visionamos a graça interior das pessoas (o ser), e por elas nascem os afetos, amores. Assim, achamos bonita ou bonito a nossa “cara-metade” e traçamos com ela descendências, espargimos nossa linhagem.
Entre os bichos, como os casais se atraem? Que “sentidos de beleza” prevalecem na eleição de um parceiro ou parceira para a reprodução, preservação da espécie? Um exemplo são os feromônios sexuais exalados pelas fêmeas de muitos animais durante o cio. A descoberta de um composto liberado pelas fêmeas do bicho-da-seda rendeu ao bioquímico alemão Adolf Butenandt o prêmio Nobel de Química, em 1939. Em tempos recentes descobriu-se que esse “perfume da fêmea” pode transpor quilômetros até alcançar um macho. E ele, inebriado, faz a trilha química de volta até encontrar sua consorte.
Repetimos: Que “sentidos de beleza” perpassam a vida dos bichos e interferem na escolha dos parceiros sexuais? Em muitas espécies, as fêmeas elegem os machos por estratégias que eles exibem durante a corte. Quem nunca viu o espetáculo de uma “dança do acasalamento”? Plumagens coloridas, o canto mais harmonioso, a força física e a agressividade são diferenciais que influenciam na escolha e futuro da prole. São sentidas como marcas de qualidade genética e, no “saber” e perspectivas das fêmeas, garantem genes melhores a seus filhos. Estudos do biólogo evolucionista israelense Amotz Zahavi sugeriram que a plumagem chamativa de um macho adulto seria uma “prova” de que ele tem mais potencial de vida (extensível aos filhos dela), pois resistiu aos perigos da predação.
A ideia de bonito é um conjunto de fatores cognitivos, sensório-emocionais, histórias de vida. Não há uma zona de limite que determina onde cessa a feiura e começa a boniteza. Tampouco sobre onde termina o bonito e começa o lindo. Nos seres humanos, além da escolha pelos “sentidos de beleza”, quesitos econômicos, de status, normas sociais e outras conveniências interferem naquilo que se denomina como “os casamentos”. Você já viu o retrato de um Dragão-de-komodo? Aos nossos olhos, é um rastejante asqueroso, enorme, desgrenhado, tão primitivo que faz lembrar um fóssil vivo. No entanto, procria, sobrevive. É que, além das bonitezas como fatores de apreço nas mentes humanas, energias naturais cingem todos os viventes. E os interligam, gentes e bichos, à força suprema: A perfeita harmonia da mãe natureza.